Qual o melhor momento do ciclo de construção de um produto para se realizar a experimentação?

Maria Clara Zucchelli
dtidesign
Published in
6 min readMay 26, 2021

Sabemos que trabalhar com produtos digitais não é uma receita de bolo, mas é possível identificar alguns pequenos ciclos que se repetem dentro do processo para se chegar ao que chamamos de um produto escalável. Aqui na dti, identificamos esses 3 principais ciclos como:

  • Discovery: descobrir o problema
  • Experimentação: validar uma hipótese
  • Crescimento: escalar o produto
Ciclos de construção de valor

Antes de responder a nossa pergunta, vamos entender um pouquinho mais sobre cada uma dessas etapas.

Discovery

O ciclo inicial de Discovery começa geralmente com uma etapa de imersão para identificação de dores, que então são priorizadas de acordo com o que desejamos atacar em um primeiro momento. A partir disso seguimos para uma fase de cocriação, em que exploramos mais a fundo essas oportunidades por meio de diversas ferramentas e dinâmicas como o Design Sprint.

Durante esse processo de cocriação, coletamos informações e definimos o que achamos que nosso produto deveria ser/fazer, o valor que acreditamos que ele irá gerar e o que supomos que será necessário para a sua construção. Essas informações nos permitem obter nosso principal resultado desse ciclo, que são as hipóteses.

As hipóteses são suposições sobre uma proposta de valor, modelo de negócios ou estratégia. Ou seja, o que você precisa aprender para entender se sua ideia de negócio irá de fato funcionar.

Podemos classificar as hipóteses em três principais grupos:

  • Hipóteses de Desejabilidade: nossos clientes desejam isso?
  • Hipóteses de Viabilidade para o negócio: devemos fazer?
  • Hipóteses de Viabilidade técnica: conseguimos fazer?

Elas são a base para realizarmos nosso ciclo de experimentação e, por isso, sem o processo de Discovery, ficaria difícil de identificá-las.

Dicas para a definição de hipóteses durante dinâmicas:

💡Dica 1: Normalmente as pessoas que participam da dinâmica para a definição de hipóteses (pessoas de negócio, tecnologia, jurídico, financeiro, etc.), não possuem conhecimento do que é uma hipótese e nem a melhor maneira para se estruturar uma. Logo, fica mais fácil quando extraímos essas hipóteses por meio de perguntas como:

▪️ O que é necessário para a ideia dar certo?

▪️ Onde está o ponto fraco da ideia?

▪️ O que nós acreditamos?

💡Dica 2: O Business Model Canvas ou o Lean Canvas podem ser uma boa base para a extração de hipóteses. Em cada campo deles é possível extrair os diferentes tipos de hipóteses:

▪️ Hipóteses de desejabilidade podem ser encontradas nos campos de: proposta de valor; Relações com clientes; Segmentos de mercado e Canais.

▪️ Hipóteses de viabilidade técnica podem ser encontradas nos campos de: Parcerias chaves; Atividades chave e Recursos chave.

▪️ Hipóteses de viabilidade para o negócio podem ser encontradas nos campos de: Estrutura de custos e Fontes de renda.

💡Dica 3: No momento da dinâmica, não perca tempo estruturando bem a frase da sua hipótese, ela pode ser alterada pelo time pós dinâmica. Preocupe-se em extrair o máximo de hipóteses possíveis.

Experimentação

O ciclo de Experimentação é o momento de validar, por meio de experimentos, todas essas suposições traduzidas nas hipóteses que identificamos no ciclo de Discovery.

O primeiro passo é separar um backlog priorizado dessas hipóteses a serem validadas para sabermos por onde começar com nossos experimentos.

Para priorizá-las, uma forma simples é de colocá-las numa matriz de importância x evidência. Quanto maior a importância e menor a evidência, maior o risco ao prosseguir sem validá-la, logo, ela vira prioridade.

Matriz de Imporância x Evidência

Com nosso backlog priorizado podemos começar a definir os experimentos a serem feitos para cada hipótese.

Mas o que são experimentos? São procedimentos utilizados para reduzir o risco e a incerteza de uma ideia de negócio. Eles são responsáveis por produzir evidências fracas ou fortes que validam ou invalidam uma hipótese. Além disso, eles também podem ser baratos, caros, rápidos ou lentos de se conduzir e, por isso, a sua escolha vai depender dos recursos e tempo disponível de cada equipe.

Uma ótima maneira para se criar e detalhar experimentos é por meio da ferramenta Test Card da Strategyzer:

*Quer saber mais sobre como preencher o test card, acesse nosso instagram @dtidesign

Nosso principal objetivo com esses experimentos é o aprendizado. Eles nos permitem coletar dados e informações que nos possibilitam entender mais sobre determinada suposição, até que consigamos definir, junto das métricas de sucesso, se ela foi validada ou invalidada.

Os resultados dessas experimentações vão nos orientar a definir o risco que uma hipótese representa. Então, se uma hipótese for invalidada, ela representa um alto risco e, com isso, precisaríamos analisar se devemos descartá-la, continuar com os experimentos ou até retornar para a fase de Discovery para mapear novas dores. No entanto se uma hipótese for validada, ela representa um risco pequeno e poderia ir para a fase de crescimento e desenvolvimento normalmente.

Errar rápido para aprender rápido

💡 Mas mesmo validada, a hipótese ainda representa algum risco ainda que pequeno? Sim! Tudo o que fazemos com a experimentação serve para conseguirmos reduzir ao máximo os riscos, mas eles sempre existirão. Isso porque nunca vamos obter evidências que se assemelhem 100% à utilização do produto pelo usuário no dia a dia. Apenas quando nosso produto é lançado e esse cenário se torna real, que é possível atingir um risco nulo.

💡 Os experimentos devem ser o mais simples e rápidos possíveis. Quanto mais rápido aprendermos, menos recursos teremos investido em uma ideia que pode não gerar valor.

💡 Algumas hipóteses são mais fáceis de serem validadas por formulários e testes simples, porém, algumas só conseguem ser validadas por meio de experimentos que permitem que o usuário, de fato, utilize o produto. Nesses casos é recomendado o desenvolvimento de um MVP (Mínimo Produto Viável).

Crescimento

A partir do momento em que as hipóteses forem sendo validadas por meio dos experimentos (sejam esses pequenos ou até um MVP), chega o momento de passar para o ciclo de Crescimento, em que o produto será de fato escalado.

💡 Caso chegue nesse ciclo sem ainda ter desenvolvido um MVP, é recomendado que se comece com ele, visando aprender rápido com o mínimo necessário a ser desenvolvido.

Nesse momento da escalabilidade, para cada nova feature a ser implementada, devemos testar suas respectivas hipóteses antes de sua construção, visando mitigar riscos. Então, mesmo estando no ciclo de Crescimento, o ciclo de Experimentação nunca deixará de existir de fato, pois sempre existirão experimentos sendo realizados para a validação de alguma hipótese.

Uma vez que uma suposição for validada, novas surgirão, sejam relativas a novas oportunidades de solução ou a novas dores encontradas durante o uso do produto. Pode ser até que estas dores precisem ser exploradas em um novo ciclo de Discovery para, aí assim, gerarem novas hipóteses a serem validadas.

Um bom time de produto faz Discovery e experimentação de forma contínua, enquanto pensa no crescimento do seu produto.

Conclusão

Depois disso tudo, podemos nos perguntar novamente: qual o melhor momento do ciclo de construção de um produto para se realizar um experimento? A resposta é: TODOS!

Cada ciclo do produto contribui de alguma forma para que consigamos realizar as etapas da Experimentação, seja fornecendo as hipóteses que irão guiar nossos experimentos ou até novas oportunidades e dores que resultarão em novas hipóteses. Logo, a experimentação não tem hora, você estando em qualquer um dos ciclos é possível iniciar. Então não tem desculpa, que tal você começar a experimentar AGORA?

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