Não coma fast-food em Buenos Aires

De preferência, não coma fast-food em lugar nenhum.

Juliana Muniz
Eat is a Trip
7 min readFeb 28, 2017

--

Sob o risco de soar extremamente clichê, preciso dizer que amo comer bem e viajar. Inclusive, acredito que ambas atividades se completam. Viajar significa ir para outra localidade geográfica e conhecer uma nova cultura que, dentro dela, possui sua própria culinária. Por isso, acho abominável a prática de ter a oportunidade de conhecer um lugar novo e, ao invés de mergulhar na cultura local também através dos sabores, se entregar ao comodismo de ingerir comida feita por redes de fast-food.

Muita gente faz isso por diversas razões: medo de não gostar da comida local, falta de pesquisa antes da viagem ou até mesmo por questão de economia. Mas será que vale mesmo a pena economizar uns trocados pra ingerir carne processada?

Lógico que cada um vê de uma maneira. Pra você, comer durante uma viagem pode ser só um "deixa eu resolver essa fome aqui pra continuar passeando". Mas, para mim, essa é uma oportunidade de acumular experiências. Tanto que consigo me lembrar, com água na boca, de cada restaurante que tive o prazer de conhecer nas viagens que fiz.

Em 2016, fiquei oito dias em Buenos Aires. Fui de lua de mel com meu recém esposo. Lembro que, assim que decidimos o destino, começamos a pesquisar loucamente sobre a cidade. Pontos turísticos, costumes, condições de transporte público e táxis, lugares bons para comer. Elaboramos uma lista com tudo que achamos interessante e fomos realmente preparados, sabendo o que faríamos por lá. A pesquisa realmente ajudou muito, mas uma viagem boa de verdade é aquela onde você descobre lugares legais enquanto está batendo perna.

Desses oito dias, os restaurantes e a comida são umas das minhas melhores recordações. Por isso, decidi dividir com você um pouco delas. Se você estiver indo para Buenos Aires ou pretende ir lá algum dia, descubra os seus próprios lugares, mas só por via das dúvidas, leve esta listinha de restaurantes pra não cair na tentação de parar no primeiro McDonald's que aparecer na sua frente. E olha que, se dependesse disso, almoçaríamos Big Mac todo dia porque sempre dávamos de cara com uma franquia próxima ao prédio em que ficamos.

Antes de mais nada, é importante explicar que, na hora do almoço (que tem início às 13h e não ao meio-dia como estamos acostumados), os restaurantes argentinos, em sua maioria, possuem o cardápio executivo. Geralmente essa é uma ótima opção que alia comida de qualidade a um preço bem interessante. Então, durante nossa viagem, eu e o Henrique concordamos que almoçaríamos opções do cardápio executivo e no jantar pediríamos pratos mais elaborados, consequentemente um pouco mais caros.

As sugestões a seguir são de restaurantes de diversas culturas, mas que em sua essência, acabaram absorvendo o multiculturalismo da capital argentina.

FLORIAN

Esse foi um dos restaurantes que descobrimos durante um passeio. Na verdade, planejamos o roteiro do primeiro dia pretendendo comer em um restaurante muito conhecido, o Dadá Bistro. Mas quando chegamos na porta do restaurante, tivemos a decepção de encontrá-lo fechado por motivo de férias.

Desesperados de fome, demos uma olhada nos restaurantes vizinhos e, morrendo de dúvida, recorremos ao nosso salvador da pátria, o Fousquare, para ver a avaliação dos restaurantes e recomendações de pratos. Depois de alguns minutos, decidimos dar uma chance ao Florian, que não nos decepcionou.

O atendimento ficou um pouco a desejar, pois a casa é cheia e os garçons não se importam de te deixar esperando com fome. Porém, quando finalmente sentamos e a comida chegou, fiquei impressionada. O Menu executivo tinha cerca de cinco opções de pratos por 145 pesos, incluindo bebida, sobremesa e café.

FABRIC

Se você gosta de comida japonesa, PRECISA conhecer o Fabric. Em Buenos Aires são três restaurantes e nós fomos no menor (os outros são bem mais amplos), que fica no bairro Palermo, onde nos hospedamos. O ambiente é extremamente aconchegante e, por ser pequeno, dá um ar de exclusividade, tipo no restaurante do Jiro Ono.

Além do cardápio executivo, o Fabric também oferece 15% de desconto no cardápio regular durante o almoço. Os pratos são todos de cozinha nipo-peruana, ou seja, comida japonesa com influência do Peru. Foi lá que comi o melhor ceviche da minha vida!

O único ponto que o restaurante deixou a desejar foi o cardápio de bebidas restrito. Só servem vinho, coca-cola e água. Ou seja, quem não toma refrigerante, nem bebida alcoólica como eu, tem que ficar só com a água mesmo. Mas isso é só um detalhe perto de toda a experiência que o sushi deles oferece.

BURGER JOINT

Uma casa de hambúrguer artesanal com um ar muito hype, completamente inspirada na Nova Iorque dos anos 90. Encontramos o Burger Joint também através do Foursquare. Com nota 9.1, o restaurante leva o título de melhor hamburgueria de Buenos Aires.

Interior do Burger Joint durante um horário bem calmo, antes da muvuca.

O horário de funcionamento tem início ao meio-dia e vai até meia-noite. Fomos jantar lá por volta das 20h, um horário em que a casa já está bem cheia. É muita gente em pé na fila pra fazer o pedido, além de todas as mesas ocupadas tanto do lado de dentro quanto na calçada. Vira uma muvuca muito louca com gente conversando, música de rock nas caixas de som e os pedidos sendo chamados por uma garçonete através de um megafone.

Apesar da poluição sonora (e também do ar, porque a população de Buenos Aires fuma pra caramba), o ambiente é muito interessante com diversas referências de cultura pop dos anos 90. As paredes são lotadas de posteres, quadros e grafites. O lugar é tão hype que lá eu ouvi mais gente falando em inglês e francês do que em espanhol.

SUDESTADA

Este era um dos restaurantes da nossa lista pré-viagem. Estava curiosa para conhecer, porque nunca tinha provado a culinária do Vietnã. Sim, o Sudestada é um restaurante vietnamita! E nem vou fazer suspense, a comida é ótima.

Prato principal que pedi do cardápio executivo: carne com legumes e batata palha.

Na hora do almoço, como esperado, o estabelecimento oferece cardápio executivo que inclui: entrada, prato principal, bebida, sobremesa e cafezinho. Tudo isso por um preço bem amigável de 160 pesos.

Lembro que escolhi uma sopa Pho como entrada e o Henrique ficou com uma salada. Ambas opções ótimas, mas confesso que a sopa ganhou um espaço especial no meu coração (ou estômago, sei lá). Como prato principal, optamos por um misto de carne com legumes e batata palha que veio acompanhado de porção de arroz à parte. Gostamos tanto de lá que repetimos a dose antes de voltar para o Brasil.

MISHIGUENE

Henrique, todo faceiro (que gosta muito da cultura judaica), tirou essa foto quando estávamos de saída.

Até agora só indiquei restaurantes muito bons. Mas esse aqui já passa pro próximo nível. Sério. Pra você ter uma ideia, o Mishiguene, restaurante judaico (de verdade), já foi indicado pelo The New York Times, Financial Times, The Times of Israel e diversos outros veículos de comunicação de peso (até o Eat is a Trip HUE HUE). Além disso, eles possuem certificado de excelência Trip Advisor.

O ambiente é extremamente aconchegante. Faz você se sentir na sala de jantar da vó judia que nunca teve. Inclusive, o próprio chef, que, ao contrário de mim, teve uma vó judia, inspirou todo o cardápio nas receitas dela.

Além de almoço e jantar, o restaurante também oferece a opção de brunch. O preço não é assim tão amigável, mas, se fosse no Brasil, tenho certeza de que seria muito mais caro. Mas uma boa comida sempre vale o preço. Tanto que fomos lá duas vezes: uma no jantar e outra no almoço. Uma das melhores experiências culinárias da minha vida.

Ignorando a fome e a nostalgia que bateram agora, espero que um dia você vá para Buenos Aires e conheça pelo menos algum desses restaurantes. Mas, se for para outro lugar, espero que conheça ótimos restaurantes e vivencie uma viagem também nos sabores.

- Nem só de alfajor viverá o argentino

--

--

Juliana Muniz
Eat is a Trip

Nascida no Centro-Oeste, mas sulista de coração e nômade por obrigação. Apaixonada por escrever, também ensinou sua Shih Tzu a fazer ‘high five’.