Soon It’s Gonna Rain ou Reflexões de uma Manhã Nublada

João Melo
Revista Dona Custódia
2 min readAug 25, 2017

Eu sempre gostei de chuva. Garoa, toró, torrente, seja qual for o nome. Não lembro da minha primeira chuva, não lembro da última, mas lembro da alegria que sinto ao sentir os cheiros, ouvir os sons, ver as cores.

Lembro de uma vez quando, bem pequeno, olhando o céu nublado, “bonito pra chover”, segundos depois, senti a chuva molhar-me a pele. Foi tão rápida! Lembro de várias outras vezes, tomando banho na rua, sentir a alma e qualquer preocupação ser lavada de mim. Até porque quem poderia se preocupar tomando um banho puro assim?

Talvez por ter nascido em dias de Carnaval, no meio do nosso tão brasileiro verão, eu tenha mais afinidade com a água, apesar de não ser tão fã das carnavalescas e tradicionais praias nem de rios, lagos e, às vezes, nem das pequenas poças de fim de chuva. Esse ano, meu 19º aniversário foi abençoado por uma chuva de fim de tarde, que equilibrou o calor daquela manhã. Foi o melhor presente que eu poderia ter ganhado. Marcou o fim de um ciclo e o início de outro, um novo ano, um novo ‘eu’.

Refletindo agora, percebo que para uns, a chuva é a resposta de um misericordioso Deus às preces de seus fiéis. Para outros, é algo que sempre acontece em todas as estações, como sempre aconteceu e sempre acontecerá. Para mim, é parte do ciclo. Do ciclo que é viver no sertão. Da batalha eterna contra a seca e da recompensa que mais cedo ou mais tarde chega. Da sensação gostosa de estar embaixo de uma cachoeira que nasce do infinito e lava nossas almas e nossa tão sofrida terra.

É disso que eu me lembro. É com isso que me acostumei. Da chuva que me lembra de infância, do meu lar, do verde das plantações, do cinza dos céus, do friozinho gostoso, de acordar tarde e sem preocupações, de dormir ouvindo o vento e os pingos, do “bonito pra chover” antes e dos depois de espera, de ânsias e de pedidos. De dias melhores.

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