12 coisas que eu aprendi em 1 ano como UX Designer

Alessandra Consorti
edifyeducation
Published in
10 min readAug 30, 2022

Muitos livros e cursos nos dão o conhecimento necessário para que possamos iniciar na área de UX Design. Porém, na prática as coisas são muito diferentes do que na teoria e o aprendizado é constante. Muitas coisas que acontecem no dia a dia em uma empresa não são ensinados em um livro. Além disso, durante nossa migração para a área podemos ter percepções errôneas de como é de fato trabalhar com UX.

Neste artigo eu reuni 12 aprendizados que eu adquiri nos meus primeiros 12 meses trabalhando na prática como UX Designer.

1. As decisões são coletivas

Alguns cursos e livros de UX estufam tanto o ego dos designers que, antes de eu começar a trabalhar de fato, eu pensava que éramos grandes tomadores de decisão quando se trata de usabilidade. E de fato, nossa opinião dentro das empresas geralmente é ouvida e considerada, mas não é a única. As decisões dentro de uma squad são feitas de forma coletiva, levando em consideração o que dizem os desenvolvedores, PMs, POs e stakeholders. Você pode e deve defender os seus pontos, de preferência usando dados ou princípios de UX para justificar suas decisões. Mas, muitas coisas são consideradas além disso no dia a dia de uma sprint, como tempo e esforço de desenvolvimento, decisões de negócio, priorizações de OKRs, estratégias de marketing e até visão e propósito da empresa. Com isso, tenha em mente que seus protótipos podem ser recusados pelos times e stakeholders e que você precisará estar constantemente negociando com eles.

2. Um terço do tempo em reuniões

Sim. Em uma semana de trabalho um terço do seu tempo você precisará gastar em cerimônias, apresentações, alinhamentos, 1:1s, entrevistas e assim por diante. Enquanto eu me preparava para ser UX Designer, eu ouvi algumas pessoas comentarem que temos muitas reuniões ao longo do dia. Mas, eu não imaginava que eram tantas. Elas são importantes e necessárias, sobretudo quando se trabalha home office, mas tenha em mente que isso trará um desafio a mais para você na hora de administrar seu tempo e desempenho. Algumas cerimônias da squad podem durar até mesmo quatro horas seguidas, e você precisará considerar esse tempo “perdido” na hora de definir e priorizar suas tarefas. Por isso, aproveite bem o tempo que você tiver entre as reuniões, crie listas de tarefas priorizadas e se precisar use ferramentas de foco como a Focus-To-Do.

3. Recrutar usuários é difícil

No dia a dia como UX Designer, uma de suas tarefas será realizar entrevistas ou testes de usabilidade com os usuários. Porém, recrutar eles não é uma tarefa fácil, mesmo que seja da base de seus clientes, porque as pessoas são muito ocupadas e é difícil para elas entenderem porque precisamos falar com elas. Por isso, se planeje! Comece a recrutar usuários o mais cedo possível levando em consideração que você entrará em contato com vários para obter poucas respostas. Dessas respostas você precisará agendar uma data e um horário que eles possam e precisará fazer com que assinem o termo de consentimento, o que já leva a mais algumas desistências nesse processo. Para ter mais chances de sucesso, peça ajuda a colaboradores que possuem mais contato com os clientes, como os CS por exemplo. Se possível, consiga recompensas para atrair as pessoas como vouchers e use ferramentas como a Clicksign para facilitar a assinatura do NDA. E cruze os dedos!

Screenshot de um dos testes de usabilidade que realizamos com usuários no Edify.

4. Os dados serão seus melhores amigos

Nosso papel como UX Designer é criar a melhor experiência para os nossos usuários. Mas, quando estamos em uma empresa lidando com stakeholders, o que eles querem ouvir de fato não é tanto esse discurso bonito, e sim números! Por isso, use e abuse dos dados e métricas para tomar decisões importantes, justificar suas escolhas e convencer seus colaboradores sobre qual caminho precisam seguir. Os dados quantitativos são muito mais fáceis de serem obtidos do que os qualitativos com os usuários, por isso opte por eles para ganhar tempo. No processo de design, precisamos aprender rápido para iterar rápido, e essa velocidade conseguimos coletando dados de ferramentas. Quando está em busca de alguma informação, veja primeiro se você não consegue obtê-la através dos dados de forma rápida e prática, antes de partir direto para as entrevistas. Você também pode usar artefatos de pesquisa para identificar qual é o melhor método para resolver o seu problema.

5. Tudo deve ser documentado

Antes de começar a trabalhar como UX, eu não entendia direito a necessidade de documentar todo o processo. Porém, no dia a dia eu percebi o quanto isso é fundamental para se ganhar tempo. Sim, documentar o processo faz com que a gente gaste tempo nessa tarefa. Porém, esse esforço é recompensado quando nós e sobretudo outros colaboradores precisam consultar essa documentação. Assim como qualquer outro hábito, essa ação deve entrar na rotina de trabalho e estar inserida no processo de criação desde o começo, no planejamento. Além disso, é importante alinhar com outros colaboradores para que todos usem os mesmos layouts de documentação, facilitando assim na hora da consulta e busca por informações. E, de preferência, opte por ferramentas de documentação colaborativas como o Google Drive e o Notion.

Notion é uma ótima ferramenta para documentação de times por ser colaborativa e flexível.

6. Os componentes devem ser reaproveitados

Outra impressão que temos quando estamos estudando para trabalhar com UX é que passaremos horas e horas do nosso dia no Figma criando componentes e telas do zero. Alguns cursos de UI nos ensinam como podemos ser criativos e renovar a interface dos produtos usando animação, degradês e ilustrações. Mas, na realidade, gastamos mais tempo resolvendo problemas do que de fato criando interfaces. Muitas empresas já possuem um Design System, um UI Kit ou pelo menos uma identidade visual que deve ser seguida. Então o seu trabalho como designer não será tanto criar componentes, e sim como usar os que já existem de forma a proporcionar a melhor experiência para o usuário. Além disso, para facilitar o trabalho dos desenvolvedores e manter os produtos padronizados, os componentes precisarão ser reaproveitados, e muitas vezes até telas inteiras.

7. Nem sempre dá para melhorar tudo

Quando entramos na nossa primeira empresa como UX Designers, muitas vezes temos a ânsia de melhorar todo o produto o mais rápido possível. Ficamos ansiosos e frustrados vendo como a experiência dos nossos usuários está ruim com o produto atual e queremos logo começar a por a mão na massa. Mas calma pequeno gafanhoto, respire fundo e faça uma coisa de cada vez. É importante detectar os problemas de usabilidade dos nossos produtos, mas tenha em mente que seu squad não vai conseguir melhorar tudo de uma vez só e as coisas precisam ser priorizadas. Grandes mudanças que vão requerer várias sprints (portanto mais dinheiro de desenvolvimento para a empresa) são difíceis de serem aprovadas e vão precisar ser bem justificadas. Portanto mapeie os problemas mais críticos, use matrizes de priorização para analisar esforço vs. impacto e alinhe sempre com seus colaboradores para ir melhorando a experiência dos usuários aos poucos.

Exemplo de matriz que ajuda na priorização de tarefas.

8. A sprint passa voando

Um dos maiores desafios em se trabalhar com UX é com relação ao tempo. Ele será um de nossos inimigos no nosso dia a dia já que dentro do processo ágil precisamos aprender e iterar da forma mais rápida possível. Inseridos dentro de um squad que utiliza o scrum, vamos precisar seguir o ritmo da sprint, que geralmente tem duração de duas semanas. E quando começamos a trabalhar com esse processo, temos a sensação de que o tempo da sprint é maior do que realmente é e acabamos assumindo mais tarefas do que realmente damos conta. Por isso, tente ser realista na hora de estimar suas tarefas, divida em pequenas etapas aquelas que são muito complexas e considere o tempo da documentação, das reuniões e de imprevistos que podem acontecer no caminho. Alguns bugs críticos, por exemplo, podem surgir no meio da sprint e seus desenvolvedores podem precisar da sua ajuda.

9. Se comunique com o time, mas nem tanto

Uma boa comunicação é uma das chaves para equipes produtivas. Quando falamos de home office isso se torna mais necessário ainda já que estamos a quilômetros de distância de cada colaborador. Para contornar isso as empresas usam ferramentas como Slack ou Discord e realizam reuniões diárias, semanais e quinzenais para manter todos alinhados. Conversar com seu squad e stakeholders e constantemente compartilhar o que você está fazendo no momento é essencial para você coletar feedbacks e melhorar suas soluções e processos. Porém, tome cuidado para não enviar mensagens desnecessárias que vão atrapalhar o ritmo de trabalho do outro ou marcar reuniões que poderiam ser resolvidas só com algumas mensagens. Se precisar marcar uma reunião avise antes do que se trata para que os participantes estejam cientes e se preparem. Com essas dicas conseguimos fazer com que a comunicação no home office seja mais direta e assertiva.

10. Maturidade em UX é um processo

Quando estamos estudando para trabalhar com UX nos apaixonamos pela ideia de melhorar a experiência dos usuários e tornar os produtos cada vez melhores. Porém, quando conseguimos nossa primeira oportunidade na área, quase certamente entramos em empresas que não possuem uma boa maturidade em UX, o que é a realidade da maioria das empresas do Brasil. Talvez você seja o único UX da sua startup ou possui um time reduzido que precisa lidar com vários produtos ao mesmo tempo. Nessas empresas as pessoas ainda não entendem direito o que é UX, como usar dados de forma assertiva ou para quê realizar pesquisas, e é difícil convencer os stakeholders a tomar certas decisões. Ao se ver em uma situação como essa a princípio pode parecer desanimador e temos a ânsia de transformar a empresa o mais rápido possível. Porém, apesar disso ser importante e precisarmos sim defender a experiência do usuário o tempo todo, essa transformação não acontecerá da noite para o dia. Por isso, tenha paciência, faça uma ação de cada vez, compartilhe os resultados que as pesquisas e as melhorias de usabilidade trouxeram para a empresa e vai aos poucos trabalhando na maturidade dela.

Os estágios de maturidade das empresas no quesito de UX segundo a Nielsen Norman Group.

11. As melhorias são constantes

Outra percepção errônea que podemos ter quando estamos nos preparando para ser UX Designer é que vamos despender tempo trabalhando em um produto e quando tivermos concluído o nosso protótipo ele estará finalizado. Porém, o processo de design acontece com melhorias que vão sendo aplicadas com o tempo e que podem mudar de uma hora para outra. Até produtos que já possuem uma boa usabilidade como os da Google e do Instagram, sofrem melhorias até os dias de hoje. Isso ocorre porque as coisas na área de tecnologia sofrem mudanças o tempo todo e por isso nosso produto precisará ser constantemente atualizado. Essas melhorias podem estar relacionadas com usabilidade, mas também com novas versões mobile, desktop ou para apps, inclusão ou exclusão de funcionalidades, novos perfis de usuário que precisarão de outros layouts, e assim por diante. Por isso temos aquela famosa frase: não se apegue na solução e sim no problema. Seu protótipo não é perfeito e imutável, e será transformado com o tempo.

12. Você não vai mudar o mundo

E para finalizar, uma última coisa que eu aprendi nesses doze meses é que, sim, nós designers não vamos mudar o mundo. Quando estudamos UX temos a sensação de que vamos chegar na empresa e transformar a vida de todos os usuários e fazer os resultados da empresa decolarem. Ou então lemos incríveis cases de soluções geniais que impactaram a vida de milhares de pessoas e salvaram o destino da empresa. Mas a dura realidade é que no seu dia a dia como UX Designer muitas vezes o seu trabalho será fazer pequenas melhorias aqui e ali que não serão a primeira vista cases grandiosos. Muitas vezes você também vai errar feio, seguir por um caminho equivocado e ter que recomeçar todo o processo. E está tudo bem. O nosso trabalho não é mudar o mundo, e sim fazer a nossa parte no tempo que temos e ir melhorando nossos produtos aos poucos, de acordo com as necessidades reais dos usuários e da empresa. Mesmo que sua solução seja simplesmente incluir um botão de exibir a senha para que as crianças consigam logar de forma mais tranquila, ou congelar a linha de uma tabela para que os professores consigam de fato usá-la. Mesmo criando soluções que parecem banais e não rendem um super case, você estará desempenhando seu papel e é isso o que realmente importa. Talvez você não estará mudando o mundo, mas estará fazendo a diferença no dia a dia do seu usuário.

Estes foram 12 aprendizados que eu tive ao longo deste ano trabalhando de fato como UX Designer Júnior em duas empresas diferentes. Estudar para ser designer e trabalhar de fato como uma, foram duas experiências distintas mas que se complementaram e me transformaram no que eu sou hoje. Não negligencie os seus estudos para ser um UX Designer, mas saiba que a prática é diferente da teoria e muitas coisas você vai aprender colocando a mão na massa, errando e aprendendo.

E você? Quais foram os aprendizados que você teve até agora trabalhando como UX Designer? Comente abaixo.

--

--