Três por dez: os vendedores ambulantes da passarela

Alan Christian
doze34
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3 min readOct 20, 2017

Conheça, em dez minutos (talvez um pouco mais), a rotina de três comerciantes da Estação Sapucaia, que aguardam uma decisão da Trensurb sobre o comércio “ilegal”.

“É preciso falar cara a cara para poder ler a alma no rosto, para que o coração soe em palavras. Uma palavra dita com convicção, com plena sinceridade e sem medo, vale muito mais que dez folhas de papel cobertas de palavras.”Fiódor Dostoiévski.

Inaugurada em março de 1985, a Estação Sapucaia liga a cidade de Sapucaia do Sul à linha férrea da empresa de transporte coletivo Trensurb. Fixada no peito do centro da cidade, que integra a Região do Vale dos Sinos, a construção é perfurada pela passarela que se equilibra entre as avenidas Mauá e Sapucaia (procura-se criatividade para nomes). Essa passagem, que salta por cima dos trilhos como um super atleta olímpico, é a veia artéria do município, um cenário típico de um videoclipe da banda O Rappa, onde milhares de sapucaienses transitam diariamente.

Quem circula por ali durante o dia, ouvi os ruídos dos aglomerados; os anúncios de propagandas em carros lentos; as chegadas e saídas dos trens; o balançar de moedas em bolsos; os hits do último verão que tocam nas entradas das lojas do calçadão. Enquanto isso, inala o gás carbônico emitido pelos veículos que passam metros abaixo.

Movimento na passarela da Estação Sapucaia

Nos últimos anos, a passarela também vem sendo utilizada por vendedores ambulantes, que vendem colares de pedras, roupas de cama, frutas, bijuterias, controles remotos e DVDs. Caminhar por lá é como atravessar, em instantes, toda a linha evolutiva da história da humanidade, partindo da Idade dos Metais e chegando à Era Digital. Os personagens do filme De Volta Para o Futuro” ficariam com inveja, tamanha a praticidade.

Personagem Marty Mcfly (De Volta para o Futuro) impressionado com a viagem no tempo na passarela.

Embora o hino da cidade diga “Óh Sapucaia… tu és do sonho a realidade de gente humilde e hospitaleira”, os moradores não parecem ter muito a postura exaltada pela canção.

Os comerciantes enfrentam diariamente um julgamento moral de alguns que cruzam o elevado. Xingamentos abafados pelo movimento, olhares desconfiados e narizes empinados integram parte dos desafios rotineiros. Além disso, a prefeitura também não esboça um sorriso acolhedor.

No início do mês de agosto deste ano, o prefeito Luis Rogério Link visitou o local, acompanhado do secretário de Indústria, Comércio, Agricultura e Abastecimento, Reinaldo Maldaner; e do superintendente de Desenvolvimento Comercial da Trensurb, Euclides Heron Coimbra Reis. O objetivo era averiguar a situação e encontrar uma solução para o “problema”, pois, segundo o governante, os produtos dos ambulantes seriam ilegais, além do comércio obstruir grande parte do espaço dos pedestres.

Entrada da passarela da Estação Sapucaia.

Atualmente, o caso continua em aberto, pois o político não possui autorização para retirar os vendedores, pois trata-se de uma área federal.

Em entrevista, três dos comerciantes posicionaram-se sobre o assunto:

Direto de “Floripa”: a artesã viajante

O plantonista dos lençóis

Amarelando a passarela: uma poesia sobre um vendedor de mamão

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