Refeição solidária ameniza o sofrimento de pessoas em situação de rua

Projeto distribui sanduíches e agasalhos em São Leopoldo e Sapucaia do Sul

Donos da Rua
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4 min readJun 27, 2018

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Pessoas em situação de rua recebem sanduíches em cafés na Praça Central em Sapucaia do Sul. (Imagem: Thais Ramirez)

Por Aniele Cerutti e Thais Ramirez

Nos dias frios, muitas pessoas ao chegarem em casa têm uma refeição quente e abrigo, mas essa não é a realidade de todos. Pessoas passam, às vezes, o dia sem ingerir nenhum alimento e ao relento sem receber atenção do governo ou de ONGs, como se fossem invisíveis. Dedicados a pessoas em situação de rua, há 14 anos o projeto “Caminhada”, vinculado a uma casa espírita, doa roupas, cobertores e realiza trabalhos voluntários nas vilas de São Leopoldo e Sapucaia do Sul.

Em 2012, surgiu o “Ronda”, ação do projeto que distribui sanduíches e café para moradores de rua das 22h15 às 23h30, ou até durarem os alimentos. Duas equipes formadas por cerca de cinco pessoas distribuem os sanduíches todas as quintas, contribuindo para acalentar as pessoas que não possuem condições de comprar uma alimentos.

Segundo o coordenador do projeto, Alexius Bitencourt, a ação serve para atenuar a vida dos moradores em situação de rua. “O trabalho não é para resolver e nem temos essa pretensão. É apenas para amenizar o sofrimento deles”, afirma.

Para a diretora assistencial, Miriam Bitencourt, é gratificante saber que naquela noite o grupo aqueceu alguém com um copo de café e que os beneficiados pelo projeto não dormirão de estômago vazio.

Além dos sanduíches, sucos e café também são distribuídos agasalhos. (Imagem: Thais Ramirez)

São produzidos aproximadamente 270 sanduíches por noite com a ajuda de 10 voluntários divididos entre as duas cidades. Antes da distribuição dos alimentos, os voluntários são aconselhados a não realizarem julgamentos ou críticas aos moradores em situação de rua. “Cada um que está na rua fez a sua escolha na vida e respeitamos essas escolhas. Quando eles confiam no nosso trabalho começam a contar as suas histórias e são histórias surpreendentes”, salienta Miriam.

Junto com o lanche, o grupo de voluntários doa cobertores e roupas para os moradores em situação de rua presentes na noite da distribuição. Miriam conta que muitos moradores vêm em busca de cobertores toda a semana. “Como se locomovem muito, eles não têm onde lavar seus pertences e, às vezes, são até furtados. Esses produtos acabam se tornando descartáveis”, destaca.

As roupas e cobertores são arrecadadas para a distribuição a partir do auxílio de quem se solidariza com o projeto e doa o que não utiliza mais. O projeto também conta com o dinheiro doado, além de ações específicas como a promoção de feijoadas, festas juninas e jantares. Os valores arrecadados são revertidos para a compra de alimentos, o que mantém o projeto ativo. Um dos voluntários, Luís Rodrigues, considera a sua participação no projeto uma grande aprendizagem. “É gratificante ver o quanto o morador se sente importante num ato que para nós é simples, comer um pão. Às vezes chegamos lá à noite e é a primeira refeição deles”, afirma Rodrigues.

Inverno começa com solidariedade em Sapucaia do Sul

Na noite fria de quinta-feira, dia 21 de junho, um repórter do Donos da Rua acompanhou a entrega de alimentos e mantimentos para a população em situação de rua de Sapucaia do Sul. Embaixo de uma tenda instalada na praça General Freitas, no centro da cidade, os moradores aguardavam ansiosos a refeição. Cerca de 25 pessoas receberam café, suco, sanduíches e bolos distribuídos pelos voluntários do projeto “Caminhada”.

O lanche era entregue ilimitadamente e atraiu os participantes que se mostravam satisfeitos com a ação da noite. Apesar dos sanduíches estarem expostos para que as pessoas em situação de rua se servissem mais de uma vez, ao terminarem dirigiam-se aos voluntários para pedir mais um.

Entre histórias e conversas de suas vivências, as pessoas em situação de rua comem seu lanche. (Imagem: Thais Ramirez)

Entre um café e um lanche, eles contavam suas histórias e revelavam as suas personalidades. Alguns tímidos e outros mais despachados, junto deles o falante Sandro contava a todos suas aventuras de vida, claro sem largar o sanduíche.

Diferente dele, sentada quieta em um banco e encolhida por conta do frio, Therezinha esperava o término da ação para que, caso sobrasse alimento, pudesse levar o restante para casa. Therezinha, a única mulher ali presente no recebimento dos lanches não está em situação de rua, pois mora com sua filha e neto. “Meu neto adora o sanduíche e espera acordado eu chegar em casa com o lanche,” conta ela . A catadora não se lembra a quanto tempo recebe o lanche, mas confirma que tem presença garantida todas as quintas-feiras na praça.

No final da noite, as roupas e as cobertas foram entregues. As peças mostradas uma por uma foram distribuídas a partir do interesse dos ali presentes e garantiu que os mantivessem aquecidos durante o inverno.O suco e o café que sobrou foi engarrafado e distribuído entre os moradores. Estes guardam o lanche dentro de uma de suas várias sacolas e um a um despedem-se rumo a mais uma noite fria nas ruas.

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