Um sábado

Juliana P. Sant'Ana Santos
É quase Shakespeare!
2 min readJul 21, 2017

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Ela estava irritada porque era sábado e tinha passado o dia todo em casa sem nada aproveitar. Tudo bem que tenha almoçado no apartamento de tia Vilma, junto com Lia, Léo e a namorada, a mãe e a irmã, Bárbara, amiga de tia Vilma, e seu filho Heitor; almoço feliz, com as resenhas das meninas, as conversas corriqueiras e as implicâncias de Léo. Mas insuficiente para tornar seu sábado especial, que continuou sem brilho e graça, digno de uma quase mulher na beira dos trinta que acabara de ficar solteira depois de cinco anos de namoro.

Entre almoços familiares, séries médicas e mensagens no celular, desenhava-se o quadro do desespero. O que restava fazer? Irritar-se, oras. Eram aquelas pilhas de livros sobre a mesa da sala, de domingo a domingo, sem poupar o sábado!; roupas íntimas de molho ocupando a única pia da área de serviço — tudo obra da irmã -; e aquelas perguntas redundantes da mãe que se debatia para conseguir entabular uma conversa pelo celular e seus esquecimentos cada vez mais recorrentes.

Um cenário caótico e desordenado que ameaçava com insistência a paz de sua semana, a estrutura de seu cotidiano, o panorama de sua vida e, finalmente, a nobreza de seu sábado. Mas será possível? Senhor! É insuportável! Resta apenas bradar aos céus. Exasperar-se. Se não há paz dentro de mim, que ao menos o mundo sofra ecoando meus agudos de inquietação.

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