Estudando com quadrinhos: As possibilidades de uso dos quadrinhos na educação

pensar design
e o design com isso?
4 min readNov 9, 2021

Por Fabíola Pantoja

Ao pensar em histórias em quadrinhos, nossas mentes geralmente vão para aventuras lúdicas de quadrinhos infantis ou para os grandes super-heróis. Seja qual for o gênero, nos envolvemos em suas vidas fictícias e aprendemos com eles, às vezes, lições que levamos para as nossas vidas. Então por que não lições de física ou português? O universo da ficção está cheio de oportunidades de aprendizado, não só de lições de moral, como também em conteúdo didático.

A habilidade de contar e desenvolver narrativas de forma que cativam o público, o storytelling, é uma técnica utilizada tanto por designers quanto por quadrinistas. Ao criar uma história, o quadrinista utiliza de vários métodos visuais, como ilustrações, expressões faciais ou onomatopeias, além de técnicas narrativas para fazer com que a pessoa que está lendo se sinta dentro da história. Pode-se dizer o mesmo da utilização de storyboards por designers. “Os designers usam storyboards para comunicar suas ideias a clientes e colaboradores. Designers também usam ilustrações narrativas para pensar sobre um problema, esboçar ideias e gerar empatia com usuários à medida que enfrentam desafios cotidianos” (LUPTON, 2020, p. 38 ). Contar histórias, quadro por quadro, para gerar sensações ao seu público é uma das características que une o design aos quadrinhos.

Na educação infantil, pode ser um grande desafio manter a concentração de crianças em sala de aula. A eficácia de uma aula depende tanto da atenção do aluno quanto da qualidade da performance do professor ao explicar os conteúdos.

Muitas das dificuldades de concentração de uma criança em aula podem ser devido ao desinteresse ou a forma de um professor explicar a matéria, com excessos de verbalismo. Quando esse tipo de bloqueio parte do professor, além de ser cansativo para o próprio professor, o interesse dos alunos cai (WITTICH, 1968).

As histórias em quadrinhos acabam sendo uma boa ferramenta de aprendizado por permitir a exploração do conteúdo de maneira divertida e descomplicada. Segundo Funk e Santos (p.6,2008), a narrativa desenhada em quadrinhos é um meio visual, que pode ajudar no processo de aprendizagem, principalmente por ser capaz de estimular o interesse da criança, o que é importante para a eficácia de seu aprendizado.

Nas fases iniciais da escolarização, os gibis também ajudam na alfabetização e no interesse inicial pela leitura. O texto de Pellegrini (2000) relata a experiência da professora de Português e Educação Artística, Cynthia Nagy, ao utilizar os quadrinhos para ensinar seus alunos da pré-escola do Colégio Mopyatã. No início, a professora lia os gibis para a turma e, eventualmente, os alunos começaram a confeccionar seus próprios quadrinhos. No fim do ano, apenas dois alunos não estavam alfabetizados e as tiras produzidas pelos alunos formaram um almanaque.

Outro projeto interessante é o Semeando o Prazer de Ler com as Histórias em Quadrinhos, de Marcelo Campos. O professor produziu fantoches dos personagens favoritos da sua turma e descrevia suas características. Depois organizou a comunidade e os pais para montar uma gibiteca para os alunos. No fim do projeto, foi organizada uma carroceria de caminhão para transportar gibis e as crianças para outras unidades educacionais, onde não só eram emprestados os gibis como também eram organizadas rodas de leitura para alunos de todas as idades.

O uso de quadrinhos pode ser aplicado também com adolescentes, afinal HQs são muito apreciadas pelo público infanto-juvenil. Seus temas podem gerar debates e evoluir o pensamento crítico, tanto de crianças quanto de jovens. De acordo com Junqueira et al (2007), o material dos quadrinhos é dinâmico pela possibilidade de abordar temas diferentes que geram debate em cada edição, ao contrário dos livros didáticos, que possuem geralmente o mesmo conteúdo por anos sem muita espaço para novos temas.

Uma turma de Ensino Médio criou com auxílio dos professores um gibi sobre os impactos ambientais da extração de rochas ornamentais no município Santo Antônio de Pádua, RJ. A criação de um quadrinho exige muita pesquisa sobre o assunto abordado, ainda mais sendo um tema tão específico. Os alunos da escola viram a realidade do local onde moram, coletaram suas referências, usaram a criatividade e criaram o roteiro e personagens baseados no que estudaram. Depois de pronta, a revista foi apresentada para outros alunos e professores.

A fase de desenvolvimento de crescimento de uma pessoa é cheia de experiências marcantes para o futuro. Ao lembrar da escola, os momentos de desinteresse e tédio nas salas de aula não são aqueles que ficam gravados. A criação de uma boa narrativa exige muita pesquisa e leitura, coisas que designers e quadrinistas conhecem muito bem. Há diversas aplicações do uso de quadrinhos no ambiente escolar. Não só em português ou artes, pensando apenas em texto e desenho, como também em qualquer outra disciplina. Com envolvimento de estudantes no conteúdo, estimulando assim a curiosidade e criatividade, talvez até o conteúdo mais difícil e maçante se torne envolvente. Basta usar a imaginação.

Imagem: Khairul Nizam / Pexels

Referências

FUNK, S.; SANTOS, A. P. dos. A Educação Ambiental Infantil apoiada pelo design gráfico através das histórias em quadrinhos, 2008.

JUNQUEIRA, H; DEL PINO, J. C; LÜDKE LISBÔA, L. A temática ambiental e seu potencial educativo nas histórias em quadrinhos de Mauricio de Souza, 2007.

LUPTON, E. O Design como Storytelling. Editora G. Gili, 2020.

PELLEGRINI, D. Aulas que estão no Gibi, 2000.

SABINO, C. V. S.; DIAS, S. D.; LOBATO, W. Uso da história em quadrinhos na educação ambiental em Santo Antônio de Pádua — RJ. Terrae Didatica, Campinas, SP, v. 15, p. e019032, 2019.

SANTOS, M. O. dos; GANZAROLLI, Emilia. Histórias em Quadrinhos: Formando leitores. Transinformação, Volume: 23, Número: 1, Publicado: 2011.

TOLEDO, A. Gibis que estimulam a turma a tomar gosto pela leitura. 2007.

WITTICH, Walter Arno. Recursos audiovisuais na escola. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1968.

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