A COPA EM VINTE DIAS #19

O diabo veste azul

O lance histórico que decidiu Uruguai x Gana na Copa de 2010.

Drible da Vaca
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Por: Juliana Teixeira
Edição:
Vitor Magalhães

Os minutos finais se aproximam e anunciam a disputa de pênaltis…

Um estádio inteiro vibra e o som das vuvuzelas ecoa nas arquibancadas do FNB Stadium. Sem Lugano, que saiu de campo ainda no primeiro tempo, desfalcando a defesa, o Uruguai se vê mais frágil e sente a pressão de uma das principais forças do futebol africano: Gana. Não é o melhor momento para os uruguaios enfrentarem uma falta perigosa, mas ela veio. Nesta situação, suar frio é o mínimo que se pode fazer.

O juiz autoriza. O que veio a seguir transformou o último minuto daquele segundo tempo de acréscimos na autêntica Guernica de Picasso: John Pantsil cruza a bola que desvia em algum companheiro, iniciando um ping pong agoniante na grande área dos sul-americanos; joelhos e pernas se desesperam entre chutes e defesas velozes. Na bagunça, um jovem Luis Alberto Suárez faz o impensável: defende, com as mãos, um lance fulminante e evita, momentaneamente, uma eliminação certa da celeste.

Nos poucos minutos que se passam entre o cartão vermelho e a saída de campo, não podemos dizer o que passou pela mente atacante. Mas o que sucedeu foi o menos provável, efeito que o futebol potencializa como poucos. Uma torcida que se preparava para chorar de tristeza, terminou o jogo com lágrimas de alegria.

O futebol, ah, o futebol… taí algo longe de ser previsível ou domável.

Nos minutos que se seguem, o ganês Asamoah Gyan não tem nada menos do que toda a expectativa de um país na ponta da chuteira. Uma decisão a tomar, ele mira, e chuta. Abola beija o travessão e faz o estádio explodir incrédulo com o que acabara de presenciar.

Na cena final, o vilão que chora à beira do campo se redime. Suárez escreve seu nome na história ao ser um importante e improvável herói na trama que, após a disputa de pênaltis, culminou na primeira semifinal da Celeste Olímpica em 40 anos.

No outro lado do campo, a “mão do diabo” pesa. É o fim do sonho ganês, cuja seleção, em 2010, atingiu o melhor desempenho de sua história. A medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 1992 havia sido sua última conquista expressiva. A epopeia encarnada neste jogo é, também, o fim do sonho de todo um continente que viu, uma a uma, suas seleções caírem ainda na fase inicial da competição.

O jogo termina, as vuvuzelas se silenciam e a torcida vai embora aos poucos. Mas o que não vai deixar os gramados do FNB Stadium — e a memória dos amantes de futebol — , são as emoções daquele 2 de julho: o dia em que o diabo fez história. Ou as mãos dele, como preferir.

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Perfil destinado à divulgação do futebol sul-americano. Autor: Vitor Magalhães. E-mail: oficialdribledavaca@gmail.com