Entre farda e viaturas, muitas histórias

A rotina de um agente que atua em rodovias federais há 24 anos

Donos da Rua
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4 min readJun 6, 2018

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Marco de Brito realizando fiscalização na BR-116 em São Leopoldo. Imagem: (Helen Appelt)

Por Helen Appelt e Ivan Júnior

Fundada em 24 de julho de 1928, pelo então presidente Washington Luiz, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) está presente em todo o território nacional. Atuando nas rodovias federais e nas áreas de interesse da união, o serviço prestado pelo órgão de segurança pública não se restringe apenas à fiscalização de trânsito. As atribuições da PRF são diversas e incluem o Policiamento Ostensivo nas estradas do país, com o combate ao tráfico de drogas, armas, pessoas e a crimes ambientais, a roubos e furtos de veículos e cargas; e ações de educação para o trânsito.

Organizada em 27 superintendências — uma em cada Estado –, a PRF tem o apoio de 150 Subunidades Administrativas e 413 Unidades operacionais, totalizando mais de 550 pontos de atendimento em todo o Brasil. O trabalho desenvolvido pela polícia é visível quando se trafega por alguma rodovia federal. Para contextualizar um pouco da realidade vivida pelos agentes, entrevistamos o Policial Rodoviário Federal Marco de Brito, integrante da equipe que compõe a delegacia da BR 116, em São Leopoldo.

Marco exerce sua função no poder de segurança pública há 24 anos. “É importante a gente dizer que é um trabalho diferenciado, pois as pessoas não têm muita noção de como funciona o trabalho de um policial, que geralmente trabalha sob o regime de escalas”, frisou. O serviço de escalas funciona a partir do regime 24x72 horas, o que significa que o agente trabalha 24 horas corridas e folga 72 horas até o seu próximo plantão. Uma rotina exaustiva e sem aviso prévio dos acontecimentos do dia. “Ninguém prevê que vai haver um acidente. Mas quando menos se espera, o telefone toca ou um usuário aparece e avisa que teve um acidente na rodovia”.

Quando fizemos a entrevista, em 10 de maio, o dia de Marco iniciou às 7h da manhã, com uma ação que demandou duas equipes, tendo em vista a complexidade do trabalho na rodovia. Posteriormente, o agente participou das atividades de educação desenvolvidas pela PRF em escolas municipais em Dois Irmãos. “Acreditamos que através da educação podemos melhorar nosso trânsito. E por elas cobrarem dos pais é automático o resultado”, ilustra.

Histórias não faltam. Cada dia é uma oportunidade para histórias dignas de séries com a temática policial. Para contextualizar, Marco lembra de uma ocorrência feita durante a madrugada, quando participou do atendimento de uma ocorrência.

“A gente encontrou um cidadão bêbado e o seu veículo à margem da rodovia. Tiramos o veículo, que já estava fora da pista e o cidadão do interior do carro. Fizemos os procedimentos em relação à multa, recolhimento da CNH e do veículo. Como era 4h da madrugada, perguntei se ele tinha como ligar para alguém vir buscá-lo. Ao responder que tinha, pedi que ligasse. Mesmo sem um celular em mãos, ele olhou para a mão e começou a discar, colocou na orelha e ficou por uns 15 segundos, como se estivesse discando para casa. Depois abaixou a mão e disse que ninguém atendeu”.

Para o agente, o relato é um exemplo cômico, mas representa uma prévia da gravidade de juntar álcool e direção, fazendo as pessoas perderem o senso. “Essa é uma parte até engraçada, mas a gente já pegou muitas histórias tristes, com acidentes, mortes, que deixaram familiares destruídos”, lamenta.

A experiência do PRF Marco de Brito vai além do atendimento a segurança pública. Imagem: Helen Appelt

A atuação da Polícia Rodoviária Federal, além de abranger a área do trânsito e do crime, também se estende para a saúde pública. Conforme a PRF, 130 mil veículos circulam diariamente de Porto Alegre a Novo Hamburgo na BR-116 e nos horários de maior fluxo o trânsito na rodovia fica lento. Em dias assim, é solicitado à PRF auxílio para questões médicas, como na condução de uma ambulância até um hospital ou para o transporte de um órgão transportado. “Somos chamado quando alguém está sendo levado para o hospital ou mesmo quando um órgão está sendo levado para Porto Alegre e tem horário para isso (chegar ao destino). Eles sabem que com a ambulância não vão chegar no horário e vai se perder uma vida. Nos acionam e a gente faz a escolta desses veículos. É bacana quando conseguimos chegar de forma segura até o local e ver que nosso trabalho deu resultado”, se orgulha.

Com uma rotina na qual não se tem previsibilidade, tendo a rua como local de suas atividades, uma situação comum na vida de um policial é sair de sua casa sem a certeza de como será seu expediente. Por insegurança, a grande maioria dos agentes não conversa sobre sua rotina com a família, numa tentativa de diminuir a sensação de insegurança. “Tu tem que passar a maior tranquilidade possível para a família. Já tivemos casos de policiais que morreram em confronto e atropelados na pista”, observa Marco.

Normalmente, em períodos que se registra um número maior de acidentes, como nas confraternizações do final de ano, os agentes serem deslocados para outras regiões. Nesse período, o policial rodoviário relata que acaba ajudando a população, contudo, fica longe da família deixando-a desassistida. “Em datas importantes a gente estar longe de casa trabalhando: natal, ano novo, páscoa, aniversário de filho, de casamento. O que faz parte das nossas atribuições, pois quando aceitamos esta missão, sabíamos que isso ocorreria”, justifica. Essas são breves e desconhecidas partes de histórias de quem passa a maior parte de seu tempo na rua.

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