“Corrente do Bem”: conheça o projeto que combate a pobreza menstrual na educação

Fabiana Damian
Editorial J Famecos
3 min readSep 30, 2021

Em 2020, educadoras iniciaram um projeto de doação de absorventes e kits de higiene para os estudantes.

Foto: Reprodução/Pexels

“Eu ficava menstruada e a mãe tinha que puxar o carrinho, juntar lixo para poder comprar o absorvente. Então agora eu sempre consigo vir na aula”.

Essa é uma das várias frases marcantes que as professoras de uma escola municipal do bairro Restinga, no extremo sul de Porto Alegre, escutam frequentemente das alunas. Foi ao perceber a ausência de algumas estudantes nas aulas do turno inverso que a professora Lisiane Elesbão decidiu investigar o problema. Ao conversar com as meninas sobre menstruação, elas relataram o uso de jornais e panos para substituir o absorvente durante o período menstrual.

Para tentar contornar o problema, a educadora comprava o item com o próprio dinheiro e distribuía para as alunas. Assim, tornou a sua sala de aula um porto-seguro, onde as meninas, chamadas individualmente para buscar os absorventes, podem tirar dúvidas e conversar sobre o assunto.

Aos poucos, o projeto, agora intitulado “Corrente do Bem”, foi se ampliando para todas as estudantes e chamando a atenção de outros profissionais da escola. Entre eles, as professoras Maria da Graça Luchese e Fabiane Lopes, que hoje fazem parte da iniciativa. Através de brechós para a arrecadação de dinheiro, as educadoras montam kits de higiene destinados a meninas e meninos, com itens como absorventes, desodorante e sabonetes.

“O absorvente é o que tá dando dignidade para essas meninas”, afirma Fabiane.

Kits de higiene distribuídos para os alunos Foto: Reprodução/Lisiane Elesbão

Dados Alarmantes

A pobreza menstrual, termo que ganhou bastante visibilidade nos últimos meses, expressa a falta de acesso à higiene para o manejo do período menstrual. O problema afeta principalmente estudantes entre 9 a 19 anos, que, muitas vezes, deixam de ir à escola pela falta do absorvente. De acordo com o relatório Livre Para Menstruar, realizado pelo movimento Girl Up, uma em cada quatro jovens não possui absorvente para a menstruação.

Porém, a falta desse item não é o único obstáculo que afeta as estudantes brasileiras. A carência de uma infraestrutura adequada também é parte do problema. Conforme a pesquisa Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos da Unicef, são mais de 700 mil meninas sem acesso a banheiro em seus domicílios.

No mês de setembro, foi aprovado no Senado o projeto de lei que previa a distribuição gratuita de absorventes para estudantes, mulheres de baixa renda e encarceradas.

No entanto, nesta quinta-feira (07), o projeto, que dependia de sanção presidencial, teve seus principais artigos vetados pelo presidente Jair Bolsonaro. Apesar de ter sancionado o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, o presidente não autorizou a distribuição gratuita a mulheres em vulnerabilidade.

“A maioria das alunas não têm água encanada em casa. Elas buscam de balde, usam penico ainda”, relata Lisiane.

Além da falta de itens e da infraestrutura precária, o estigma acerca da menstruação também afeta as meninas. De acordo com as educadoras, “elas têm um olhar de que a menstruação é algo ruim, algo feio, algo sujo”. Com o apoio das professoras, aos poucos as alunas vão mudando a sua visão e acolhem muito bem o projeto.

Corrente do Bem

O nome escolhido para o projeto tem um propósito. Ao receberem os kits, as alunas são incentivadas a também ajudar outras pessoas no futuro, sem deixar que a corrente do bem seja interrompida. Até o fim do ano, as professoras pretendem ampliar para 100 o número de crianças e adolescentes atendidas pelo projeto. A maior dificuldade, porém, ainda é o acesso aos alunos que não estão indo à escola por causa da pandemia.

Para ajudar

  • Doação de roupas, calçados e acessórios em bom estado para o brechó;
  • Doação de materiais de higiene pessoal;
  • Doação de algum valor para a compra de insumos;
  • Compra de peças do brechó;

Mais informações no Instagram do brechó: instagram.com/brecho.da.princess

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