Azaghal de Belegost, personagem do Kaue. Como o nome já diz, este anão das Montanhas Azuis descende de uma importante linhagem, mas no final da Terceira Era, a Casa de Belegost perdeu muito de sua glória do passado… Fonte: (não encontramos a fonte dessa imagem! Quem souber, favor nos comunicar)

Crônica de RPG O Senhor dos Anéis: A Tempestade Vem do Norte

Capítulo 3: Azaghal de Belegost

Temporada 1: Guardiões do Norte

Vinicius I.S. Lara
Dá XP?
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15 min readApr 15, 2022

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Dia 15 de Outubro de 3.008 da Terceira Era. Em algum local dos ermos do norte…

Azaghal de Belegost, herdeiro da antiga Casa Belegost, liderava um pequeno grupo de anões nas terras desoladas do norte da região de Eriador.

Sua missão: caçar e prender o traidor Ghûl, um anão das Montanhas Azuis que fugiu do reino após matar o próprio pai e confessar fazer uso de feitiçarias…

Azaghal se candidatou para realizar a missão. Precisava achar Ghûl, que deveria estar em algum lugar no norte. Precisava levá-lo de volta para as Montanhas Azuis para ser julgado.

Principalmente porque Ghûl era seu irmão mais velho e herdeiro legítimo da Casa Belegost.

E Azaghal não permitira isso. Limparia o nome de sua família.

Os Dúnedain

Mas o começo da missão já dava sinais de que não seria fácil. Após um encontro violento com um bando de goblins, Azaghal teve de enterrar um de seus irmãos, Khûd, que se sacrificou para salvá-lo.

Depois de muitas lágrimas derramadas, Azaghal escolheu se manter na missão: agora havia mais um motivo, mais uma perda para depositar na conta de Ghûl. Assim, acompanhado de seu irmão Thorim e dos irmãos Fili e Ghili, juramentados de sua família, Azaghal continuou a busca desesperada.

Até que os anões de Belegost encontraram um grupo de dúnedain liderados por um tal de Thargon, Chefe dos Andarilhos Azuis, e seus guardiões. Isso foi num início de tarde do dia 15 de Outubro.

Os anões foram bem recebidos pelo dúnedan, e agora ambos os líderes trocavam informações enquanto almoçavam juntos, sob a frágil proteção do Acampamento dos Andarilhos Azuis.

Thargon, dúnedan e Chefe dos Andarilhos Azuis. Fonte: (não encontramos a fonte dessa imagem! Quem souber, favor nos comunicar)

- Se me permite a ousadia, o que quatro anões fazem vagando no norte? — Thargon era um senhor de cabelos castanhos que já perdiam a batalha para os fios mais grisalhos. A barba dominava a face, assim como as rugas e seus olhos atentos e calmos. Mordiscava uma maçã enquanto fitava os anões comerem o simplório banquete de seu povo: cozido de carne e verduras.

- Viajo à procura de vingança — como um bom anão, Azaghal não gostava de meias palavras. Além do mais, tinha simpatizado com o velho dúnedan.

- Vingança… Contra quem? O Inimigo?

- Não. De um parente traidor.

- Um parente? — Thargon cessou seu ataque sobre a maçã. — Um parente traidor? E você conhece o paradeiro deste anão traidor?

- Não. E é isto o que faço aqui, no norte: procurando notícias. Ouviu algo sobre anões viajando por estas terras?

- Não. Ao menos não de anões que tenham feito algo a ponto de instigar vingança de seus parentes — Thargon voltou a morder sua maçã. — Mas ouvi sobre uma caravana de anões comerciantes.

- O que ouviu? — Azaghal tinha terminado de comer, e agora alisava sua barba preta, curioso. — Anões de onde?

- Anões das Montanhas Azuis, talvez. Pelo menos é o mais provável. Estes comerciantes foram atacados em algum ponto ao redor de Bri. Pelos boatos, não houve sobreviventes.

- Hum… — o Senhor de Belegost demorou em seu estudo. O homem não parecia mentir. Na verdade, pelo pouco que sabia sobre aquele povo, não tinham interesses em atacar anões comerciantes.

Uma mulher, semelhante à Thargon nos modos e no olhar, aproximou-se, cochichando alguma coisa no ouvido do Senhor dos Andarilhos Azuis.

Àquela notícia, Thargon se levantou, parecendo tirar um grande peso dos ombros. Aquilo aguçou a curiosidade de Azaghal.

- Está acontecendo alguma coisa?

- Bem — Thargon deu de ombros. — Como se não bastasse anões traidores… Já há desgraça suficiente rondando meu povo — e, num gesto, convidou o anão para acompanhá-lo.

Azaghal caminhou ao lado do dúnedan, observando o acampamento conforme andava. Era um local frio. Era a única palavra que vinha à mente do anão. Frio. O acampamento era composto por tendas azuis, tão gastas e sujas que Azaghal teve que adivinhar a cor. Havia quinze tendas, e não mais do que uma vintena de homens e mulheres. Crianças? Raras. Raras e tristes.

- Um grupo de meus irmãos foi atacado — Thargon começou a explicação enquanto andavam, vagarosamente, em direção a uma das tendas (a mais distante delas). — Isso já faz alguns anos. Os encontrei e desde então tento amenizar a dor dos sobreviventes.

Azaghal sentiu o cheiro antes mesmo de entrar na tenda. Experimentou aquele cheiro poucas vezes em sua curta vida de anão. O cheiro da morte: uma mistura azeda de urina, pus, sangue e bosta.

Thargon pareceu não se incomodar com o cheiro.

Entraram para se depararem com três pessoas deitadas e cobertas. Com exceção de uma, as outras pareciam no limiar da morte.

- Dois dos sobreviventes estão há três anos mergulhados numa febre horrível. A dor sempre piorando. Nossos curandeiros não tiveram muito sucesso. Com exceção desta mulher.

O anão prestou atenção na mulher magra e pálida. Os ossos esticavam a pele numa tentativa de se revelarem. Os olhos fundos e tristes fitavam as paredes de couro numa opacidade mórbida, como se nada enxergassem.

Azaghal se compadeceu da mulher. Um dia, no passado, provavelmente fora uma pessoa bonita. Imaginou-a altiva, em um manto cinza, liderando seu povo. Mas agora, era uma doente digna de pena.

- No início — continuou Thargon. — Conseguia conversar com ela. Confesso que na maioria das vezes eu mais ouvia do que falava, pois ela pronunciava palavras obscuras durante seus sonhos inquietos. Mas, nos últimos meses, ela piorou rapidamente. Isso é motivo de tristeza, pois ano passado houve um período em que ela pôde se levantar, nos ajudar, e até mesmo festejar à primavera. Seu nome é Callendeth, Olhos Iluminados, Senhora das Estrelas Prateadas.

- E do que se tratavam os sonhos dela? — a primeira aventura de Azaghal longe de suas Montanhas Azuis já lhe mostrava todo um mundo diferente do seu. A perda era algo doloroso, ele sabia bem, não conseguia parar de pensar em seu irmão Khûd. Mas preferia uma perda rápida do que aquilo: minguar aos poucos.

- Os sonhos falavam, basicamente, de seu filho perdido. Não sei ao certo… Parece-me que um bando de orcs pilhou seu acampamento — Thargon curvou os ombros, dominado pela tristeza. — Esses últimos anos foram ruins. Muito ruins. Perdemos muitos irmãos e irmãs.

- Também perdi pessoas queridas. Mas precisamos acreditar que dias melhores virão.

Thargon ajoelhou, tocando a testa da mulher. Parecia um pai protegendo sua amada filha das mazelas do mundo. O dúnedan sussurrou algumas palavras em élfico. Azaghal reconheceu ser a língua élfica, mas não conseguiu identificar as palavras.

- Sim… — ergueu-se Thargon. — Eu acredito. Dias melhores virão. A notícia que minha irmã me trouxe, durante nossa conversa, Mestre Anão, é de que a febre de Callendeth recuou — o homem esboçou um sorriso cansado, de quem não tem mais forças para se iludir. — E isso é motivo de alegria. Qualquer esperança de vida é motivo de alegria.

O Começo de uma Amizade

De volta ao centro do acampamento, os líderes (dos dúnedain e dos anões), terminavam sua conversa.

- Bem… Fique a vontade, Mestre Anão. Não temos muito a oferecer, mas você e sua Casa são bem-vindos e, enquanto estiver conosco, o que temos é de vocês também. Quanto a sua missão, espero que seu coração saiba escolher o certo e o justo. Não é fácil enfrentar o próprio sangue.

- Não, não é… Mas não reclamo. Este é o fardo que carrego. Nasci para isso, vou cumprir minha missão.

- Espero que nossas estradas se cruzem em momentos mais felizes. Se quer um conselho: segundo os boatos que chegaram até mim, procure pelos Mantos-negros. São mercenários que já fizeram muito pelo povo de Bri, mas isto foi no passado. Mantenha os olhos abertos e os ouvidos atentos.

- Obrigado, Homem do Norte. Fico feliz que há pessoas que se preocupam em cuidar dos outros — Azaghal ofereceu uma moeda de prata.

- Não os recebi em meu acampamento por dinheiro, Mestre Anão.

- Sei disso, mas aceite. É o mínimo que posso fazer por alguém que trata tão bem o próprio povo.

Thargon recebeu a moeda de prata, analisando a gravura desenhada no metal: uma montanha com quatro cumes.

- Muito bem — disse o dúnedan. — Aceitarei como prova de nossa amizade.

E, assim, os anões partiram, deixando os Andarilhos Azuis para traz.

Uma Missão de Resgate

- Pensei que não pararíamos para comer — Ghili parecia mais esfomeado do que cansado.

- Não há necessidade de tanta pressa — disse Azaghal, olhando ao redor. — Precisamos poupar nossas forças, teremos muitas provações para superar.

- Hah! Heh, heh… — Fili soltou sua marreta e se apressou com a pederneira. Ghili não era o único faminto — É bom saber que temos um caminho certo para seguir. Estava cansado de vagar pelos ermos do norte! Cansado de tanta caminhada sem sentido! Heh, heh, heh!

Ghili, o besteiro, é um dos leais soldados da Casa de Belegost e irmão de Fili. Fonte: (não encontramos a fonte dessa imagem! Quem souber, favor nos comunicar)

- Não esqueça, irmão — disse Ghili, esquentando a carne para os demais. — Vamos buscar informações, mas segundo o Senhor Azaghal, nosso objetivo maior ainda está para o norte.

- Thorim? — Azaghal se sentou. Seus olhos encaravam as Colinas dos Ventos, que despontavam ao leste. — Está calado demais. Há algo que queira falar?

Thorim coçou o nariz e fungou duas vezes. Olhou para o irmão, abriu a boca. E deu de ombros — Não… Estou bem, irmão.

- Existe algum povoado no meio daquelas colinas — Ghili, o besteiro do grupo, demonstrava ser o mais atento.

- É, há fumaça saindo de lá — disse Azaghal. — Mas não vejo necessidade de desviarmos o nosso caminho. Viajaremos num ritmo lento, mas constante. Quero chegar a Bri o quanto antes, mas sem consumir nossas energias. Não sabemos o que podemos encontrar.

- Será que tem alguma ligação? — murmurou Thorim. — A caravana de comerciantes com o nosso irmão Ghûl, quero dizer…

- Saberemos quando chegarmos. Algo me diz que este caminho nos levará até Ghûl…

Mas não foram muito longe. O cair da noite trouxe perigos velados.

Num rompante, uma cacofonia os atingiu vindo das Colinas dos Ventos, a leste.

Gritos agudos, desesperados.

Rugidos e gargalhadas.

Choque de armas e ribombar de tambores.

- Isto é um ataque de orcs! — gritou Fili.

- Vem das colinas — disse Ghili. — As pedras ecoam os gritos de mulheres e crianças.

- Vamos! — Azaghal não hesitou. — Peguem os equipamentos, vamos!

- Mas, irmão… — disse Thorim, não queria se passar por covarde, mas… — E nossa missão?

- Nossa missão virá logo após — teimou Azaghal. — Não podemos deixar inocentes caírem pelas lâminas de orcs imundos! Vamos!

E numa corrida urgente, os quatro anões venceram os aclives rochosos das Colinas dos Ventos.

A cada passo, o som aumentava, mas a marcha se mostrou mais difícil do que imaginavam. O som ecoava nas pedras, dando a falsa impressão de que o ataque estava próximo, mas foi somente após quase uma hora, quando não se ouvia mais os gritos agudos clamando por socorro e misericórdia, que os anões alcançaram o topo de uma colina de onde podiam ver a chacina se encerrando lá embaixo, na noite escura.

Alguns berros desesperados, implorando clemência, surgiam. Os urros e gargalhadas dos orcs continuavam ecoando pelas colinas — aquelas criaturas sádicas se divertiam com a destruição e a morte.

Não importava que fosse noite de lua nova, os casebres de madeira queimavam com ferocidade, clareando a aldeia arruinada com violência.

Era possível enxergar seres correndo para todos os lados, mas era difícil detectar vítima de algoz.

Fili, irmão de Ghili, é conhecido por sua força bruta e impaciência, jamais dispensando uma boa briga. Fonte: (não encontramos a fonte dessa imagem! Quem souber, favor nos comunicar)

Azaghal e Fili foram os primeiros a alcançar o topo da colina. A partir dali era descida, intercalada por dois pequenos montes, até atingirem a aldeia.

- Senhor… — Ghili veio logo atrás, com a besta nas mãos, acompanhado de perto por um Thorim igualmente esbaforido. — O que… faremos agora?

- Vamos matá-los — Fili firmava a marreta nas mãos, ansioso para usá-la.

Azaghal estudou seus companheiros. Ghili permanecia calmo; Thorim tinha os olhos arregalados. Seu irmão estufava o peito, numa tentativa de esconder o medo que sentia. Já Fili… Azaghal precisava de um plano rápido, ou o outro anão desceria o vale ávido para esmagar cabeças de orcs. E morrer cercado por tantos outros.

- Ghili, consegue ver quantos orcs há? — aquele conhecimento era essencial, e daria tempo para Azaghal pensar em algo.

- Difícil dizer…

Enquanto o besteiro tentava dimensionar a força inimiga, Azaghal olhou para a aldeia. Era um local humilde, com pouco mais de vinte construções dispostas na borda do vale, formando um singelo círculo. O solo era duro, cheio de pedras e com pouquíssimas árvores — estas ao centro, conformando a única praça. As colinas desciam num declive tranquilo, tornando-se íngreme ao se aproximar da aldeia, e a distância entre as construções era curta. O fogo já consumia boa parte das casas. Azaghal começou a ter uma ideia… Mas ficou preocupado com seu irmão.

- Thorim, fique aqui em cima com Ghili, caso haja algum batedor inimigo, você será útil para proteger nosso único atirador.

- Negativo — teimou Thorim. — Se você vai, eu também vou. Já perdi um irmão, não perderei outro.

- Eu entendo sua dor… Tudo bem, você lutará ao meu lado — Azaghal virou-se para os outros. — Ghili, fique aqui no topo da colina, encontre um local seguro e coloque essa besta para trabalhar.

- Podemos ir, Senhor? — Fili não se segurava de ansiedade — Basta descermos e matarmos.

- Calma Fili, ajude-me a colocar a armadura.

Enquanto Fili conferia os fechos das ombreiras e do peitoral do Senhor de Belegost, Ghili fazia seu relatório impreciso: estimava trinta orcs. Talvez mais, talvez menos.

- Certo… — Azaghal alisou a barba, finalizando seu pensamento. — Vamos descer a colina evitando qualquer barulho. Eu e Thorim ficaremos lado a lado, fazendo uma parede de escudos. Fili, você ficará atrás de nós: faça sua marreta esmagar a cabeça de qualquer um que parar em nossos escudos. Vamos deixar que a besta de Ghili cause o maior estrago possível antes do choque das armas. Esperaremos que os orcs não consigam escalar a base das colinas. Se não fomos flanqueados, poderemos acabar com essas criaturas imundas. Entendido, senhores?

Os olhos de Fili brilhavam. Quatro anões destruindo um bando de 30 orcs? Ganhariam canções nas Montanhas Azuis para celebrar este feito!

- Senhores! — Azaghal precisava ter certeza de que eles acreditavam no sucesso da empreitada. — Lembrem-se de suas histórias! Lembrem-se do motivo de estarem aqui! Lembrem-se de tudo o que essas criaturas imundas tiraram de vocês! E se vinguem!

E, assim, com os corações clamando por sangue, os anões desceram a última colina. Enquanto os virotes da besta de Ghili cortavam a noite, os três anões desceram, ávidos para destruir uma força oito vezes maior que eles…

Os Anões de Belegost

Após longos minutos — e quatro tiros disparados por Ghili — Azaghal e seus companheiros terminaram a descida e se posicionaram entre duas casas destruídas pelo fogo. A pilhagem dos orcs tinha praticamente acabado, mas as criaturas eram barulhentas demais para notarem o avanço dos três anões.

- Fili — Azaghal tivera outra ideia. — pegue a picareta emprestada de meu irmão e faça uma pequena vala. Assim os orcs perderão o ritmo da investida.

Enquanto Fili golpeava o solo — produzindo algumas faíscas entre um golpe e outro — Azaghal achou o que supôs ser o líder daquela operação: uma sombra envolta em capas ou casacos volumosos e uma cabeleira loira que se destacava dos orcs. Só podia ser algum homem estranho do norte. Um homem liderando bando de orcs para pilharem aldeias inocentes.

Após mais dois tiros de Ghili, o líder detectou as faíscas da picareta de Fili, e enviou cinco orcs para descobrir o que estava acontecendo.

Thorim é ávido em estudar fortificações e hábil no trabalho com alvenaria. Um dos dois irmãos mais novos de Azaghal (uma vez que Khûd fora morto). Fonte: (não encontramos a fonte dessa imagem! Quem souber, favor nos comunicar)

Foi tempo mais que suficiente para Fili finalizar a pequena vala, capaz de fazer um inimigo tropeçar e abrir a guarda para os golpes dos anões. Devolveu a picareta para Thorim.

E, dessa maneira, os anões esperaram os orcs se aproximar.

Quando o inimigo estava a pouco mais de 20 metros, Azaghal conseguiu diferenciá-los: um lanceiro, três espadachins e um arqueiro. O próximo tiro de Ghili foi certeiro, derrubando o lanceiro com um virote no pescoço.

O arqueiro orc, revoltado, disparou a primeira flecha. Ela ficou cravada no escudo de Azaghal. O arqueiro continuou disparando, na esperança de alguma de suas flechas encontrarem uma brecha entre os dois escudos.

Azaghal e Thorim absorveram os tiros, até que Ghili conseguiu derrubar o arqueiro com um tiro na testa.

Os outros três orcs gritaram, chamando mais de seus camaradas. O líder urrou uma ordem de ataque. E o inimigo investiu contra os anões.

Azaghal agiu primeiro. Seu machado desceu duas vezes, destroçando o ombro do primeiro orc. A criatura, pressionada pelos seus colegas que vinham atrás, não tinha como fugir; e estava ferida demais para lutar.

Não que isso mudasse alguma coisa, pois a marreta de Fili varreu à frente com fúria num golpe em arco. Quebrou o pescoço do orc ferido pelo Azaghal, e esmagou o crânio do segundo, que se preparava para atacar Thorim.

Thorim, inspirado pelas ações de seu irmão e de Fili, golpeou com a picareta, liberando um grito de raiva. A arma perfurou fundo o ombro do terceiro orc. Thorim, sem hesitar, puxou a arma e golpeou novamente, acertando a parte chata da picareta no rosto da criatura, que caiu inconsciente.

A besta de Ghili disparou mais uma vez, então os anões receberam a carga dos orcs em seus escudos. A vala feita por Fili ajudou a quebrar o ímpeto do ataque do inimigo, e as três vítimas dos anões fez os outros orcs tropeçarem.

Azaghal tinha razão: poderiam manter aquele ritmo a noite toda. Os anões revidaram com machado, marreta e picareta. A besta de Ghili, distante no topo de uma colina, mordeu novamente.

Mais três orcs tombaram.

Enquanto Fili provocava o inimigo, uma lança, arremessada de algum ponto atrás dos orcs mergulhou no meio dos anões. Atingiu o ombro de Thorim, mas graças à cota de malhas não perfurou fundo, caindo no chão.

Conforme os orcs recuavam, Azaghal avistou o líder: o homem portava um machado na mão esquerda e tirou outra lança das costas com a mão direita.

- Covarde! — gritou Azaghal. — Venha até aqui! Lute comigo!

Sorrindo, o homem arremessou a segunda lança. A arma cravou no escudo de Azaghal.

- Venha até aqui, seu covarde! — apesar das provocações, o anão manteve sua posição: ir para o centro da aldeia era convidar o inimigo para o banquete. Tinha que evitar ser flanqueado.

O homem inclinou o corpo num cumprimento zombeteiro. O sorriso no rosto. Então, numa língua grosseira que os anões não conheciam, ele deu ordens aos orcs, virou-se e partiu, escalando as colinas.

Os orcs seguiram seu líder, subindo as paredes rochosas e sumindo na noite escura.

A Dor de Pedrasfundas

Ghili se juntou aos seus companheiros depois de se certificar que os orcs haviam realmente fugido.

Mas Fili ia à frente, revoltado pela fuga do inimigo. Descontrolado, o anão batia a marreta no chão.

- Fili! — Azaghal não podia permitir que qualquer um deles fosse para o centro da praça, não tão cedo. — Fili, volte!

- Senhor! Eles estão fugindo!

- Deixaremos que fujam! Ir atrás deles, em campo aberto, é loucura.

Com esforço, Fili se acalmou e se reagrupou com os outros, entre duas construções.

- Estão todos bem? — Ghili trazia a sua besta no ombro.

- Estamos todos bem — disse Azaghal. — E você?

- Tudo ótimo, Senhor. Estou com metade dos virotes, mas… He, he! É sempre bom matar orcs.

Enquanto seus companheiros reviravam os corpos e revistavam o inimigo, Azaghal olhou em volta, notando algumas pessoas retornando à aldeia.

- Esses orcs… — disse Thorim. — É um bando precário, apenas para pilhar pequenos povoados. Não possuem proteção alguma, e suas armas são de péssima qualidade, até mesmo para orcs.

- Sim, não foi a toa que fugiram — disse Azaghal. — cumpriram o objetivo de destruir vidas inocentes. Mas gostaria de saber o motivo disso. Por que um homem lidera orcs para esse tipo de missão?

Atrás do que sobrou de um barril, os anões visualizaram uma garota. Os olhos arregalados de medo. Ela recuou alguns passos, tropeçando.

- O que… O que são vocês?

- Nos escondemos embaixo da terra por tanto tempo assim? — disse Azaghal, tentando parecer gentil (a despeito da sujeira que lhe cobria). — Somos anões, criança.

- Anões? — a garota hesitou por um momento. Os lábios trêmulos. Então disparou, num desespero doloroso. Ajoelhou-se e abraçou o anão como se disso dependesse sua vida.

- Eles vieram… Mataram todos… Meu pai… Minha vó… Todos… Eu e algumas crianças… Nós… nós conseguimos nos esconder, mas…

- Calma, eles já fugiram — o anão tentava consolar a garota. Mas ele era guerreiro, não estava acostumado com crianças e não sabia como funcionava a mente daquele povo.

- Não! — a garota apertou o anão ainda mais — Eles vão voltar… Sei que vão… Não temos mais nada, como vamos viver?

Azaghal também pensou nisso: como iriam viver? Contando com aquela garota, haviam 10 crianças. Enxergou um idoso, um pouco machucado, e duas mulheres que voltavam, descendo as colinas.

- Eles também já tiraram muito de mim — disse Azaghal. — Eu dou a minha palavra de que vou descobrir quem são. Farei o possível para ajudar você e seu povo. Qual seu nome?

- Terla… de… de… Pedrasfundas…

- Sou Azaghal de Belegost, e juro que irei protegê-la, Terla.

- Obrigada… Senhor Azaghal… Mas… Para onde vamos? — a garota não conseguia parar de chorar.

- Irmão — disse Thorim. — Estamos indo para Bri, não temos condições de alimentar tantas bocas, e se os deixarmos aqui, irão morrer.

- Ficaremos! — gritou Fili. — Lutaremos e mataremos todos!

- Não vamos ficar — disse Azaghal. — Mas vamos ajudar este povo.

- Senhor — disse Ghili. — Não podemos esquecer nossa missão.

- Não preciso que ninguém me lembre disso, Ghili. Mas não posso deixar este povo à míngua.

Nota da Edição: Este trabalho é uma adaptação das sessões de RPG de mesa, que estamos desenvolvendo para um formato de texto, romanceado. Quaisquer erros de informação quanto às Fontes (de imagem e demais documentos) ou erros quanto à informação do universo de Tolkien, nos comuniquem que atualizaremos.

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Vinicius I.S. Lara
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Escritor Independente. Narrador de RPG nas horas vagas. Tentando sonhar menos e realizar mais...