Estamos testando o site, e não você, ok? | Foto de Drew Hays no Unsplash

Como fazemos testes de usabilidade em apenas 1 dia na DogHero?

Fabio Michelan
DogHero Brasil
Published in
7 min readApr 1, 2019

--

Na DogHero, um dos desafios que enfrentamos é encaixar testes de usabilidade em nossas Sprints. Elas levam duas semanas, mas além dos testes, rodamos outras iniciativas e desenvolvimentos em paralelo.

Por natureza, testes costumam demorar um pouco, seja na criação do roteiro, no recrutamento de pessoas, na aplicação ou na consolidação das informações. Mas isso não é impeditivo para deixarmos de conversar com nosso usuário final.

Uma das técnicas que utilizamos é o modelo de Teste de Guerrilha. Em suma, a ideia é ir à um local público, e testar seu protótipo com poucas pessoas para validar rapidamente uma solução ou entender mais sobre um problema. Uma prática econômica e muito ágil. Aproveitamos este conceito, e decidimos definir um timebox para a prática do teste. Não apenas para aplicar o teste em si, mas para o processo como um todo, desde a definição dos objetivos, passando pela criação do protótipo até a apresentação final dos resultados para o time.

Foi então que desenvolvemos um modelo que pode ser aplicado em apenas 1 dia. E como fazemos isso?

Modelo de roteiro utilizado na DogHero

1. Definição dos objetivos do teste

Seja para um teste de Guerrilha, ou para um teste de usabilidade tradicional, a primeira etapa é a definição dos objetivos. O que queremos aprender no teste, ou o que estamos validando?

Listamos os objetivos. Eles irão nortear tanto a criação das tarefas, quanto o teste em si.

É comum perder de vista os objetivos principais, especialmente quando, durante um teste, um usuário começa a divagar e trazer outros insights para a mesa. Por isso, em nosso próprio modelo de roteiro, deixamos essa informação sempre em destaque.

2. Criação do roteiro

Após definirmos os objetivos, a pergunta que fazemos é: como montar um roteiro de tarefas para chegar aos objetivos propostos?

“Para chegar ao objetivo 1, a tarefa deveria ser…”

Vamos costurando as tarefas para que possamos cobrir todos os objetivos. Pode ser uma tarefa de início ao fim. Podem ser várias tarefas quebradas. Não importa. O importante é atender a todos os objetivos.

Dentro de cada tarefa, listamos então sub objetivos. E para cada um deles, um guia que usamos para observar ou perguntar informações importantes.

Este roteiro não pode ser longo. Num teste como esse, procuramos manter o formato total em uns 15 minutos para cada participante.

3. Montagem do protótipo

Escolhemos então o tipo de protótipo a ser montado. Baixa, média ou alta fidelidade. Normalmente, trabalhamos com protótipos de média a alta fidelidade, pois utilizamos o Slinky, nosso Design System, para montar telas rapidamente.

As telas são feitas em Sketch, e os protótipos em InVision, conforme exemplo abaixo.

4. Pré-teste

Com objetivos definidos, roteiro e protótipos prontos, fazemos um piloto interno para validar o teste.

Importante: faça o pré-teste com pessoas de áreas que estão mais distantes de Produto e Design. Pessoas que não lidam no dia a dia com o produto.

A ideia não é ter as respostas para o teste, mas sim validar o teste em si, verificar se o protótipo está adequado, se as tarefas conduzem a um entendimento dos objetivos.

5. Ir à campo e entrevistar 5 pessoas

Com o protótipo pronto e o roteiro em mãos, vamos à campo em duas pessoas. Uma para aplicar o teste, e outra para ficar responsável por anotar as respostas e insights de cada participante (levamos prancheta, papel e caneta).

Por aqui, escolhemos locais em que nosso público pode estar presente. Lojas de petshop, bairros com alta concentração de passeadores de rua, parques com cachorródromos, entre outros.

Joaquim e Kadu Pires | Foto de Simone Bertuzzi

Esqueça o recrutamento prévio. A ideia é abordar as pessoas onde estiverem. O público vai variar bastante. Provavelmente, a maioria das pessoas nunca terá usado seu produto antes. E isso não é necessariamente ruim (desde que, é claro, seu teste não dependa de usuários específicos).

Duas coisas são sensíveis numa abordagem para um teste como esse: o tempo da pessoa, e o contexto.

Procure por pessoas que não estejam com pressa. Aborde a pessoa, pergunte se ela tem tempo para responder algumas perguntas, se apresente, explique a tarefa e comunique sobre a recompensa.

Importante: grave o áudio do teste, pois além de documentar o processo, isso pode ser útil caso precise consultar algo que alguém disse durante os testes. Em nosso caso, usamos o próprio gravador do celular, e depois passamos os áudios para nosso Drive.

Quanto ao número de pessoas participantes, segundo estudo de Jakob Nielsen, o ideal são cinco. Com cinco pessoas, você já terá uma ideia de 85% dos principais problemas de sua solução. Com a primeira pessoa, você aprende muito. Com a segunda, um pouco menos, e assim por diante.

“Elaborate usability tests are a waste of resources. The best results come from testing no more than 5 users and running as many small tests as you can afford.”

— Jakob Nielsen

Há apenas um cenário em que estendemos o número de participantes: no caso de percebermos que as 5 pessoas não foram suficientes para encontrarmos padrões de resposta. Isso tem muito a ver com o perfil das pessoas. Quanto mais similares forem seus perfis, menos testes serão necessários. De qualquer forma, mesmo quando precisamos aumentar o número de respostas, nunca passamos de 10 pessoas.

6. Passar a limpo e ordenar as ideias

Após finalizar os testes presenciais, voltamos para o escritório e passamos a limpo as conversas do teste. Na DogHero, usamos um framework para registrar os testes de usabilidade.

Framework usado nos testes de usabilidade

Neste framework, dividimos cada tela de uma UI numa coluna, e procuramos responder:

  • Experiência: como os usuários se sentiram em cada etapa do teste. Classificamos em Muito satisfatória 😃, Satisfatória 🙂, Neutra 😐, Ruim 🙁 e Muito Ruim 😰.
  • Aprendizados: Listamos todas as observações recorrentes que aparecem durante o teste. Classificamos essas observações em aprendizados Positivos ✅, Neutros 🔶 e Negativos ⛔️.
  • Recomendações: Aqui já incluímos sugestões de melhoria do ponto de vista de experiência. Como poderíamos melhorar uma experiência negativa? Uma experiência neutra? Como explorar melhor uma experiência positiva?

Além disso, ainda respondemos:

  • Taxa de sucesso nas tarefas: quantas pessoas completaram sobre quantas pessoas não completaram cada tarefa.
  • Escala de dificuldade da tarefa: pedimos para cada participante responder ao final do teste uma nota, numa escala de 1 a 5, em que 1 significa muito difícil, e 5 muito fácil.

Para saber mais sobre técnicas de mensuração em testes de usabilidade, veja este post da pesquisa divulgada pela Testr.

7. Apresentar a solução e definir o que será priorizado

Após o processo de preencher o framework com as informações obtidas em campo, conversamos com o time para definir quais recomendações deverão entrar em produção. Neste ponto, abrimos uma nova linha no arquivo, com o nome Conclusões, e classificamos entre features que iremos manter, e features que iremos iterar.

Feito. A partir daqui, os testes já foram feitos, os resultados documentados, e as tarefas definidas. Em pouco tempo, a pesquisa foi finalizada, e servirá para atender a Sprint sem atrasá-la.

Corrigimos os maiores problemas, e se possível, testamos novamente com um novo protótipo. Não estamos buscando, com esses testes, criar um produto perfeito, mas sim melhorar os principais pontos observados. É importante também tentar resolver apenas os problemas relacionados ao teste, e não novos problemas que irão aparecer durante as conversas.

Quando NÃO usar esse processo para um teste de usabilidade?

Claro que a resposta é depende, mas de forma geral, evitamos este tipo de teste quando precisamos testar fluxos mais complexos, ou quando precisamos testar com um recorte de público específico.

Desculpe, mas precisamos falar com um Labrador… | Foto de Marcus Wallis no Unsplash

Para os casos em que percebemos que este modelo não irá funcionar, acabamos trabalhando com outros métodos. O principal deles, testes de usabilidade em laboratório com recrutamento do público selecionado.

Ainda assim, o teste serve, em última instância, como uma forma de levar nosso time de Designers para conversar com nosso público de forma contínua e constante, e gerar novos insights para o produto.

Obrigado pela leitura!

E aí, gostou do texto? Adoraríamos saber sua opinião sobre o que foi escrito por aqui. Deixe seu comentário e siga a DogHero no Medium para acompanhar as próximas publicações! 🐶

Gostaria de trabalhar com a gente? Confira nossas vagas abertas.

--

--

Fabio Michelan
DogHero Brasil

Design & Innovation Lead at Google, Founder at DesignerTrack, Mentor at ADPList and UX Certified by NN/g