“O Nome da Rosa” — Sherlock Holmes e Watson na Idade Média (e um pouco mais)

Eduardo Spohr
Eduardo Spohr
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2 min readMar 16, 2019
O Nome da Rosa — edição especial.

Finalizada a leitura de O Nome da Rosa, um livro essencial para quem curte (e estuda) Idade Média. Mas — bom avisar — não é uma obra para todos. Umberto Eco se vale de uma prosa um tanto complexa e talvez um pouco rebuscada para descrever alguns detalhes da abadia e da vida dos monges — é diferente de um Ken Follet, por exemplo, que em seu Pilares da Terra produz uma escrita mais direta, mais simples, mais focada nos personagens e em seus conflitos.

Não que isso seja ruim. Pelo contrário! Seria péssimo (desnecessário dizer) se todos os romancistas obedecessem ao mesmo estilo. Eco, falecido em 2016, era um catedrático, e o que ele traz de mais interessante a esta peça, ao meu ver, são as discussões filosóficas e acadêmicas acerca da religião, da sociedade e do mundo que nos cerca, sedimentadas por argumentos que vão desde o teólogo Santo Agostinho ao grego Aristóteles, entre outros (não vou lembrar de todos).

O debate final acerca do riso é, na minha interpretação, uma crítica às elites intelectuais que, em todos os tempos e em todos os lugares, parecem acreditar (ou propagar) que a diversão é um campo reservado à gente comum, ao “povo”, aos pobres e iletrados. Para esses, o verdadeiro intelectual é o “homem sério”, aquele que não ri, que está acima dos prazeres mundanos. Que grande mensagem — e que grande crítica — o autor nos apresenta nessas últimas páginas.

Enfim, “O Nome da Rosa” é também um thriller, uma história de suspense e assassinato, bem ao estilo Sherlock Holmes. Guilherme (ou William), o nosso herói, não é um Baskerville à toa. E o narrador não é Adso (Watson) à toa.

“O Nome da Rosa” é um livro que merece ser lido. Recomendo a belíssima edição da Record, que traz apêndices, acréscimos e notas do próprio Eco.

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Eduardo Spohr
Eduardo Spohr

Escritor, jornalista, professor universitário (curso de extensão, mas tá valendo), blogueiro, podcaster, filósofo de botequim e PHD em contar piadas sem graça.