Palco da morte, história viva

Thiago Basílio
Eat is a Trip
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3 min readJul 31, 2014

Era o meu primeiro dia em Roma e a única coisa que realmente importava era chegar ao Coliseu. Esse sempre foi o monumento (junto com a Acrópole ateniense) que liderou o meu ranking pessoal de “pontos turísticos europeus para se conhecer antes de morrer”. Após a aterrissagem no aeroporto de Ciampino e o check-in no hostel, já segui em direção ao “Colosseo”.

Fui andando até a Estação Termini e, de lá, peguei o metrô para chegar à construção que é um dos grandes símbolos do império romano . Durante todos esses momentos, um misto de aflição, alegria, expectativa e nervosismo tomava conta do meu ser. Era uma ocasião muito especial, talvez uma das mais marcantes de toda a minha existência, pois, sinceramente, eu jamais imaginei que teria a oportunidade de conhecer esse local antes de me formar. O fato era o de que eu acabara de chegar na parada que dava acesso ao ponto turístico.

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Em meio a isso tudo, não contava com uma coisa: a saída/entrada estar exatamente de frente ao Coliseu. Desci do vagão, subi as escadas e, ao terminar, levantei minha cabeça e dei de cara com a imponência daquela construção. Tirei os óculos escuros e fiquei observando gelidamente o local por uns 40 segundos. Parado, estupefato, emocionado e um tanto quanto incrédulo também. Tomei coragem e fui procurar a bilheteria.

Roma 4

A fila não estava tão grande, mas, ainda assim, senti como se a eternidade estivesse presente naquele momento. Paguei honestamente os 12 Euros para se ter acesso ao monumento e segui em direção à entrada. Mais umas escadas e ele não demorou muito para se apresentar, ostentando sem humildade todo o seu valor histórico e artístico para o mundo. É admirável perceber a complexa habilidade engenhosa que o povo daquela época já possuía.

Sua construção começou no ano 70 d.C. e foi concluída em 74 d.C. (uma média não muito diferente dos nossos estádios da Copa). A inauguração só ocorreu em 80 d.C., começando, assim, a política do pão e circo. Andando pelas ruínas, podia enxergar detalhes e soluções arquitetônicas que utilizamos até hoje. Em uma das várias exposições que funcionam ali, vi como ele era no auge da sua glória. Coberto, tecnológico e bastante confortável (se formos comparar a algumas arenas que encontramos por aí).

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Encantando com aquilo tudo eu comecei a imaginar o equipamento lotado e, no centro das atenções, uma animalesca e desumana batalha de gladiadores, em que os gritos histéricos da plateia não se acentuavam com um gol, mas, sim, com o frio derramamento de sangue. Ou, ainda, quando um cristão ela colocado no local para ser esquartejado por ferozes tigres.

Ironicamente, o momento me fez muito bem, pois concluí que, mesmo vivendo nesse mundo tão cruel, hoje somos, pelo menos, intolerantes (quanto sociedade) à cenas em que o sofrimento é exaltado. O Coliseu foi palco da morte, mas atualmente ele tem a capacidade simbólica de fazer com que seus visitantes se sintam vivos. Vivos e verdadeiramente humanos. Até a próxima!

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Thiago Basílio
Eat is a Trip

Jornalista, professor universitário, mestrando, glutão, utopista. Amante de arquitetura, natureza e viagens.