Design contemporâneo no mundo do trabalho

pensar design
e o design com isso?
3 min readJun 16, 2021

Por Victor Teodoro

Em nossa sociedade atual, avanços tecnológicos são exponenciais, tanto em quesitos de equipamentos eletrônicos quanto em programas que são executados neles. Isso é perceptível em diversas plataformas, desde entretenimento, como jogos digitais, programas de streaming, aplicativos para lazer e também em programas voltados para uso profissional. Muitas profissões encontram-se em um ciclo altamente acelerado de adaptação a novas ferramentas e descoberta de outras ainda mais avançadas que surgem logo em seguida. Profissões que dependem de computadores são especialmente afetadas por esse momento, como programadores que, não atualizando seus conhecimentos em linguagens de programação recentes, dentro de pouco tempo podem ver seu repertório se tornando obsoleto.

De maneira similar, o design tem sua execução muitas vezes atrelada ao conhecimento técnico de ferramentas que possibilitem a criação e concretização de diversos projetos. O design gráfico fez uma transição de um processo manual minucioso com ferramentas de precisão como compassos e esquadros, para programas com tais ferramentas incorporadas, acelerando e facilitando o processo para muitos, porém segregando pessoas na profissão que pelas mais diversas razões não tivessem a oportunidade de terem acesso ou a aprendê-los.

Além disso, mesmo entre aqueles que têm o privilégio do acesso a tais programas e conhecimentos necessários para manipulá-los, a vasta diversidade atual dessas ferramentas para escolha dos profissionais impõe novos desafios: Entender quais delas melhor se adaptam à sua forma de trabalho; Aprender a usar cada programa individualmente (pois, apesar de possuírem similaridades, cada um costuma funcionar com atalhos e funcionalidades diferentes) e decidir quando substituir um programa por outro mais atual.

É um cenário intimidador. Nesse momento, é fácil deixar tais questões preencherem por completo a mente de um profissional que busca avançar em sua técnica e em sua carreira. Isso também não se limita somente aos profissionais, é possível observar esse fenômeno em vagas de emprego, onde o domínio de tais ferramentas costuma ser um pré-requisito. Enquanto isso, conhecimentos desenvolvidos através de estudos, dentro ou fora da faculdade, tais como metodologias de desenvolvimento de projeto, pesquisa e pensamento crítico, que definem o projetista por trás de certas habilidades técnicas, são muitas vezes ignorados. Não é incomum um relacionamento de trabalho onde clientes e empresas buscam alguém para colocar no papel suas ideias através da execução ferramental, rejeitando contribuições mais profundas de designers nos projetos.

Essa situação gera uma inquietação sobre que direção essas profissões terão no futuro. Com tantas novas tecnologias e oportunidades surgindo a cada dia, estará nossa liberdade criativa nesse cenário sendo impulsionada ou limitada? Tecnologias como realidade virtual e realidade aumentada literalmente criam novos mundos e dimensões para serem explorados e criados. Porém as mentes criativas que estão desbravando esses novos territórios terão de fato a liberdade de fazê-lo? Trabalhos pessoais nessas áreas há muito tempo se mostram como uma resposta forte a essas limitações, nos mostrando possibilidades formidáveis, com projetos que exploram de fato os limites da união entre a imaginação humana e as ferramentas por eles criadas. Trabalhos imbuídos de paixão e esforço dificilmente encontrados em projetos maiores, com um número maior de envolvidos, onde, ironicamente, existe a maior capacidade técnica e de experiências acumuladas.

Dentre questões diversas do relacionamento entre criadores e o mundo que estão inseridos, o relacionamento entre eles e o mundo do trabalho tem um horizonte difícil de enxergar. Serão as pessoas encarregadas do conhecimento técnico dos novos programas a serem desenvolvidos separadas das pessoas encarregadas pelos processos criativos? Dentro dos espaços corporativos, é possível que a técnica se torne alienada permanentemente da paixão que a motiva. Se essa hipótese melancólica se tornar realidade, espero que a paixão das pessoas que ainda fazem nascer projetos incríveis possa nos motivar a uma nova forma de pensar e viver o ato de criar enquanto trabalho.

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