Dez pessoas que você encontra em qualquer festival do mundo

Alex Correa
Dormi no Aeroporto
Published in
5 min readJun 9, 2015

--

Um post que é metade desabafo, metade cagação de regra.

Camisetas do Joy Division, coroas de flores e purpurina na cara: esses são itens obrigatórios de qualquer festival de música, basicamente. Mas nem precisa ir muito além dos acessórios pra se dar conta de que, no fim, todo fã de festival é meio parecido.

Esses são os dez tipos de pessoa que você encontra em qualquer festival do mundo, onde quer que você esteja.

  1. O que tira o atraso de dez anos de conversa durante um show intimista

Eu sei que show intimista e festival são conceitos que não tem muito a ver, mas é justamente aí que a colaboração do público é mais importante: já que o cenário tem tudo pra atrapalhar — muitas pessoas e palco grande a céu aberto — , é muito massa quando a galera respeita o amiguinho do lado e vai bater papo longe da pista. Mas a gente sabe que não é isso que acontece, geralmente, e que aqueles dois caras que não se veem há séculos vão deixar pra se atualizar justamente durante aquele show voz-e-violão que você queria tanto ver.

2. O que passa mais tempo olhando pro celular do que pro palco

O desapego que você tem para comprar um ingresso, ir até o festival e simplesmente não olhar para o palco é admirável, no mínimo. Eu já vi gente jogando Candy Crush (o que é compreensível, até — aquele jogo é pior que crack), procurando atualização de aplicativos e escolhendo o filtro do Instagram ali na hora, mesmo. Tem o povo que fica batendo papo no WhatsApp, também, ou vendo o que tá rolando no feed do Facebook. A situação fica ainda mais especial quando o moço fala que achou a banda fraca, ou que "o show não me pegou muito". A vocês, uma pergunta: POR QUE, MEU DEUS?

3. O que reclama quando derrubam bebida

Vamos encarar os fatos: um festival é um lugar com milhares de pessoas — muitas vezes, dezenas de milhares. Boa parte dessas pessoas vai estar bêbada, se apertando entre outras várias pessoas bêbadas, e as vezes elas vão derrubar cerveja em você, sim. E vai ficar tudo bem, porque de qualquer forma tá todo mundo meio sujo, meio suado, meio grudento, e não tem porque ficar se importando com esse tipo de coisa.

4. O que reclama quando pisam no pé

Consultar ítem 3.

5. O que passa mais tempo procurando os amigos do que vendo o show

Os festivais são tão voltados para música quanto para interações sociais, a gente sabe. Mas está tudo bem ficar sozinho por uns momentos, também, e aproveitar aquele seu show favorito pensando na vida. É engraçado assistir a galera balançando as mãos e piscando o flash do celular pra encontrar os amigos só pra, quando finalmente se encontrarem, o show já ter terminado. E você não precisa deixar de ver aquela banda maravilhosa só porque o seu grupo de amigos queria ir para um outro palco: é só mandar um "até logo" e ir lá ser feliz. Seus amigos vão entender, eu acho — e, se não entenderem, talvez seja uma boa repensar suas companhias para o próximo festival.

6. O que fala que "a acústica não estava boa"

Em algum momento da história as pessoas aprenderam que uma coisa bonita de se falar depois de um show é que "a acústica não estava boa". Todo mundo já ouviu essa e muitos de nós já usamos a pérola, também, mas na maioria das vezes a frase é meio genérica e nem faz muito sentido, inclusive.

7. O que grava todas as músicas de todos os shows

Meus braços são tão fracos que eu acho até bonito esse povo que consegue ficar com a mão levantada por vários minutos gravando uma música. Mas, sei lá, será que vale a pena mesmo? A verdade é que você provavelmente nunca vai assistir àquele vídeo mais de uma vez, porque o som vai estar meio bosta ("a acústica não estava boa") e a imagem vai estar bastante tremida, também. A troca é meio ruim, considerando que você não pôde dançar com as duas mãos, atrapalhou a visão de um monte de gente botando um aparelho na frente (e o povo que grava com iPad, então?) e perdeu um baita espaço no celular que poderia ser usado pra tirar várias selfies!!! É praticamente um 7 a 1 da etiqueta de festivais, amigos.

8. O que chega depois de todo mundo e vai empurrando a galera

Quem nunca, né? Eu, tendo 1.84 de altura, me sinto especialmente culpado por atrapalhar a visão de todas aquelas meninas fofas que ficam na ponta do pé pra assistir ao show. Eu evito fazer isso, juro, mas as vezes é meio inevitável. Ninguém é perfeito, shame on me, etc.

9. O que grita todas as músicas no seu ouvido

Primeiramente eu quero saber como essa galera arruma tempo pra decorar as letras de todas as músicas de um disco que saiu duas semanas atrás. Quais são seus empregos, o que comem no jantar? Eu quero, também. Em segundo lugar, acho importante dizer que seus gritos são ouvidos principalmente pela pessoa que está esmagada na sua frente e não pelo vocalista gatinho que tá lá longe, no palco. As vezes aquela vontade de cantar a plenos pulmões aparece e não tem como segurar (e nem é pra segurar, também), mas quando ela persiste por uma hora e meia está na hora de começar a se preocupar com a saúde da sua laringe.

10. O que é muito, muito espirituoso

Essas são as minhas pessoas favoritas não só em festivais, mas no mundo: a galera que tem todo o amor do mundo pra dar. No Primavera Sound, quando eu pisei no festival — depois de ter meu bilhete de metrô engolido pela catraca e cair de bunda nas escadas dessa mesma estação—, um rapaz me deu um abraço e falou que "tem alguma coisa de errado no seu dia, mas agora vai ficar tudo bem". No Lollapalooza, já derrubaram a minha bebida e pagaram por uma novinha logo depois. Já me ofereceram até drogas de graça, também, mas minha mãe sempre me falou pra não aceitar doce de estranhos (pera, de qual "doce" ela estava falando?).

--

--