Pode ter sido a terapia. Eu era muito diferente antes de começar a fazer as sessões com a Clara. Ela até comentou outro dia: Nossa, no começo você nem me olhava direito quando falava comigo. Talvez foram aqueles meses de meditação que pratiquei, quem sabe? Mas não sei se pode ser possível pois toda vez que sentei pra meditar só pensava em que horas aquilo ia terminar. Ok, tinha dias que era bom mas na maioria eram os mais longos 15 minutos de todos. Será que foi aquela dieta vegetariana que fiz durante todo o ano de 2016? Só sei que de duas uma: ou foi aquela internação de 2015, que fiquei 1 semana no hospital por conta daquela pedra nos rins ou foi aquela viagem pra praia com meus amigos em 2014.
Alguma coisa me mudou. Tenho certeza! Reparei esses dias que algumas coisas que fazia no automático já não faço mais. Às vezes a gente acha que vai amadurecer e modificar o modo de encarar as coisas apenas após os grandes acontecimentos da vida como se formar na faculdade, ter um filho, casar… Mas aí você percebe que é fazendo algo banal do cotidiano que a gente se da conta do quanto a gente andou, quando se pega negociando um trabalho, indo resolver problemas na prefeitura ou só encarando de uma forma diferente uma discussão que antes pareceria o fim do mundo.
Tem horas que parece que bate uma saudade do seu antigo eu, aquela vontade de agir da mesma forma de antes… Pra matar a saudade algumas vezes você vai lá e faz tudo igual e quando tá no meio da ação, prestes a receber os aplausos pela performance que você já está acostumado a fazer há 30 e poucas temporadas, percebe que não faz mais o menor sentido aquele texto. Que ele envelheceu e esse papel já não te cabe mais. Ele seria melhor encenado por um ator novo desses que acabaram de sair da Malhação.
É hora de encarar essa nova temporada e se dar conta de que sua novelinha do final da tarde virou horário nobre da emissora. Tem dramas mais complexos, relacionamentos mais profundos, locações com mais verba e cenários com melhor acabamento… Só aquela cena de briga que os protagonistas saem no tapa no meio da trama que eu tô negociando com o diretor. Não vejo meu personagem agindo dessa forma. Quem me acompanha desde o começo da carreira não vai entender nada. O público não vai comprar.
Mas aí, no intervalo de uma gravação e outra, você sai um pouco do personagem, vai para seu camarim e relembra de todos os fatos marcantes que fizeram parte da história que você contou para o público. Foi uma trama bem contada e tudo acaba fazendo muito sentido. Seu personagem está mais maduro, conseguindo encarar cenas mais profundas e passando mais verdade para os telespectadores. O repórter chega e já é hora da última entrevista do dia. Estreia é assim mesmo.
-O que você acha que vai mudar na sua carreira agora que vai estrear no horário nobre?
-Olha, o que vai mudar eu ainda não sei porque a gente só vai saber quando for ao ar. Novela é uma obra aberta então a gente vai construindo dia a dia. Mas eu espero que o público goste desse personagem. Não é muito diferente do anterior na verdade pois é uma continuação daquela história. A gente fez só umas adaptações no texto, incluiu alguns personagens novos. Acho que o pessoal vai curtir!
Se o pessoal vai curtir ou não, pouco importa. O que eu posso te desejar é boa sorte nessa nova fase da sua vida. Fomos muito felizes até aqui. Sentirei saudades. Merda!
