O complexo de vira-lata do brasileiro

Alex Correa
Dormi no Aeroporto
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3 min readJun 1, 2015

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E como o melhor de São Paulo é o paulistano.

Quando fui a Paris, entrei em um restaurante e conheci um garçom muito simpático, mas que forçou um pouco a barra: eu falei que era do Brasil e ele me me fez sentar em uma mesa com outros dois brasileiros. Nem eu nem eles queríamos a companhia um do outro, mas não tivemos muita saída. Os caras trabalhavam em corridas de cavalo e eu produzo festas, que diabos de interesses em comum a gente poderia ter?

Perguntei se eles estavam gostando da França e eles falaram que sim, que os monumentos e os prédios são muito bonitos, que dá até gosto de ver, que é uma pena que o brasileiro é preguiçoso e não faz umas coisas bonitas assim.

A síndrome de vira-lata do brasileiro está em todo lugar, aparece sempre, mas ainda assim dói de ouvir. Os lembrei do centro de São Paulo, da Catedral da Sé, dos parques da Luz e da Independência. “Tem um monte de coisa que, se fosse na Europa, os brasileiros iam tirar um monte de foto”, eu disse, tentando provar meu ponto.

Mas a verdade é que fica difícil defender São Paulo, as vezes, e que bate um sofrimento quando a gente pensa que a cidade era pra ser mais. Que o trabalho horrendo das prefeituras nas últimas décadas, séculos, transformou uma avenida linda no tenebroso Minhocão. Que os palacetes do centro deram espaço pra prédios insossos. Que a Catedral da Sé era pra ser acompanhada de um palacete, também, e que o Vale do Anhangabaú deveria ser o lugar mais impressionante da cidade. Porra, até um Arco do Triunfo a gente tinha.

Mas, no meio dessa desgraça toda, é legal ver que o paulistano não desiste e transforma a cidade em uma coisa bonita pra caramba de novo. O bloco de concreto do Minhocão virou um lugar em que todo mundo passa o fim de semana, em que até meus amigos mais sedentários começaram a praticar esportes. O Anhangabaú recebe festas de rua e faz o centro da cidade ser habitável mesmo no meio da madrugada. O mirante da 9 de julho, abandonado há décadas, vai virar um centro cultural.

Da próxima vez que me falarem que o brasileiro é preguiçoso, eu já tenho a minha resposta: preguiçoso é o caralho.

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