A superação por trás das vendas ambulantes
Deficiência visual não foi obstáculo para a família Mello, que veio para o Rio Grande do Sul em busca de estudo qualificado e melhores condições de vida.
Miguel e a Lúcia de Mello são deficientes visuais e têm duas filhas, Rute e Mirian, ambas com a mesma deficiência. O casal é catarinense e vive em São Leopoldo há mais de duas décadas.
Miguel trabalhava em uma empresa de embalagens em Herval do Oeste, em Santa Catarina, e fazia trabalhos esporádicos como massoterapeuta. As filhas ainda pequenas, iniciando nas séries de alfabetização, estavam enfrentando dificuldade de aprendizagem no colégio. Miguel explica a dificuldade que foi inseri-las em um colégio sem nenhum preparo para atendê-las. “Há 20 anos não se falava muito em inclusão de crianças com algum tipo de deficiência em escolas estaduais ou municipais e não havia professores qualificados para atender essa demanda”, afirma ao rememorar os tempos em que, ao lado da esposa, ensinava os professores a lidar com suas filhas.
Em meio ao cenário de preocupação com a educação das meninas, Miguel e a esposa decidiram se mudar para São Leopoldo em 1994 para matriculá-las em um colégio interno mais preparado para atender a esse tipo de demanda específica.
Miguel chegou ao Rio Grande do Sul com o propósito de seguir com o trabalho de massoterapia na Sociedade Orpheu, em São Leopoldo. Porém, logo que chegaram na cidade, o clube foi atingido por incêndio exatamente no local onde ficavam as saunas e macas para a realização dos serviços de massoterapia. O incidente obrigou Miguel a se reinventar e pensar em novos projetos para sustentar a família.
Desde então, ele e a esposa começaram a vender cartões de natal na rua Independência. Rute e Mirian vinham para casa aos finais de semana para ajudar os pais no pequeno comércio. Com o passar do tempo, Miguel precisou renovar os produtos comercializados com o objetivo de atender às exigências dos clientes.
Miguel e Mirian lembram dos períodos de dificuldades enfrentados nas ruas de São Leopoldo, quando eram impedidos de trabalhar por fiscais da prefeitura que, constantemente, confiscavam os seus produtos. “Eu e a minha esposa ficávamos com as sacolas dos produtos no meio das pernas. Dessa maneira a gente conseguia ter a segurança de que os produtos não iriam ser roubados”, comenta Miguel. Além disso, segundo ele, quando as meninas estavam trabalhando com o casal e a vigilância chegasse para tirar seus produtos, o papel delas era gritar para o povo da rua ajudar, pois a vigilância não estava os deixando trabalhar. Desta forma, conseguiam driblar a vigilância no início.
Com o passar dos anos, Miguel conseguiu a liberação para comercializar os seus produtos em frente à Ferragem Feldmann, local onde segue em atividade até hoje trabalhando das 9h às 17h de segunda a sexta. Dependendo da estação do ano, Miguel modifica as mercadorias para melhor atender aos clientes. No inverno, por exemplo, mantém em sua banquinha luvas, cachecol, meias, meia calça, toucas e afins para driblar o frio. Ele mesmo é quem faz as compras para a banca, quando levanta às 5h30 para ir até Porto Alegre de trem e ônibus buscar as mercadorias para voltar a São Leopoldo antes das 9h, horário em que já está posicionado na rua mais movimentada da cidade.
Miguel conta como é o dia a dia na banca, como faz para não ser furtado e também nos mostra como faz para identificar as cédulas de dinheiro. Tudo isso e muito mais dessa história de superação e amor você confere na nossa entrevista a seguir: