“Mamma Lucia”, de Mario Puzo | Começo lento, conclusão emocionante

Eduardo Spohr
Eduardo Spohr
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2 min readMar 25, 2019
"Mamma Lúcia", publicado no Brasil em 1973, pela editora Expressão e Cultura. Hoje só é possível encontrar em sebo. Procure na Estante Virtual.

Quem me acompanha sabe que sou um grande fã da saga “O Poderoso Chefão — não só dos filmes, mas principalmente do livro “O Chefão”, de Mario Puzo, publicado em 1969 nos Estados Unidos e em 1973 no Brasil. Como amante tanto da prosa quando do conteúdo das histórias de Puzo, decidi ler outros títulos dele, começando por “Mamma Lucia” (no original, “The Fortunate Pilgrim”).

Lançado originalmente em 1964, “Mamma Lucia” foi um sucesso de crítica, mas um fracasso de público, talvez por não possuir um elemento que chamasse atenção do grande mercado. Puzo encontraria esse elemento — a máfia — cinco anos mais tarde e o utilizaria em diversos de seus romances posteriores.

Apesar do título em português sugerir a existência de uma protagonista (a tal Mamma Lucia), esta obra conta, na verdade, com mais de um personagem central. Descreve a trajetória de uma família de imigrantes italianos em Nova York, explorando suas dificuldades financeiras, seus conflitos pessoais, seus sucessos e insucessos durante um período que vai desde o início da Grande Depressão (1929) até o meio da Segunda Guerra Mundial (por volta de 1944).

Puzo usou como inspiração os seus irmãos e em especial a sua mãe, cujo caráter centralizador o ajudaria a conceber tanto a matrona Lucia Santa (cabeça do clã) quanto o chefão Vito Corleone, no livro que ele escreveria a seguir.

MINHA OPINIÃO

Operário trabalha na construção do Empire State Building, em Nova York, durante os anos da Grande Depressão.

“Mamma Lucia” tem um começo monótono, precisamente porque Puzo gasta muito tempo (cerca de 40 páginas) apresentando cada um dos membros da família Angeluzzi-Corbo, saltando de um personagem para o outro e deixando o leitor um pouco perdido. Entretanto, após os capítulos iniciais, a narrativa ganha força e fica praticamente impossível largar o romance.

Depois de acompanhar a jornada de Lucia Santa, Octavia, Larry e Gino (dentre outros) através dos anos de extrema pobreza, é emocionante presenciar sua ascensão, nas décadas seguintes. O crescimento — , físico, mental e emocional — dos personagens é gradual e construído de uma forma que o torna profundamente verossímil.

Explorando de perto os cortiços nova-iorquinos, a vida dos imigrantes italianos e como eles se adaptaram ao novo mundo, “Mamma Lucia” não deixa de ser uma prévia de “O Poderoso Chefão”. Há quem considere, inclusive, que pertencem a um mesmo universo literário. Será?

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  • Escute os podcasts que participei sobre a obra. Links abaixo.

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Eduardo Spohr
Eduardo Spohr

Escritor, jornalista, professor universitário (curso de extensão, mas tá valendo), blogueiro, podcaster, filósofo de botequim e PHD em contar piadas sem graça.