Ode aos navegantes

Eder Antonio
Eder Antonio
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2 min readDec 24, 2016

Lançou-se ao azul profundo de oceanos desconhecidos com o mesmo ímpeto de Colombo, descobrindo a si mesmo, encontrando novos horizontes e formas de viver. Ousou fazer travessias que, tendo-o feito naufragar, temperou seu espírito, e despertou-lhe desejo urgente pela vida.

As águas o seduzem e desafiam. Sua rendição a elas expressa-se com sonoro SIM. Se ventos impensáveis o traem, o trauma do náufrago não resiste ao seu coração marujo. Os desvios de rota, as ancoragens forçadas, os portos indecentes, a solidão do mar o ensinaram acessar sua dimensão profunda; ama e sente dor com a mesma intensidade arrebatadora.

Seria trágico a você viver à margem de si. Cobrir os dias com panos de uma só cor, sufocar o querer, ser tragado por moinhos que devoram sonhos. Prefere ser tocado por ventos desconhecidos, encontrar um novo sol, existir pela primeira vez de novo, iludir-se com miragens, acolher o sublime. E se ficar à deriva, atormentado, a esperança será seu delírio redentor.

Como que por espelho d’água, o enigma contido em seus dias foi revelado: sua história foi costurada com linhas coloridas, de espessuras variadas, como poesia persa. As ondas do fracasso esculpiram sua forma lentamente, como acontece com as rochas na praia, como quem escreve poemas com caligrafia japonesa. Não fossem as agulhadas furando seu ego, colocando linhas novas e indesejadas pela dor que causam, seria medíocre e raso, apenas.

Mas sua atmosfera foi envolta por uma espécie de brisa do Mediterrâneo. Seu olhar é como as luzes coloridas do verão. E estar ao seu lado é contemplar o etéreo.

Tendo navegado o ano todo, encerra-se um ciclo marcado por expedições mal sucedidas, imprevistos, extravios, e naufrágios. O aviso do farol indica que é tempo de afastar-se da ressaca do mar, recolher-se, cuidar dos arranhões sofridos pelo casco. É tempo de lavar com champanhe os cacos presos na garganta, como se faz ao batizar novas embarcações, suplicando misericórdia às águas.

Um brinde aos navegantes e náufragos!

Feliz Ano Novo!

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