Catherine Deneuve por Walter Carone em 1963

Bem por aí mesmo

Incrível ver uma mulher jornalista chegando meio que nas mesmas conclusões

Pedro Botton
Editora Canhoto
Published in
7 min readDec 10, 2018

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Galera, li um texto aqui de uma colunista da Folha, Marilis Pereira Jorge o nome dela, e me senti bastante representado, acho que é bem por aí mesmo.

Porque é isso que a gente vem falando aqui né, agora não é a nossa vez mais de falar mas quando uma mulher, feminista pelo jeito, levanta a lebre acho que já dá pra começarmos a falar mais com as pessoas sobre essas questões que estamos discutindo aqui no grupo.

Como eu sei que muito de vocês não vão nem clicar no link (se fosse gif da Anitta vocês clicavam 100% né) e, mesmo se clicassem, não ia dar pra ler a matéria porque ninguém aqui assina jornal (tô usando a senha da minha madrinha) vou resumir mais ou menos por aqui sobre o que é o texto. Eu ia mandar um áudio mas tô aqui na van que leva do metrô pro escritório e como essas ideias são meio revolucionárias acho que poderia pegar mal com alguém aqui. Tá um puta trânsito aqui na Marginal, então acende o cigarro aí que lá vem textaço.

Ela coloca o dedo na ferida disso do feminismo talvez ter ido longe demais através da campanha do #metoo lá, lembram? Das minas de Hollywood denunciando os Louis C.K. da vida? Pois é, a parada é que a agora o lance já se desenrolou pra uma perseguição a toda e qualquer atitude masculina e que dar em cima de qualquer mina em qualquer situação já é motivo pra escândalo. Disso tudo a gente já sabe porque já discutiu bastante aqui e aquele dia no Pirajá (não sei se tava todo mundo) mas foi incrível ver uma mulher jornalista chegando meio que nas mesmas conclusões: feminismo tá virando vitimismo e isso tá atrapalhando as próprias mulheres.

Parece que saiu uma matéria na Bloomberg em que um executivo gringo aí disse que contratar mulher hoje em dia é um “risco desconhecido” (tava sem o link no texto e não achei a reportagem pra ler) (jornalista é foda também né, nem pra colocar a fonte, depois quer ser levada a sério kkk) porque agora os homens têm que ficar pensando mil vezes se é “apropriado” ou não fazer um jantar de negócio, pegar elevador junto, chamar pro happy hour, essas coisas. Parece que isso tem atrapalhado sério as relações de trabalho e a culatra disso é, obviamente, contratar mais homens.

Ela fala até que agora o “certo” é pedir quarto em hotel em andares diferentes, daí eu lembrei daquela minha história, lembram, quando eu fui com a estagiária lá da firma que eu trabalhava apresentar um projeto em Curitiba e acabou que a gente passou o final de semana lá porque o voo de volta cancelou? (Não, infelizmente não peguei ela, não, eu tava namorando na época.)

Enfim, o lance foi que a gente acabou ficando em dois quartos conjugados, aqueles que têm uma porta que dá acesso direto de um ao outro, sabem? Por mim podia ter pego um quarto só com duas camas de solteiro, pô, puta gasto a mais pra dormir uma noite, mas parece que acabou que os clientes pagaram. Mas então, no dia que a gente apresentou o projeto, na sexta mesmo, eu precisei voltar antes pro hotel pra receber umas plantas que iam chegar pelo Sedex (fui de Uber Black até, rapá) e ela ficou lá com os clientes fazendo mais uma sala porque os gringos tavam afim de falar aquele dia viu, tá louco. Depois ela acabou voltando de ônibus mais tarde, o que aliás deve ter sido bem interessante, lá em Curitiba tem aqueles ônibus expressos com plataforma elevada, catraca antes e não sei o quê, experiência bacana pra ela também. Daí que a gente acabou nem conversando nada aquele dia como tinha sido a reunião. Eu fiquei no quarto mesmo tomando umas cervejas (a conta do frigobar ficou pro escritório, depois que eu fiquei sabendo, mó cagada, ainda bem que só tinha cerveja naquela geladeirinha, ainda que várias) e daí quando eu ouvi que ela tinha chegado bati na porta dela e perguntei se tudo bem da gente conversar um pouco sobre a apresentação e até pra eu dar uns toques pra ela de como se comportar melhor numa próxima e tal. Ela demorou um pouco pra responder e eu até achei que ela já tinha dormido ou que eu tinha ouvido errado mesmo (tava meio louco já né, cerveja e tv a cabo já viu) mas daí depois de um tempo ela falou, Pode entrar.

Daí aquilo né, o frigobar dela ainda tava cheio de cerveja, já era meio tarde quando ela voltou e só dos toques que eu queria passar pra ela já era mais de 3 da manhã. Ela também mal bebeu, então o Degas aqui chapou o globo e depois acordou na cama dela de roupa e de lente de contato no dia seguinte, numa puta ressaca e com o sol fritando na minha cara. Fui no meu quarto e lá ela também não tava. Daí desci ela tava lá, na piscina, toda à vontade de óculos escuros tomando uma água de coco e me contou que eu apaguei na cama dela, ela dormiu lá no meu quarto mas já tinha até chamado a camareira e tava tudo arrumadinho lá caso eu quisesse dormir mais. Parece que você vai precisar, ela disse meio que rindo.

Enfim, contei a história pra ilustrar isso que o texto fala: a relação de trabalho entre um homem e uma mulher pode ser despojada e ter a cumplicidade de uma relação entre dois homens normalmente, sabem? Pô, conversamos um monte aquele dia, tomamos um porrezinho juntos e foi 0% estranho, tipo dois amigos viajando mesmo. Daí se eu precisasse ficar nessa de “melhor pegar quarto em andar separado” não tinha rolado nada disso e talvez eu nem tivesse indicado ela pra virar assistente do escritório quando eu precisei deixar de ser sócio lá. Acho que ela tá lá até hoje, o que é incrível porque deve estar um puta bucha: saíram dois sócios, eu e o Deva, e ficou só ela no nosso lugar e com uma estagiária a menos ainda por cima, no caso, ela mesma.

Mas, voltando à coluna lá da moça, uma parada que ela fala que é muito certa é que o excesso de feminismo tá criando uma tolerância zero que é absurda, pô, é que nem o caso do Aziz Ansari lá (aqui é link na mão, vou pegar o emprego da Marilis), tudo é assédio agora, todo homem é um potencial estuprador e isso machuca muito homens como nós aqui do grupo que sabem muito bem que já tiveram atitudes questionáveis no passado (né todo mundo) mas agora já deram uma desconstruída e já superaram isso já.

Pô, eu fui criado só por mulheres, tenho um monte de mulheres importantíssimas na minha vida, minha irmã (nem começa), minha mãe, minhas tias, agora minha sobrinha, minha vó, até a minha bisa, pô, que tá lá com quase 100 anos e todo domingo faz a feijoadinha light lá dela pra família toda, acho que alguns de vocês já colaram até. Bonitinha ela, faz toda a comida, não deixa eu levantar nem pra pegar a pimenta e ainda traz o isqueiro (e o cinzeiro) pro cigarrinho sagrado de depois da laranja que a mamãe não deixa eu fumar na casa dela mas a bisa leva de boa. Acho que até faz ela lembrar do Vô Pedro, que deus o tenha (se este existir e se aquele tiver existido)(vai saber né se a véia inventou esse tal de Pedro que saiu nomeando todos os homens da família há 100 anos, não tem nada dele além daquele desenhinho lá com o, talvez também imaginário, tio Horácio.)

De qualquer maneira, a Dona Neusa é firmezinha demais, domingo passado eu esqueci de levar o celular pro almoço e até lavei o restinho da louça do café lá de tanto tédio que tava a dança dos famosos. A senhorinha só faltou soltar um rojão porque até chorar ela chorou, a família inteira lá ficou pagando uma puta lenha pela minha atitude, menos a minha irmã que ficou com aquela cara de “grandes merda”, o que foi bem filha da puta da parte dela porque aquela louça era dela.

É isso aí galera, a van finalmente chegou aqui no prédio e vou dar uma corridinha aqui pra passar da catraca porque, as always, estoy very atrasado. Mas também, de boa, minha chefe tá de licença maternidade (e ainda tem gente que é contra).

Mas era isso, queria compartilhar com vocês esse texto aí e foi bom que essa minha resenha de coluna irrelevante de jornal irrelevante ocupou muito bem esse meu trânsito matinal (tá bom, vespertino, mas lembrem-se que ela está de licença).

Nosso lugar de fala tá chegando.

Um forte abraço pra todos que fazem desse maravilhoso grupo composto apenas pela mais fina nata dos homens com h de (fazendo) História, o A.M.B. (Anti Machismo Brasil).

P.S.: Eu sei que agora pode parecer meio pira, mas se essa onda pegar eu pensei numa hashtag aqui pra esse movimento: #MenToo, que que vocês acham?

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