Mulheres, empreendedorismo e inovação: lições do Female Founders Summit

Lilian Natal
Drinkabout . Thinkabout . Writeabout
8 min readMar 7, 2018
Cris Junqueira, do Nubank. Foto: Divulgação Campus São Paulo by Google.

No início de março, participei de um evento incrível no Campus São Paulo, o espaço para empreendedores do Google. O Launchpad Female Founders Summit teve sua primeira edição fora dos Estados Unidos e palestraram mulheres incríveis, como as fundadores de startups Cris Junqueira (Nubank), Luciana Caletti (Love Mondays), Patrícia Santos (Empregueafro), Danieli Junco (B2Mamy), Mariana Marcílio (Pluvi.On), Bruna Guimarães (Gupy Recrutamento), Maytê Lourenço (BlackRock®) e Isis Abbud (Arquivei). Houve ainda um painel com as investidoras Maria Rita Spina, Kim Machlup, Laura Constantini e Camila Farani, uma apresentação da diretora do YouTube no Brasil, Fernanda Ceravolo e algumas dinâmicas, uma delas com a jornalista global Mariana Ferrão.

Foram dois dias de muito aprendizado, histórias absolutamente inspiradoras e, principalmente, uma injeção de propósito e união entre mulheres.

Abaixo listo os principais destaques do evento.

1. Mulheres precisam se unir, colaborar e ter coragem.

Já ouviu falar em sororidade? A primeira vez que ouvi esse termo foi há uns dois anos, quando comecei a querer empreender e seguir algumas redes de colaboração femininas. Sororidade nada mais é do que a aliança entre as mulheres, uma união baseada em empatia, cooperação e compartilhamento. Hoje há diversas iniciativas nesse sentido aqui no Brasil. Somente na área de empreendedorismo e carreira, citaria a Rede Mulher Empreendedora e o grupo Ela Líder, mas há centenas de outras associações e ONGs incríveis.

E por que isso é importante? Simplesmente porque juntas somos mais fortes. A capacidade da mulher é colocada em cheque a cada reunião de trabalho na qual o cliente só conversa com o sócio homem; a cada evento que tem apenas palestrantes do sexo masculino; ou ainda toda vez que vemos um homem ganhar mais tendo a mesma competência e estando no mesmo cargo que uma mulher. É duríssimo para nós. Mas temos de ter coragem. E se pegarmos umas nas mãos das outras, as barreiras ficam menores e os obstáculos são derrubados com mais facilidade.

Para inspirar, uma das palestrantes lembrou a história da senegalesa Mariéme Jamme. Abandona pela família aos 5 anos e traficada para a França aos 14 anos, foi abusada repetidas vezes e morou na rua até os 16 anos, quando a polícia francesa a recolheu e a colocou em um centro de refugiados. Lá aprendeu a ler e escrever e começou a devorar livros. Foi quando sua vida começou a mudar. Autodidata, aprendeu sobre tecnologia e programação e passou por algumas das principais empresas americanas e inglesas. Hoje ela se dedica a ensinar programação a meninas africanas por meio do programa I am the Code. Ela diz: “Quero dar poder às gerações futuras com o conhecimento da tecnologia. Meninas e mulheres são o futuro. Feminismo é empoderá-las”.

2. Faça acontecer

Feminismo é um movimento muito importante e que defende apenas o justo: igualdade e oportunidade. Nem mais, nem menos. É claro que esse e outros movimentos também apoiam o “vai lá e faça acontecer”. Ou seja, faça suas escolhas e não se sabote.

Tem muita mulher que surgiu do nada e está fazendo coisas maravilhosas. Elas também são mães, negras, pobres, indígenas ou com deficiência. Então o discurso deve vir aliado à atitude. Não arrume desculpas e lembre-se sempre: você é a mudança que quer ver acontecer.

Foto: Divulgação Campus São Paulo by Google.

3. Presença digital. Mas como?

Apareço, logo existo. Legal. Existe como? Você já parou para pensar na imagem que está passando na internet? Essa foi a questão trazida pelo Paulo Tenorio Filho, da Trakto, um dos únicos homens a palestrar no evento. “Experimente jogar seu nome do Google e ver o que aparece nas primeiras páginas”, disse ele.

Agora responda: já xingou ou desrespeitou alguém, entrou em tretas digitais desnecessárias e ficou horas perdendo tempo com discussões toscas? Pois é. A internet não perdoa e não esquece de nada.

E seu LinkedIn, está atualizado como deveria? E as fotos nas quais você aparece, fazem jus a quem você é ou quer ser?

Por último, você é relevante digitalmente? Gera bons conteúdos, tem bons artigos e compartilha coisas que vão agregar?

Nunca subestime sua audiência. Por isso, vale dar uma geral aí na sua vida online.

4. Métricas e mais métricas.

Aposto que, quando eu falei em métricas, você pensou: ah, verdade. Isso é legal. Não, não é só legal. Isso é essencial, de acordo com Isis Abbud, co-founder e COO da Arquivei.

Do analytics do seu site, app ou das suas redes sociais aos indicadores do seu negócio, quanto melhor você for nisso, mais assertivas ficarão suas iniciativas e melhores resultados você obterá.

A sopa de letrinhas é quase infinita: ROI, TAM, CAC, RAW, LTV, MRR, ARR, ACV. Tá boiando? Bom, então está na hora de começar a entender essas e outras siglas.

Claro, nem todas as métricas são indispensáveis para todos os tipos de negócio. E dependem da fase que você está. Mas o importante é identificar as que são mais importantes para você e fazer um acompanhamento periódico.

Dados são extremamente estratégicos e fazem errar menos, gastar menos tempo, dinheiro e crescer mais rápido. Ah, e é bom já começar a estudar e colocar a mão na massa. Vai que surge um grande investidor pedindo o CAC, o LTV e o MRR do seu negócio…

5. Não vá a falência por um descuido bobo.

Fernanda Ceravolo, hoje diretora do YouTube no Brasil, também já empreendeu. A má notícia é que ela faliu. A boa notícia é que ela compartilhou algumas lições que ela aprendeu e afirmou: “Quero voltar a empreender”. Abaixo destaco as principais dicas da criativa:

- Siga sua intuição. Dados, números, estratégia. Tudo é muito importante, mas vale ouvir aquela sua pulga atrás da orelha também;

- Não subestime o fluxo de caixa. Segundo ela, isso foi um dos elementos determinantes para a falência financeira de sua antiga empresa;

- Tenha um bom desenvolvedor na sociedade. Depender apenas de desenvolvedores externos pode ser uma cilada, principalmente porque você poderá não entender o que eles dizem;

- Pense com escala sempre. Se seu objetivo é, entre outras coisas, ganhar dinheiro, não adianta ter uma grande ideia se ela não for escalável de alguma forma;

- Contrate pessoas com características complementares — e não iguais às suas. Muita gente ainda contrata por empatia e por achar que se dará bem com a pessoa por ser parecida com ela. Mas isso empobrece o time.

6. Seu site diz muito sobre você e seu negócio.

A head de Alcance Comunitário do Wix no Brasil, Anna Raad, trouxe alguns insights interessantes sobre como melhorar seu site, mesmo que ele seja construído em uma plataforma gratuita. Entre as dicas, separei algumas:

- Inclua vídeos. Eles chamam mais a atenção e proporcionam maior credibilidade e vontade de compra nos consumidores;

- Invista em boas fotos. Imagem é tudo no mundo digital. Se seu site tiver fotos sem foco, escuras, mal produzidas, pode parecer que seu negócio também é desleixado;

- Adicione animações (que fizerem sentido). É uma das tendências atuais. Você pode adicionar animações em fotos, títulos e muito mais;

- Carrossel de imagens. Ele dá a oportunidade de você mostrar mais imagens e coisas legais logo no início do site.

7. Encante seu cliente.

Durante o bate-papo com a co-founder do Nubank, Cris Junqueira, uma das mulheres da platéia contou de uma experiência que teve com a startup. Ela disse que, durante o Natal, sua mãe havia comprado um presente pela internet para seu filho. No entanto, o presente não chegaria a tempo. Em uma ligação ao Nubank, sua mãe contou a história para a atendente, que se sensibilizou e resolveu comprar e enviar a lembrança ao menino, que recebeu o presente na data e ficou super feliz, assim como sua mãe e sua avó.

Mas a história continua, Cris revelou que a atendente que fez esse momento “UAU” para a cliente também já havia recebido uma surpresa da fintech. Feliz com a iniciativa e na melhor filosofia “gentileza gera gentileza”, ela se inscreveu para uma vaga na empresa “roxa” e passou. Hoje pode proporcionar “magic moments” a outras pessoas, já que cada funcionário tem uma verba destinada para tal. Não é demais?

8. Consciência e diversidade.

Patrícia Santos, CEO da EmpregueAfro, trouxe diversos exemplos chocantes de racismo que ainda ocorrem no mundo corporativo, mas também mostrou iniciativas de inclusão para a população negra nas empresas. ”A gente não caminha e não evolui sem esse processo de conscientização”, disse ela.

Patrícia explicou que o movimento negro no Brasil lutou muito pelo Dia da Consciência Negra, mas que muita gente não entende o que quer dizer essa “consciência” que, segundo ela, nada mais é do que “conhecimento com sentimento”, ou seja, ter empatia, colocar-se no lugar do outro. “Quando a gente leva a temática da diversidade para as empresas, estamos dizendo: ‘contrate o diferente, porque você vai ter resultados melhores’. E isso ocorre só com esse processo de conscientização, afirmou a empreendedora.

9. Investimento “smart”.

Por último, o painel de investidoras trouxe insights valiosos para startups que precisam ou esperam receber investimento. As quatro especialistas explicaram um pouco mais sobre a diferença dos tipos de investimento, propósito, impacto, inovação e deram algumas dicas preciosas, a saber:

  • Não busque só dinheiro. O capital deve trazer muito mais do que o recurso financeiro. Ele tem de agregar valor, conhecimento, estratégia e networking;
  • Número importa. Conforme seu negócio for crescendo, você vai precisar muito ter os seus indicadores cada vez mais claros;
  • Coerência de produto. Tem que ter uma proposta clara, que evolui e com um mercado que realmente tenha aquela necessidade;
  • Seja escalável. Sua solução tem de conseguir entregar para uma porção grande da população;
  • Busque a inovação. Invista em uma solução que traz transformação para um mercado e/ou para a sociedade como um todo;
  • Seu time é o mais importante. O investidor precisa ver nos fundadores executores de verdade, missionários e capacitados para enfrentar os desafios. Eles investem em “CPFs”;
  • Teste, aprenda e redirecione. O círculo virtuoso deve ocorrer o tempo todo para gerar crescimento: errar rápido, corrigir e voltar a testar;
  • Tenha uma rede de colaboração. Empreender pode ser solitário e difícil às vezes. Ter mentores, consultores e profissionais do mercado ajuda muito;
  • Ética e autenticidade. Falta de ética é inadmissível, pode cancelar um investimento e matar um negócio.
Painel de investidoras. Fotos: Divulgação Campus São Paulo by Google.

Para finalizar, eu diria que as principais mensagens deste evento foram união, compartilhamento, diversidade, empatia, força e coragem. A frase do CEO do Google resume um pouco o que foi o Launchpad Female Founders Summit: “A diverse mix of voices leads to better discussions, decisions and outcomes for everyone (Uma mistura diversa de vozes leva a melhores discussões, decisões e resultados para todos)”.

*Lilian Natal é jornalista, especialista em Comunicação e Marketing, co-fundadora da startup Play2sell e faz parte da equipe que organiza o happy hour empreendedor Silicon Drinkabout São Paulo.

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