Consumo de notícias em redes sociais: impactos na polarização política
Com a maior utilização das redes sociais —devido aos efeitos de rede, além do maior acesso à internet e popularização dos dispositivos móveis — os usuários têm utilizado para consumir, além de conteúdos sobre suas conexões, notícias produzidas por páginas de jornalismo e que chegam ao seu feed via páginas que segue, algoritmos de recomendação das redes sociais ou, também, via engajamento dos contatos.
Um ponto que é levantado quando falamos sobre este consumo de notícias é sobre um possível viés da plataforma de priorizar a entrega de conteúdos que estejam alinhados à tendências prévias dos usuários. Apesar de parecer uma abordagem “adequada”, o ponto negativo discutido é sobre a geração e incentivo de bolhas de conteúdo, onde as pessoas são expostas para matérias que reforçam seus posicionamentos e geram uma polarização mais intensa nos vieses — políticos, sociais e econômicos.
O autor do artigo “Social Media, News Consumption, and Polarization: Evidence from a Field Experiment” (em tradução livre: “Redes Sociais, Consumo de Notícias e Polarização: evidências de um experimento de campo”), Ro’ee Levy, buscou encontrar resultados empíricos que pudessem servir de insumos para confirmar — ou rejeitar — esta hipótese.
Para este experimento o autor captou voluntários por meio de anúncios na plataforma Facebook e os separou em grupos onde o participante poderia (i) ser orientado à seguir páginas que eram coerentes às suas ideologias políticas, (ii) seguir páginas contrárias aos seus vieses ou (iii) ser exposto à páginas aleatórias, como grupo de controle. Alguns destes também fizeram a instalação de um plugin no seu navegador para que o pesquisador obtivesse métricas de visualizações das publicações, reações, acesso à links e outras informações de interação.
A intervenção durou cerca de 2 meses, onde 37.494 participantes estadunidenses iniciaram o processo respondendo uma pesquisa inicial, 34.592 forneceram acesso às publicações que compartilhavam durante ao menos 2 semanas, 1.835 instalaram a extensão em seus nevegadores por ao menos 2 semanas, e, 17.635 responderam à uma pesquisa final.
Após uma análise dos comportamentos, das pesquisas e utilizando métricas definidas no artigo (como o “Isolamento”, dado que mede o quanto aquele usuário consome de fontes agrupadas no seu viés original), Levy chegou em 4 conclusões:
(I) Exposição à noticias nas redes sociais afeta substancialmente o consumo de notícias. Participantes expostos às publicações tendiam a visitar os portais das notícias, mesmo quando estes não eram compatíveis com sua ideologia;
(II) Exposição às notícias “contra-ideológicas” decresce a polarização afetiva, mensurado durante as pesquisas inicias e finais, por uma técnica chamada “feeling thermometer”;
(III) Apesar de reduzir a polarização afetiva, exposição às notícias contrárias não demonstrou evidências de afetar as opiniões políticas;
(IV) O algoritmo do Facebook provavelmente limita a exposição de notícias “contra-ideológicas” dos usuários.
Analisando os resultados o autor sugere que essa bolha, da exposição de notícias do viés favorável ao do usuário, tem sua origem baseada principalmente pelo fato de o usuário ser exposto, em grande parte, às publicações das páginas que este segue — que tendem a ser justamente aquelas com a qual o mesmo concorda ou tem maior empatia. Neste caso, a relação das conexões, apesar de afetar, tem um impacto menor na seleção dos conteúdos que serão expostos.