O amor não cabe em uma carta
Mauro,
Pensei muito antes de lhe escrever, quis evitar ser redundante no afeto que lhe dediquei ao vivo. A poesia das coisas não está em embelezar palavras, mas sim em encontrar nelas formas de transmitir os sentimentos.
Não há nada mais que eu possa lhe dizer que ainda não tenha sido dito. Todos os elogios possíveis à sua pessoa, eu fiz. Todas as demonstrações de carinho, te dei. Todas as saudades, senti.
É difícil encontrar palavras quando só tenho na mente o mar de seus olhos, que me acalmam como o quebrar das ondas. Mesmo à distância, toda vez que me concentro em qualquer memória sua, sinto cada fio de meu corpo eriçar. Sim, Mauro, este é o poder que você ainda exerce sobre mim.
Peço desculpas pelo tempo que tentei afastá-lo de minha mente. Não foi intencional, juro. Foi a forma que encontrei de me proteger. Tudo em vão, e eu já sabia, mas o fardo pesou e fraquejei. Hoje me arrependo de ter tentado parar de amá-lo. Você sempre foi o mais forte, não nego. Por vezes senti-me sombra em seu caminho, ora ofuscado pelo seu Sol, ora projetado sob seus pés.
Essa sensação de orbitar ao seu redor foi o ímpeto que faltava para deixá-lo. Hoje vejo que foi perda de tempo. Você nunca esteve sobre ou abaixo de mim, mas sim ao meu lado. Demorei anos para perceber isso, e agora é tarde.
Deveria ter posto minha ignorância e preconceito de lado para amá-lo como merecia. O pouco tempo que tivemos juntos, antes de eu fugir e deixar as vozes de fora entrarem em minha cabeça, nunca mais foi preenchido. Agora que encontrei seu túmulo, nem mesmo as lágrimas ousam derramar. Elas fogem de um covarde como eu.
Nada mais do que lhe disser aqui servirá para remediar o que passou. O vazio em meu peito só será preenchido outra vez quando eu me for e estiver ao seu lado. Espero que seja breve, pois meu único desejo durante todos esses anos sempre foi reencontrá-lo e assumir a todos que sempre fomos um.
A você, e somente a você, todo o meu amor.
Lopes
