Enrique Coimbra: “escrevo para não perder a sanidade”

Eddie Rodrigues
Eddie Rodrigues
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4 min readAug 19, 2020
Foto: Brenno Prado

Escritor independente, Enrique Coimbra é carioca de 27 anos e tem 4 livros publicados: “Série Literária Lado B” (2007), “Os Hereges de Santa Cruz” (2014), “Um Gay Suicida em Shangri-la” (2014), e “Sobre Garotos que Beijam Garotos”, (2015). Além de escritor, Coimbra é criador de conteúdo, palestrante, comanda o canal Enrique Sem H no Youtube e mantém a newsletter Clube do Enrique, onde fala sobre comportamento, sexualidade, autoaceitação, músicas, livros, filmes e séries, além de disponibilizar livros gratuitos. Lançado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, “Sobre Garotos que Beijam Garotos” foi publicado pelo selo FLUPP da editora Casa da Palavra, posteriormente, o autor rompeu o contrato e voltou a publicar de forma independente.

O que significa ser escritor no Brasil hoje?

Enrique Coimbra. Para o senso raso de uma lógica mercadológica, ser escritor é vender bastante livro. Para mim, ser um escritor no Brasil hoje é ter a chance de registrar de uma perspectiva completamente singular o espaço-tempo do território físico, social e político do país, somados às facetas da subjetividade humana moldadas e expressadas por quem vive e/ou conta essas histórias.

Como nasceu o escritor em Enrique Coimbra? Em qual momento escrever se tornou decisivo?

E.C. Não sei apontar em qual momento escrever foi decisivo ou quando o “Enrique escritor” nasceu, mas houve o ponto crítico, em 2013, em que eu abandonei o curso de Design Gráfico na faculdade apenas para escrever livros e manter o canal Enrique Sem H no YouTube. Desde pequeno eu brincava de fazer quadrinhos adaptando filmes norte-americanos famosos e inventava minhas histórias baseado no que lia em Batman ou no Drácula de Bram Stoker. A necessidade de escrever germinou em mim de forma orgânica e insistente, e hoje eu preciso escrever para ficar são.

O que você espera que seus livros provoque nos leitores?

E.C. Torço para que os leitores me digam o que sentiram, para que comentem sobre a obra e o que acharam, porque a criação é muito diferente da recepção. A subjetividade de quem escreve e quem lê se difere, então meu objetivo é apenas dar vida ao universo literário, pois esse universo será preenchido e experimentado pelos leitores. Acaba sendo uma viagem alucinógena e um exercício de empatia em vez de uma leitura qualquer — e isso não tenho como controlar. Apenas conto da melhor forma que posso o que imagino, reimagino e amplio, e o resto vai da química de quem lê.

Durante a adolescência, eu sempre procurei por livros com personagens gays e histórias que eu me enxergasse representado. Como é ser um escritor dessa temática num país ainda tão homofóbico como o Brasil? Você sente que tem uma responsabilidade especial com seus leitores?

E.C. Sim, sinto bastante. Essa foi minha primeira razão para lançar os livros, mesmo que de maneira independente, pois quando comecei, pouquíssima gente estava produzindo ou lendo literatura queer. Mas o nicho estava em ascensão há anos e atualmente estamos alcançando um ligeiro espaço. Preciso ser consciente sobre meus próximos passos, meus próximos personagens e meus próximos retratos sociais de maneira geral dentro da literatura. Preciso que minhas obras sirvam como “documentos” com costura ficcional amarrando e ilustrando os contextos do porquê de eu estar narrando as aventuras que narro, e do jeito que narro.

Foto: Brenno Prado

Qual sua relação com seus personagens? É possível dizer que a sua história e a dos personagens se confundem em algum momento?

E.C. Minha história, os bairros em que vivi ou por quais passei, as pessoas que conheci, as que não conheci, gente que eu vi: tudo não se “confunde”, mas se transforma em algo completamente claro e novo. Isso é fantástico.

Quem são suas referências de escritores?

E.C. Leio muito de muitos, de tudo. Acho que minhas referências são meus sentimentos e meu instinto.

Um escritor é antes de tudo um leitor. Nesse momento, qual é o seu livro de cabeceira?

E.C. Meu atual livro de cabeceira é “Uma Breve História do Tempo”, do Stephen Hawking. A ciência, a cultura e a sociedade têm influenciado minhas decisões artísticas.

Você lançou a segunda edição de “Os Hereges de Santa Cruz” e disponibilizou o e-book gratuitamente. Qual propósito, enquanto autor, pretende alcançar com essa decisão?

E.C. Minha proposta é disponibilizar gratuitamente, a quem interessar, uma literatura urbana, sombria e ocultista num gênero que, nacionalmente falando, peca muito — e é dominado por títulos estrangeiros. Chega de bruxos lá de fora: eu quero vê-los aqui dentro! Do meu lado! Onde eu moro! Como ninguém fez do jeitinho “gore” e sem varinhas mágicas que eu gostaria de ler, eu fui lá e fiz, misturando elementos de filmes como “Jovens Bruxas”, “Os Garotos Perdidos” e a série “Skins” numa narrativa 100% brasileira.

Os leitores podem esperar livros novos vindo por aí?

E.C. Pelo Clube do Enrique eu sempre aviso dos novos projetos, dos livros a serem lançados e vez ou outra ofereço alguns dos meus títulos gratuitamente, então sim, muitos novos títulos vão surgir! Escrever é meu maior prazer. É algo que farei até o fim da vida — sem precisar de nenhuma editora, nunca mais!

*Entrevista por Eddie Rodrigues, jornalista e colaborador do Cinegrafando

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Eddie Rodrigues
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Jornalista, escritor, podcaster, ambientalista, ativista LGBTQ 🏳️‍🌈 https://linktr.ee/eddierodrigues