O término de 2020 e as expectativas para 2021

Mesmo muitas vezes imperceptível aos olhos das pessoas, a expectativa está presente nas nossas vidas e nos impulsiona a agir.

Andreia Freitas
Economistas no Debate
5 min readDec 18, 2020

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Fiquei pensando no assunto a ser abordado no fechamento do ano de 2020. Um ano tão marcante como esse, me fez retomar a temática da “expectativa”, mesmo muitas vezes imperceptível aos olhos das pessoas, a expectativa está presente nas nossas vidas e nos impulsiona a agir. Algo tão importante que nos faz mover em direção ao alcance de qualquer objetivo. O ano de 2020 é um ano que ficará para história, um ano inusitado, que arrasta a todos pelo seu percurso. Refletindo sobre isso, porque não falar dele e da sua interferência na expectativa para 2021.

No início de 2020 as pessoas foram impactadas com a crise sanitária instaurada pela Covid-19, e a sociedade se viu obrigada a cumprir um protocolo de isolamento social para impedir o avanço da pandemia. Isso trouxe uma série de consequências sociais e econômicas. O cenário era de incerteza e desafios para lidar com tantas questões novas e urgentes. Esse contexto de perplexidade e medo interfere no processo de expectativa, evidenciando ainda mais a importância da expectativa. As pesquisas de confiança apuram, por meio de expectativas, qual será o comportamento do consumidor/investidor e que atitudes tomariam em determinado cenário econômico.

A pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPSPE) mapeou o sentimento dos brasileiros para 2021, revelando um otimismo cauteloso. Indicou uma maior preocupação com a poupança, com a compra ou melhoria da moradia e intenção de realizar mais cursos, aprimorando a educação, quando indagados sobre o que fariam se sobrasse um recurso no seu orçamento. Já os Índices de Confiança da CNI apontam que os empresários da indústria continuam otimistas com a retomada da economia, apresentando o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) de 63,1 pontos em dez/20. Por outro lado, o Índice de Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) revela aumento da desconfiança do consumidor, como reflexo dos efeitos da pandemia no emprego e na renda, atingindo em set/20 42,8 pontos.

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) e Índice de Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) apresentados nos gráficos a seguir referem-se a confiança do empresariado e do consumidor. Esses índices apontam que valores abaixo de 50 pontos relatam falta de confiança do empresariado/consumidor, enquanto que os valores acima retratam a confiança.

A pandemia afetou as pessoas e a economia nos diversos setores de maneira distinta. O mercado de trabalho foi e continua sendo atingido, alterando a modalidade como se trabalha e as exigências por função. As medidas restritivas para conter o Coronavírus levaram ao trabalho remoto, flexibilização da carga horária, afastamento e desligamento de pessoas.

Entre os setores mais atingidos em termos de mão de obra, destaca-se o de alojamento e alimentação. O setor formal de modo geral só começou a dar sinais de retomada a partir de julho, indicando resultados positivos, como contratação de trabalhadores, enquanto que os setores de alojamento e alimentação apresentaram ainda em setembro de 2020 taxas de admissão de mão de obra (3,8%), inferior ao ano de 2019.

As escolas, as pessoas e o comportamento da sociedade; tudo teve que se adaptar às circunstâncias da situação. A população foi obrigada a adotar protocolos de segurança à saúde. A urgência do momento fez o governo intervir de modo a socorrer empresas e grupos mais vulneráveis, causando um desajuste ainda maior na situação fiscal do país, o que passado esse momento precisará ser regularizado prioritariamente.

No entanto, em meio às várias mudanças, 2020 trouxe muito aprendizado. Fez pessoas, empresas e setores se reinventarem. Todos tiveram que se adaptar e usar a criatividade; reavaliar procedimentos, valores e comportamentos. Conduziu o país à evolução em tecnologia com uso de computadores, internet, celulares, mídia e tecnologias mais avançadas para compartilhar a demanda de tanta informação remota. Levou a ciência a avançar: com pesquisas, troca de informações e conhecimento entre as nações. Acelerou o processo digital com a modalidade do home office, ensino à distância, comércio on-line e serviços e processos internos de empresas e instituições.

Como um exemplo do avanço na ciência, a PUCRS inicia em dezembro de 2020 testes para um tratamento inovador para a recuperação de pacientes com Covid-19, utilizando o gás oxido nítrico para conter infecções pulmonares. É uma parceria da PUCRS, liderada pelo Professor da Escola de Medicina Marcus Jones e pesquisadores da Universidade de Toronto (Marcelo Cypel). Jones e Cypel vêm estudando o tratamento com Óxido Nítrico como alternativa a terapias tradicionais como o uso de antibióticos e antivirais nas infecções e doenças pulmonares

Além das mudanças relatadas, a pandemia permitiu um mapeamento dos trabalhadores informais, tornou ainda mais evidente o gap entre as escolas públicas e privadas. E olhando pelo lado positivo, isso possibilita identificar e quantificar o lado mais frágil, e assim planejar e adotar medidas que amenizem e mitiguem esse cenário tão desigual da nação.

Essa crise sanitária despertou nas pessoas sentimentos como medo, impotência, cautela. Mas tornou-as mais solidárias. A sociedade amadureceu, sentindo na carne os impactos da crise sanitária para o bem e para o mal. Ela ficou mais exigente diante da dificuldade. E já se observa como efeito: alterações no perfil de consumo das famílias, como maior importância da poupança, da moradia e da educação; uma maior consciência das diferenças e desigualdades sociais e econômicas.

E o que se espera para 2021? A expectativa é de cautela, mas também de esperança nas vacinas e no avanço da ciência com tratamentos e alternativas para, assim, retornar ao curso “normal” da vida. Espera-se que nossos políticos priorizem o bom senso, atentando para atitudes menos ideológicas e mais assertivas na condução geral da pandemia, e na campanha de vacinação em massa. Também se espera que sejam mais assertivos em planejar políticas públicas que visem diminuir as desigualdades. Além de priorizarem a melhoria na educação, buscando reduzir o gap educacional, e possibilitando o aumento da produtividade do brasileiro.

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Andreia Freitas
Economistas no Debate

Doutoranda e Mestre em Economia do Desenvolvimento (PUCRS), Especialista em Economia e Finanças (UFRGS), Graduada em Ciências Econômicas (FICM-RJ).