Design tem tudo a ver com isso
Em mais um semestre à distância, tivemos a oportunidade de refletir sobre nossa prática pensando no cotidiano e nas coisas ao nosso redor. Fosse nas redes sociais que frequentamos, nos filmes que assistimos, nas exposições que visitamos e em diversas outras experiências que tivemos. Esses são os “issos” que queremos descobrir em que o design tem a ver.
Essa investigação me lembra uma analogia feita pela Prof. Nayara Moreno, que ouvi em algum momento da graduação em Design na Universidade de brasília, e compara certa inquietação inerente a designers com uma pulguinha. É essa pulguinha do design que salta quando nos deparamos com situações que transformam nossa rotina, nossa cultura, quando pensamos em algum tipo de melhoria em um objeto do cotidiano ou analisamos sob um olhar específico um documentário que assistimos. Isso deixa ainda mais interessante a tentativa de compreender o design, principal objetivo dos nossos encontros.
O design como disciplina foi forjado para ser afirmativo e validar os interesses dominantes, ao mesmo tempo tem em sua formação o questionamento como combustível. No desenvolvimento de projetos somos movidas por perguntas: como posso fazer isso da melhor maneira possível? Quais são nossos objetivos? Como isso pode ser mais adequado para essa pessoa? E se fizéssemos vermelho isso que antes era azul?
Se as perguntas que nos movem no desenvolvimento de projetos, por que elas não instigam também uma prática mais questionadora? Por que, em muitos casos, nos condicionamos a aceitar padrões desonestos e enganosos em nossas rotinas de trabalho? Ao mesmo tempo, não estamos apenas procurando temas nobres e relevantes, temos um interesse genuíno em não nos acomodarmos em uma mentalidade predatória, excludente e acrítica.
Mais do que passear pela história do design ou saber que tal pessoa foi expoente de determinado movimento, o objetivo dessa publicação é incentivar uma escrita sobre design que seja livre e reflexiva. A partir de trajetórias e preferências muito diferentes, percebemos como os nossos interesses dialogam num cenário em que o design é cada vez mais abrangente e está inserido em qualquer tipo de ambiente, seja corporativo, acadêmico ou social.
Durante o 1º semestre de 2021, que aconteceu entre julho e novembro do mesmo ano, nos encontramos às sextas e nos dedicamos a ler, pensar, conversar e escrever. Cada texto que compõe essa publicação é um pequeno retrato do nosso tempo e das reflexões que este tempo impõe à nossa profissão.
Uma fala recorrente de qualquer prof é: quem dá aula mais aprende que ensina, e aqui o clichê se repetiu mais uma vez. Nos ambientes de ensino, a aprendizagem vem de todos os lados e corre por todos os sentidos. Nos encontros, diálogos e reflexões sentimos desconfortos que nos motivaram, que atiçaram aquela pulguinha.
A disciplina ‘Compreendendo o design: questões contemporâneas, teoria e história’ é um EDD (estudo dirigido em design) do Departamento de Design da Universidade de Brasília, ministrada desde 2019.
