Você é Triste Porque Não Filosofa

Dinho Araújo
E-volua
Published in
5 min readAug 16, 2019

Fiz uma enquete no meu Instagram com a seguinte pergunta: você acha filosofia importante?

Mais de 90% das pessoas responderam com um grande “SIM”.

A pergunta que deixei de fazer, mas que sucede naturalmente a primeira é: Por quê?

A resposta, que à primeira vista parece pretensiosa, é, na verdade, bem humildona:

PARA SER FELIZ

Pare um pouco e reflita: quantas vezes você já ouviu que dinheiro traz felicidade? Ou melhor, quantas vezes já tentou se convencer disso, mas sem sucesso? Nesse contexto, é muito provável que você tenha feito uma série de reflexões do tipo “Ué, mas com dinheiro eu como pizza e tomo breja e isso é felicidade” ou “Se eu ganhasse na loteria, largaria meu trabalho e seria feliz”.

O primeiro questionamento de um filósofo ao se deparar com essa questão provavelmente seria “O que é felicidade?”. Se você fez essa pergunta, parabéns! Você filosofou sem nem se dar conta.

Por que essa pergunta é importante?

Uma vez entendido, o raciocínio vai parecer extremamente óbvio e, novamente, vem em forma de pergunta: como ser feliz sem saber o que é felicidade? O mesmo vale para todas as outras questões: como amar sem saber o que é amor? Como reivindicar um governo justo sem entender o que é justiça?

Ter conceitos bem fortalecidos evita que tomemos o errado pelo certo, o que nos auxilia a fazer escolhas inteligentes — aliás, a palavra “inteligência”, de origem latina, significa “escolher entre”. Entendendo a origem da palavra, é fácil compreender que fazer escolhas inteligentes requer um conhecimento sólido sobre o assunto abordado a fim de distinguir uma coisa da outra, ou como diz a sabedoria popular, saber que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”.

Para decidirmos entre algo potencialmente bom ou ruim, primeiramente, é fundamental ter um conceito robusto sobre o que é o bem, e isto requer ir atrás de respostas para uma série de perguntas:

Existe um bem universal e atemporal? O bem é valioso por si só ou pelas coisas que traz? Devo fazer algo que para mim aparenta ser bom, mas prejudicará outras pessoas? (spoiler alert da vida: NÃO)

Menino Tom e a procura pela felicidade

Menino Tom é uma pessoa que nunca parou pra pensar o que é felicidade, mas, desejando ser feliz — como todo serumaninho — aceitou como verdade aquilo que observou na sua sociedade, isto é: vestir roupas caras, dirigir o carro do ano, comprar uma casa na praia e ter uma conta bancária bem gorda. Ele, então, passou uma vida inteira batalhando e, com uma idade avançada, conquistou o que sempre achou que o faria feliz. Infelizmente, percebeu que todo esse patrimônio acumulado (um salve pra Betina) não resultou em um vida feliz e que desperdiçou seus anos correndo atrás de uma mentira.

Agora, imagine que Tom, lá no começo da sua curiosidade, não acreditou no que viu por aí. Reparou que tinha muita gente triste e decidiu investigar por que algumas pessoas eram felizes e outras não. Resolveu, então, ir até uma biblioteca onde encontrou um livrinho com a história e pensamentos de alguns filósofos.

Ao ler ensinamentos de Sócrates, descobriu que pra esse filósofo grego a felicidade está no exercício das virtudes (bondade, coragem, justiça). E deu razão para o barbudo quando leu que nos seus minutos finais, mesmo após ser condenado injustamente à morte, filosofava contentemente com seus discípulos antes de tomar o veneno que o mataria.

Na historinha seguinte, descobriu outro grego que se dizia ser um homem livre e bastante feliz. O tal cara, chamado Epíteto, escreveu a seguinte frase “Aquele pois, que queira ser livre, não tenha nem atração nem repulsão por nada do que dependa dos outros, caso contrário, será fatalmente infeliz”. Para Tom, aquilo fez todo sentido, ainda mais quando descobriu que o grego de nome estranho era escravo! E feliz! E se dizia livre!

Com estes conhecimentos, Tom foi capaz de pensar coisas novas combinando as ideias. Depois de queimar os neurônios, chegou à conclusão que poderia ser feliz sendo bom e justo sempre que pudesse, utilizando o seguinte raciocínio: Sócrates disse que a vida virtuosa é o caminho para a felicidade. Epíteto disse que não devemos pautar nossa felicidade naquilo que não controlamos. Logo, sempre que estiver ao meu alcance ser virtuoso, serei, e assim me realizarei.

Mas e agora? Como proceder?

Bom, já que uma vida irrefletida pode levar a enganos que, necessariamente, levarão à infelicidade, como proceder para nos aproximar do conhecimento e, assim, da felicidade?

Resposta: Perguntando.

Por quê?

A pergunta está para o filósofo assim como a calculadora está para o engenheiro e o discurso motivacional vazio e aproveitador está para o coach quântico. Ela é a tradução da curiosidade que impulsiona a ir além. É a pergunta que nos inquieta e nos movimenta para a descoberta.

O que é uma estrela? O movimento dos astros é previsível? O que existia antes do nascimento do universo, ou ele sempre existiu? A terra é plana? (Spoiler alert 2 da vida: NÃO).

O questionamento bem feito é o motor daquele que deseja saber mais sobre as coisas. Pessoalmente, boa pergunta é aquela que me deixa eufórico, extasiado, com tesão (que fetiche estranho), porque ao mesmo tempo que me engrandece quando me induz a procurar mais e mais conhecimento, me dá um banho de humildade quando me mostra que eu sei nada sobre coisa alguma, e isso é fucking libertador!

Quando se aceita que não se sabe de nada, você está livre pra aprender com o que quer que seja. Isso não quer dizer que deve acreditar no que o primeiro louco te disser na rua, pelo contrário, implica em analisar cuidadosamente se o que foi dito é válido ou não, se faz algum sentido, se é apenas uma mentira de alguém que quer se aproveitar de você ou somente uma opinião de um ser humano orgulhoso demais para admitir que não sabe (coitado).

O preço que se paga por não pensar é caríssimo. A irreflexão é o melhor caminho para o erro. A mera opinião sem fundamento leva a uma vida enganosa. Pensar sistematicamente é complicado — e exige muito — mas é a trilha certeira para um vida bem vivida, realizada e feliz!

Sabe o que é mais legal? Só depende de você. Boa ou má notícia?

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Dinho Araújo
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Filósofo por natureza e ativista do pensamento crítico. Me siga no insta @dinhooaraujo