Já sei quem vai levar o Oscar no ano que vem!

Mentira, não sei. Mas é possível imaginar…

Gustavo Cidral
Eat is a Trip
4 min readMar 8, 2017

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Produtores de Moonlight ostentam o Oscar depois de uma reviravolta com emoção que não foi vista nem no filme

A 89ª edição do Oscar premiou Moonlight como o melhor filme de 2016. Não vou discorrer aqui sobre os méritos do filme. Mereceu? Mereceu. Mas a intenção deste texto é uma breve análise sobre o rumo que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a responsável pelo Oscar, tem tomado nos últimos anos.

Antes, é preciso dizer que o longa, no Brasil ganhando o subtítulo “Sob a Luz do Luar”, é uma bela obra de arte. Independente da concordância com alguns ideais, nele propagados de certa forma, é de encher os olhos a excelência com que uma história com temas tão inquietantes e desconfortáveis é tratada. A maneira sensível e íntima ao usar a beleza da combinação de cores, de formas e de sons (ou a ausência deles) para contar a tragédia cotidiana, rendeu a estatueta dourada.

Chiron, depois de ter sido Little e antes de virar Black

Moonlight incomoda. Faz pensar no que não gostamos de pensar. Vai na contramão da maioria das produções dessa indústria, feitas para entreter confortavelmente e arrecadar ambiciosamente. Eu disse a maioria, não todas. E são justamente as exceções, as que justificam o cinema ter o status de arte, geralmente aquelas exibidas em festivais, digeridas por um público mais restrito e sem grande sucesso nas bilheterias, é que têm sido eleitas nos últimos anos. Não mais apenas biografias interessantes, histórias verídicas, grandes lições de moral e outros atributos preferidos pelos membros da Academia por muitos anos.

E mais do que isso. Se o entretenimento pelo entretenimento nunca foi o suficiente para o Oscar, a arte pela arte vai pelo mesmo caminho. Numa observação sem muito esforço, está claro que o filme que leva o título de “melhor”, além de bom roteiro, boa direção e boas atuações, tem que apresentar um bom serviço.

Sim. Serviço. A obra tem que servir para algo além do entretenimento. Tornar inteligível uma questão social, de interesse público, levar quem assiste a refletir e, assim, contribuir para que o mundo melhore pelo menos naquele aspecto abordado no filme.

O Oscar de 2010 foi bombástico! RÁ!

Lembro do Oscar de 2010 (que premiou os melhores de 2009). Alguns dizem até que foi um “divisor de águas”. Guerra ao Terror, uma crítica ferrenha à guerra do Iraque, levou a melhor contra o (superestimado) Avatar. Era “cinema independente” versus “grandes estúdios”, “arte” versus “pipoca”, “conteúdo crítico” versus “superprodução milionária”, “percepção de mundo” versus “‘nova’ tecnologia”.

Para alívio de muitos, James Cameron “perdeu” a estatueta para a ex-esposa, diretora do filme de guerra, que “livrou” o cinema de se tornar um espetáculo de fundos verdes e personagens feitos com capturas de movimentos e terabytes (mais do que já é).

O fato é que há sete anos a Academia já deu o tom de qual seria o ideal de filme a ser premiado nos anos que seguiram. E então vimos, um pouco mais tarde, 12 Anos de Escravidão, Birdman, Spotlight e Moonlight como vencedores. Todos filmes que nunca serão exibidos na Temperatura Máxima, mas provavelmente em salas de aula. São reflexões sobre meritocracia, racismo, a própria artificialidade da indústria do cinema, a importância do jornalismo, violência e homossexualidade.

Pessoalmente, fico satisfeito com o direcionamento da Academia para que os filmes, pelos menos os reconhecidos por eles, sejam mais do que meras obras de arte ou entretenimento, mas estímulos de reflexões e mudanças no mundo.

Pode ser que todo esse papo aqui de “tendência” seja bobagem e no ano que vem o melhor filme seja um bem “pipoca”. Não seria impossível, já que a Academia aumentou o número e diversificou bastante os indicados, figurando até animações entre os candidatos. Porém, é bem difícil, já que se trata mais de uma estratégia para popularizar a cerimônia e chamar novos públicos.

Agora, vou confessar uma coisa. Daqueles filmes citados acima, não sei se tornaria a assistir algum deles se não fosse para análise técnica. São todos do tipo “é, OK, assisti…”, e não “que filmão, preciso ver de novo!”, como alguns melhores filmes de outros anos, que me fazem parar para ver cada vez que estão passando na TV, como: Gladiador, Titanic, Coração Valente, Forrest Gump… A Academia deveria pensar nisso também, para o Oscar de melhor filme não ficar taxado como a categoria de “filme chato”.

Forrest ficou confuso com esta postagem

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Gustavo Cidral
Eat is a Trip

O mais velho do Jair e da Edinha. Nunca fiquei de recuperação. Instagram: @gustavo.cidral