A COPA EM VINTE DIAS #16

Os dois centímetros que tiraram o Paraguai da Copa de 98

Um dos jogos mais marcantes das Copas, Paraguai x França disputaram até o fim às oitavas de final do Mundial

Drible da Vaca
DribledaVaca
Published in
4 min readJun 9, 2018

--

Por: Arthur Calado
Edição:
Vitor Magalhães

Uma contusão pode ser responsável por uma derrota em Copa do Mundo, mas pode não te impedir de dar o seu melhor. Ao demonstrar bravura, você pode, mesmo contundido, ser considerado um dos melhores zagueiros que já pisaram no gramado de um Mundial.

Carlos Gamarra era um verdadeiro leão em campo. Aliás, era um cavalo paraguaio. No sentido óbvio e no sentido contrário. Óbvio porque jogou como nunca, e perdeu como sempre. Foi eliminado nas oitavas da Copa de 98, cedo demais para o bom futebol que o Paraguai apresentou na competição. No sentido contrário porque Gamarra não teve, por muito pouco, sucesso em parar a França de Zidane, Blanc e Trezeguet. O camisa 4 do esquadrão paraguaio de 1998 tornou-se herói nacional, junto a Chilavert, Arce e outros grandes jogadores que marcaram aquela época.

Não se pode negar que a campanha paraguaia rumo às oitavas de final foi bem modesta. Estreou empatando sem gols contra a Bulgária, mesmo resultado da segunda partida, contra a Espanha. Sua única vitória naquele Mundial veio contra a Nigéria, na última rodada (3-1).

Com cinco pontos ganhos, los guaranis estavam classificados em 2° lugar da chave para enfrentar a França, anfitriã do Torneio. O Paraguai sofreu apenas um gol em toda a primeira fase, deixando claro que os franceses não teriam vida fácil. Dito e feito.

Paraguai x França - 1998

O Estádio Félix-Bollaert, na cidade de Lens, foi o palco da partida entre Paraguai e França. O Paraguai era comandado pelo brasileiro Paulo César Carpegiani, e tinha uma das defesas mais sólidas da competição. Formada por Chilavert, Arce, Ayala, Gamarra e Sarabia.

O talentosíssimo setor de ataque francês passou em branco. Zidane até tentou, mas naquele dia, quem jogava de terno era Gamarra. 1,80m de muito talento com a bola nos pés, impulsão de jogador de basquete e tempo de bola de um centroavante nato. O Xerifão guarani trancou o cadeado da defesa que, no tempo normal, não foi vazada.

Na prorrogação, entraria em campo um dos personagens mais ingratos do futebol mundial: o gol de ouro. Esta, era uma das práticas mais injustas, porém emocionantes, do esporte. Até a Copa do Mundo de 2002, a FIFA adotava esse modelo para partidas que iam à prorrogação. Nele, quando um dos times marca o gol, o juiz trila o apito com requintes de crueldade e finaliza a partida. Foi exatamente o que aconteceu com o Paraguai.

No minuto 114', quando faltavam apenas seis para o fim do jogo. A França enfim furou a barreira Paraguaia. Se o ataque não funcionava, o zagueiro Blanc avançou até as linhas inimigas e marcou para os franceses.

“Não consigo mais”

Multicampeão no Brasil, o ex-treinador do Paraguai, Paulo César Carpegiani, teve um dedo naquele jogo histórico. Ele poderia lembrar daquela partida com orgulho de quem quase parou a campeã do mundo, mas a culpa não o permite. Carpegiani sabia, na época, que Gamarra estava contundido. No intervalo daquela prorrogação, o camisa 4 da albiroja chegou para o comandante dizendo “Ya no puedo hacerlo más”. Ao ouvir a reclamação do jogador, Carpegiani tomou uma atitude corajosa. É importante esclarecer que a coragem nem sempre está ligada à inteligência.

O treinador ignorou o relato do zagueiro e o deixou em campo. Nove minutos depois, foi justamente em cima dele a tabela que colocou Blanc na cara do gol e acabou com o sonho paraguaio. Em contraste com a comemoração francesa naquele 28 de junho, vimos um Carpegiani incrédulo, um Arce desolado e um Chilavert aos prantos, no chão. Gamarra, porém, era o que mais sofria. Não se sabe se pela derrota, ou pela dor causada pelos dois centímetros deslocados de sua clavícula. Dois centímetros que deram a classificação à França.

Apesar de tudo, os paraguaios ganharam o reconhecimento do seu povo, e ficaram mundialmente conhecidos por serem uma das melhores defesas que já pisaram em um gramado de Copa do Mundo.

Seleção Paraguaia - 1998

--

--

Drible da Vaca
DribledaVaca

Perfil destinado à divulgação do futebol sul-americano. Autor: Vitor Magalhães. E-mail: oficialdribledavaca@gmail.com