A experiência de participar da Mostra Canavial de Cinema

Eddie Rodrigues
Eddie Rodrigues
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3 min readAug 16, 2020
Foto: Eddie Rodrigues

Eram quatro da tarde quando partimos rumo à BR-232 com destino ao município de Nazaré da Mata. O objetivo era participar da 6ª Mostra Canavial de Cinema que aportou no assentamento Camarazal. A mostra, que já havia sido exibida em quatro cidades esse ano, agora era acolhida pelos trabalhadores rurais da Zona da Mata Norte no interior de Pernambuco.

Na estrada, o céu nos presenteava com um pôr do sol divino, pintando a paisagem num leve tom dourado e contemplativo. E fiquei me perguntando o que encontraria quando chegasse ao assentamento. Era minha primeira Mostra Canavial e eu não tinha muita informação de background. Quando estávamos prestes a sair da rodovia para entrar numa estrada de terra, o céu se encheu com tantas cores e o sol que já havia se escondido resplandecia luzes e sombras que desenhavam as nuvens formando um pôr do sol de encher os olhos. Naquele momento, decidi que estaria feliz com qualquer coisa que encontrasse no destino final porque só o deslocamento até ali já tinha valido a pena.

Chegamos por volta das cinco e meia da tarde. No local, uma igrejinha e dois postes ligados por um fio cheio de luzes contrastavam com uma tela de cinema ainda sendo montada no chão. Fiquei a contemplar as casas nos arredores, atento às particularidades da vida rural. Rapidamente, as cadeiras foram sendo distribuídas e a tela estava de pé. Alguns cachorros latiam na vizinhança e um som tocava distante. No céu agora tomado por nuvens, apenas uma estrela aparecia bem acima de nós. Um sapo passa correndo por entre as cadeiras e defronte, um Toyota bandeirante vermelho exibe uma faixa da Mostra compondo o cenário, me fazendo lembrar imediatamente do filme “Lisbela e o Prisioneiro”, de Guel Arraes.

Antes da exibição começar, fomos jantar na casa da Dona Janaína e Seu Mário, que abriram as portas para nós. Uma mesa farta estava posta com macaxeira, galinha, cuscuz, ovo, bolo de mandioca, café e sucos, deixando nossos estômagos devidamente satisfeitos. No início da projeção, as luzes se apagaram e algumas cadeiras foram timidamente sendo ocupadas. Aos poucos, famílias inteiras foram chegando acompanhadas dos filhos, avós com seus netos, crianças brincando com seus cachorros e casais de namorados que aproveitaram para fazer da noite, um encontro romântico. Nos arredores, algumas pessoas curiosas assistiam à distância.

As pessoas riam, ora silenciavam ora comentavam as cenas, mas posso assegurar que todas se identificavam e se reconheciam na tela. Era um momento único, compartilhado por toda a comunidade reunida. Não é todo dia que tem uma tela de cinema montada no assentamento Camarazal. Voltei para casa realizado. Foi uma noite simples, fora do habitual e cheia de surpresas, que deixou uma sensação plena e a vontade de voltar nas próximas edições. A 6ª Mostra Canavial de Cinema cumpre o seu papel e se consagra como projeto transformador de realidades.

*Eddie Rodrigues viajou à convite da Mostra Canavial de Cinema para o Cinegrafando (2017)

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Eddie Rodrigues
Eddie Rodrigues

Jornalista, escritor, podcaster, ambientalista, ativista LGBTQ 🏳️‍🌈 https://linktr.ee/eddierodrigues