Opportunity Tree — como trazer os stakeholders para o jogo de produto

Opportunity tree : Como trazer os stakeholders para o jogo de produto!

Luana Fogaça
dtidesign

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Falamos sobre o problem space e o solution space em artigos que eu já escrevi por aqui no Medium. Mas quando falamos de opportunity space quero te convidar a refletir sobre como trazer o negócio para jogar o jogo de produto.

Sintetizando num formato ilustrativo de árvore, o objetivo maior é auxiliar a visualização de pensamentos e ideias de novos outcomes do produto, inseridas aqui como oportunidades.

Opportunity Solution Tree — Teresa Torres

Perceba que temos o desired outcome, aqui entramos com o objetivo do que estamos construindo, pode ser uma feature, uma jornada de valor ou ainda uma estratégia. É a visão final de toda a entrega, o pico da montanha por assim dizer. Mas se de fato somos centrados no usuário não podemos focar apenas no direcionamento do negócio. Uma oportunidade se apresenta como uma necessidade do usuário, pain point, um desejo. É uma oportunidade de intervir nas interações do seu consumidor com o seu produto.

Andrew Stanton no seu TED Talk disse “Nós nascemos resolutores de problemas, somos compelidos a inferir e a deduzir porque isso é o que fazemos na vida real. É essa falta de informação bem organizada que nos imerge ali." Problemas são como imãs, não conseguimos evitar a sensação de querer completar, preencher a sentença.

Mas isso não quer dizer que a motivação inicial deve ser resolver um problema o mais rápido possível, trazer uma experiência mais fluida para um usuário e até tratar o backlog com todos seus débitos técnicos e bugs deve ser a sua prioridade zero. Talvez precisamos superar essa aceleração de motor e olhar para a "big picture", talvez trocar a marcha, isso não significa pisar no freio. Se estamos de fato trabalhando em um produto, não seria interessante acionar um pouco a ré e voltar a se perguntar se estamos avaliando e gerando mais variáveis do que a nossa primeira ideia? A escolha de solução é sempre uma forma de resolver o problema, e mudar de perspectiva pode muitas vezes ser uma dificuldade tremenda se passamos muito tempo apaixonados pela solução. Para tal precisamos ser capazes de comparar, contrastar e questionar algumas possibilidades do opportunity space e assim se deixar ser guiado por uma decisão consciente de atuar onde podemos ter o maior impacto.

Mapa de impacto do livro Impact Mapping: Making a big impact with software products and projects de Gojko Adzic

"To maintain the state of doubt and to carry on systematic and protracted inquiry — these are the essentials of thinking”

John Dewey no livro How we think

Se mantenha na dúvida por mais tempo do que você está confortável.
O que Dewey nos diz é que não podemos entrar de cabeça na primeira solução que encontramos, e para mantermos uma permanência nesse estado de reflexão, somos orientados a perseguir uma busca sistemática por mais tempo do que estamos confortáveis. Nesse momento temos o que eu gosto de chamar fenômeno da perturbação, é um princípio básico como a inércia, a matéria só muda seu estado de aceleração ou movimento quando uma força é exercida sobre ele.

Voltando para a nossa árvore, ela permite a comunicação dos features e soluções que estamos trabalhando e os experimentos que estamos fazendo para avaliar essa proposta. O que fazemos na verdade é: gerar, avaliar e visualizar as opções de solução (hipóteses) para resolver esse problema. Ao final é um roadmap com várias saídas, e essa abordagem é permite opções de caminhos a escolher para os nossos stakeholders e aí sim iniciar uma conversa. Com essa mudança de discurso não definimos qual a saída nós valorizamos mais, (normalmente aquela primeira ideia de resolver rapidamente uma dor) transformamos em: para qual o melhor caminho podemos nos direcionar para alcançar o resultado desejado. E pode parecer confuso, mas não estamos falando de testes A/B.

Testes A/B estão orientados ao consumidor da solução, ele pode muitas vezes depender de um desenvolvimento prévio para coletar dados e demanda tempo. Nesse tipo de validação, você libera duas versões diferentes de uma interface com o consumidor e analisa qual delas tem o melhor desempenho. Analisamos as interações reais dos consumidores em condições do mundo real. Na maioria das vezes esses testes auxiliam a resolver os trade-offs entre diretrizes conflitantes ou descobertas qualitativas de usabilidade, determinando qual delas tem maior peso nas circunstâncias.

Mas como falado previamente, estamos num momento anterior, o de tomada de decisão. Então como podemos sintetizar as oportunidades?

Passo 1: Colete estórias e experiências do seu usuário com o produto. Uma boa pergunta é: me conte como foi a sua última interação com o produto? E conforme vamos evoluindo e coletando essas estórias, oportunidades vão aparecendo na superfície e você traça as necessidades e paint points desses consumidores.

Passo 2: Depois de mapeados, é hora de trazer os hippo's para o jogo! E alguns erros comuns que podem estar atrapalhando aqui:

#1 Você encaminha por email as gravações das entrevistas;

#2 Você sintetiza as suas anotações e consolida as observações, adicionando uma pitada de percepções comportamentais das interações;

#3 Você passa horas montando um lindíssimo e ilustradíssimo powerpoint com vários slides de pesquisa abordando os temas, os princípios de análise e como estamos conscientes do cenário para a tomada de decisão;

#4 Você compartilha a pesquisa quando ela apoia algum argumento de defesa de solução, fuja um pouco do: optamos por… por conta de… numa forma de justificativa de fins para meios e não ao problema de fato. Alerta de solution space enviesadíssimo!

E durante esse artigo eu trouxe vários questionamentos, talvez seja a minha constante vontade de ir atrás do problema e de perguntar sobre a cultura da certeza. O que acontece aqui é que muitas vezes nos baseamos em pesquisas qualitativas associando a alguns poucos consumidores, sendo que o que precisamos aqui não é uma amostra da paisagem e sim um panorama completo, essa árvore nos auxilia a comunicar rapidamente o que tem sido uma constante nas nossas entrevistas compartilhando o que aprendemos.

A pergunta que faremos então ao invés de impositiva é propositiva, o hippo também recebe feedbacks e conversa com os clientes, mesmo que indiretamente, e possuem uma experiência que você não tem. Você vê algo faltando, percebe que tem algo que deixamos de adicionar a equação? Não trate o stakeholder como o inimigo e o irredutível, ele consegue trazer visões de negócio e de experiências prévias de usuários que podem não ter sido captados pela sua pesquisa, e isso é tão valioso meu aspirante a Sherlock, que não podemos mais ignorar.

O ensinamento que fica é: ao invés de comprar brigas de qual solução é melhor ou pior com o hippo (que no caso pode ser uma derrota e frustração para você)- antes até de entrarmos em um acordo sobre qual problema iremos atacar- podemos trabalhar juntos para mapear o que sabemos sobre o nosso consumidor e como podemos endereçar essas necessidades. E nós sabemos que normalmente a avaliação de valor e senso de entrega do negócio é quando entregamos código e protótipos, e aí o tempo fica desfavorável para mapear essa árvore de oportunidades, certo? A melhor abordagem é continuar com o processo de discovery contínuo e priorizar as oportunidades no cenário de maior incertezas para fazer esse alinhamento, a árvore nos capacita convergir para a melhor tomada de decisão naquele momento, avaliando a oportunidade: juntos! E meu querido Sherlock, uma dica de ouro: Seja objetivo!

Opportunity tree — Netflix Sample

Decidimos o que vamos atacar e sabemos que quando estamos falando de solução, todos tem uma opinião, um ponto de vista e um complexo de justiceiro para defender a sua ideia. E para isso chegamos nesse ponto da árvore.

Precisamos gerar várias ideias de solução para esses problemas, por exemplo: quando estou falando sobre uma solução todo time tem um vasto backlog de features. Mas se você utilizar esse backlog como um mapa de possibilidades em relação ao opportunity space, você teria muitas primeiras ideias. Cada ideia atende a uma necessidade diferente e o problema disso é que não estamos pensando fora da caixa, utilizando da criatividade para atender aquele cenário e fisgados pela primeira ideia, que pode não ser a melhor, por isso precisamos buscar a ideia que mitigue os riscos que Marty Cagan tanto fala. Ela precisa ser viável, desejável, implementável e traga valor para o nosso usuário. Voltando na fala de Dewey, precisamos nos orientar a gerar mais ideias do que estamos confortáveis, nesse caso mais que a primeira ideia. E não só a tomada de decisão fica mais orientada, também permite que você traga opções para o hippo e para o time. Lembre-se: não é sobre a resposta final é sobre insumos para uma escolha consciente, criativa e orientada ao valor do negócio alinhada com os desejos do consumidor.

Dica de ouro: quando decidimos a proposta de solução quanto a viabilidade, pode-se avaliar e questionar a implementação da melhor opção para o nosso usuário, dessa forma ao conduzir experimentos nos orientamos ao melhor outcome. Meu próximo tópico vai ser como conduzir experimentos dentro da árvore e os aprendizados gerados, no intuito de conseguir trazer ainda mais valor para o produto.

E Sherlock, uma dica: deixe o ego de lado e invista seu tempo no problema, passe menos tempo defendendo a solução que você tanto gostaria de ver acontecer, engavete o ego e se abra para mais pontos de vista para que você persiga o melhor caminho. E não, você não está a um feature de realizar o melhor produto para o seu cliente.

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Luana Fogaça
dtidesign

Hands On Group Designer Manager @Itaú & Strategist of Digital Products Student @ NN/g & Creative person