Os bonecos no universo cinematográfico

pensar design
e o design com isso?
6 min readNov 16, 2021

Por Bruna Camilla Cruz

Brinquedos são objetos que alimentam o imaginário infantil. Algo que parece ingênuo à primeira vista. Mas quão assustador seria se eles ganhassem vida?

Neste texto serão analisados dois filmes de grande sucesso: Toy Story (1995) e Brinquedo Assassino (1988) que contam a história de brinquedos que ganham vida, têm consciência e estão em busca de seus respectivos donos. Ambos os brinquedos (Chucky e Buzz) são lançamentos de brinquedos mais tecnológicos e são dados de presente de aniversário para uma criança de mesmo nome, Andy. Então veremos o quão semelhantes são e quais elementos separam estes filmes que têm bonecos como protagonistas, mas possuem classificações indicativas muito diferentes.

Poster do filme Brinquedo Assassino (1988). Trailer

1988: Brinquedo Assassino, da MGM, conta a história de um perigoso assassino em série que durante uma perseguição numa loja de brinquedos, consegue transferir sua alma para um boneco animatrônico da linha Good Guy com a intenção de se livrar da prisão e da própria morte. Contudo, Charles Lee Ray, de apelido Chucky, acaba sendo comprado e dado de presente com a alma do assassino ainda presa ao boneco.

A história toma rumo quando Chucky descobre que quanto mais tempo ele ficar no corpo do brinquedo, mais ele se tornará humano, e sua alma só poderá ser transferida novamente para um corpo humano, se for para o da primeira pessoa para quem contou sua verdadeira identidade. Neste caso, ele contou para seu “dono”, um garotinho de 6 anos chamado Andy Barclay. E assim começa a perseguição ao pobre garoto.

(Spoiler)
O filme termina com Charles Lee Ray já transformado em humano ainda no corpo do boneco e não conseguindo mais fazer a transferência de almas. Com raiva, ele tenta matar Andy, mas é impedido pela mãe do garoto que também contou com a ajuda de um policial que acreditou na história de um brinquedo assassino.

Poster do filme Toy Story (1995). Trailer

1995: Toy Story é um filme Disney em parceria com o estúdio Píxar e nos apresenta um universo onde todos os brinquedos, sem exceções, têm vida e somente se movem ao estarem longe de olhares humanos. — Há uma teoria que diz que a vontade de uma criança brincar é a energia que lhes dá vida, mas isso pode ficar para outro texto. — A história conta sobre um brinquedo, um boneco xerife do velho oeste chamado Woody, até então o favorito de seu dono Andy, mas acaba sendo trocado por um novo favorito: Buzz Lightyear, um boneco astronauta bem mais tecnológico do que o velho xerife de pano.

Woody passa a sentir ciúmes e numa tentativa de derrubar Buzz, acaba por jogá-lo no quintal vizinho. Lá mora Sid, um menino maldoso que adora explodir brinquedos e trocar suas peças. Assim começa a aventura de Woody na tentativa de resgatar Buzz antes que Andy e sua família se mudem de casa, além de precisar convencer os outros brinquedos que jogar Buzz pela janela foi apenas um acidente e fazer com que Buzz acredite que ele não é um patrulheiro espacial de verdade, e sim um brinquedo.

(Spoiler)
O filme termina com Woody convencendo todos sobre o acidente, apesar do ciúme e seu pensamento maldoso, e Buzz consciente de que apenas é um brinquedo. Sid fica assustado ao ver os brinquedos ganhando vida e aprende a brincar direito, e, finalmente, Woody e Buzz conseguem se juntar à família durante a mudança de casa.

Semelhanças

Há certa semelhança entre o Woody e Chucky, afinal, jogar Buzz para trás da cômoda não é um pensamento de boas intenções.

Nos dois filmes também é possível notar que os brinquedos buscam reencontrar seus donos, independentemente da intenção. Nos filmes é possível encontrar toques de humor, como na ironia do brinquedo chamado Good Guy para um assassino, e Woody pedir uma mão a Buzz (no sentido de ajuda) e este jogar o seu braço desmontado.

Woody cumpre dois papéis: mocinho e vilão, mas pelo lado de mocinho, coincide com Brinquedo Assassino que também tem um policial como herói. Eles também têm em comum o fato de os brinquedos pararem de se mexer na presença de humanos. Por fim, os filmes têm diferentes sentidos de terror e medo: Chucky é um assassino e em Toy Story causa certo terror psicológico com Sid que ficou apavorado ao ver os brinquedos andando e falando de maneira assustadora, e nas ações do próprio Sid que troca as peças dos brinquedos, algo que na visão deles é tortura.

Divergências

Brinquedo Assassino é lançado como filme interpretado por atores, o que nos aproxima da realidade, enquanto Toy Story é um longa-metragem animado. Inclusive, foi o primeiro longa animado inteiramente computadorizado em 3D da história do cinema. Chucky é um assassino, portanto no filme há mortes, principalmente por esfaqueamento. Já em Toy Story trata sobre maus tratos aos brinquedos que são apenas objetos sem vida (na realidade).

De todo modo, a história de Toy Story gira em torno do amor entre os brinquedos e seus donos, enquanto em Brinquedo Assassino o sentimento predominante é o ódio do brinquedo ao dono, após Chucky não poder mais fazer a transferência de almas. Como xerife, Woody é herói, mas também é o vilão, diferentemente do policial do filme de terror, que é apenas o herói.

Apesar de dois filmes terem histórias tão diferentes, é possível encontrar muitos elementos que os unem. O fato de um ser um longa animado e outro interpretado por atores, faz total diferença para a aproximação do público. O público infantil adorou Toy Story por ser animação, mas o público adulto também, pois traz alguns elementos de terror e piadas irônicas. Brinquedo Assassino é um filme contra indicado para crianças por conter mortes e sangue.

Designers trabalharam bem o visual dos personagens sabendo equilibrar, principalmente em Toy Story, o assustador e o público infantil. Com destaque à assustadora cena em que surgem os brinquedos com peças trocadas, enquanto Chucky choca ao aparecer cada vez mais machucado e destruído. Seria interessante pensar em Toy Story como filme com características de terror infantil por conter elementos do gênero e referências, como do clássico O Exorcista, mas sem traumatizar as crianças. Já Chucky, principalmente com o avanço da tecnologia e da moda, deixou de ser tão assustador para se tornar mais cômico (ficando mais perceptível nos filmes seguintes), porém, ainda censurado às crianças menores por conter morte e sangue.

Portanto é possível atrair o público adulto aos filmes infantis através do humor irônico, mas também introduzir o público infantil ao gênero de horror trazendo objetos e elementos próximos ao seu imaginário para um universo não tão adulto e nem tão ingênuo.

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