História centenária do Brasil nas Olimpíadas é celebrada com novos recordes e a melhor campanha de todas

Eduardo Magnus Chaves
Editorial J Famecos
4 min readAug 13, 2021

Jogos de Tóquio reforçam a supremacia brasileira na América do Sul e o avanço das conquistas femininas após 101 anos da estreia do país

Por Eduardo Chaves, Valentina Biason e Willian Sanmartin

A judoca Ketleyn Quadros e o jogador de vôlei Bruninho carregaram a bandeira do Brasil na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 / Foto: Júlio César Guimarães/COB.

A história olímpica do Brasil completou 101 anos durante os Jogos de Tóquio deste ano, marcados pela quebra de muitos tabus e que rendeu a melhor posição do país numa edição. Uma trajetória que começou em 1920, nos Jogos da Antuérpia, na Bélgica, quando os brasileiros conquistaram suas três primeiras medalhas. Com maior número de atletas brasileiros por edição e o avanço da participação feminina, o Time Brasil figura, hoje, na primeira colocação do quadro geral de medalhas da América do Sul.

As primeiras medalhas vieram logo na estreia brasileira nos Jogos. / Foto: Comitê Olímpico Internacional (COI)

Os Jogos da Antuérpia são o primeiro capítulo de uma história de evolução. Logo nas primeiras provas disputadas, o Brasil conquistou uma medalha de cada degrau do pódio, todos no tiro esportivo. O país participou das Olimpíadas mais 22 vezes, ficando de fora somente em Amsterdã 1928. Segundo a base de dados Olympian Database, são 149 medalhas brasileiras (37 ouros, 42 pratas e 70 bronzes) até agora, e a evolução brasileira a cada ciclo olímpico é notória. Acompanhe no gráfico.

Levando em conta o critério de classificação pela quantidade de medalhas de ouro, amplamente adotado pela imprensa e pelo COI, o Brasil ocupa a 34ª posição no ranking histórico mundial e tem 238 ouros a menos que o quinto lugar, China. Mesmo assim, o país segue sendo o melhor colocado entre todos os países da América do Sul. São 72 medalhas a mais do que a segunda posição, ocupada pela Argentina.

Em Tóquio, o Time Brasil superou a sua melhor campanha, ocorrida em casa, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016. O país pulou uma colocação na tabela em relação ao Rio e ficou em 12º no quadro geral, somando o maior número de medalhas numa única edição (21).

Neste ano, o Brasil registrou a segunda maior delegação da sua história ao contar com 302 atletas no Japão. O número só é menor que o das Olimpíadas de 2016 (465), visto que o Comitê Olímpico Internacional (COI) destina ao menos uma vaga em cada modalidade ao anfitrião, sem que precise competir com outros países. Foram necessários 14 atletas para cada medalha conquistada em solo japonês; no Rio, 24. Confira a proporção entre atletas brasileiros e pódios em cada edição:

Analisando o gráfico, a estreia na Antuérpia 1920 e as recentes edições desde Atlanta 1996 se destacam. O atual bom momento do Time Brasil é traduzido com a conquista, nas últimas sete edições, de 111 das suas 149 medalhas, cerca de 75% do total. Apesar dos resultados positivos, o último ciclo olímpico foi marcado pela falta de investimento do governo federal no esporte.

Protagonismo em Tóquio: mulheres brasileiras quebram vários tabus

Rebeca (22) fechou o torneio com uma prata e um ouro. / Foto: Miriam Jeske/COB

A verdade é que elas foram as grandes protagonistas dessa edição. Rebeca Andrade conquistou as primeiras medalhas brasileiras femininas da ginástica artística, enquanto Luísa Stefani e Laura Pigossi levaram o tênis brasileiro pela primeira vez ao pódio. Na estreia do skate, a brasileira mais jovem da história a participar dos Jogos, Rayssa Leal, faturou a prata.

Bia Ferreira fez o boxe brasileiro feminino chegar à inédita final olímpica. Martine Grael e Kahena Kunze foram bicampeãs consecutivas na vela. Ainda nos mares japoneses, Ana Marcela Cunha garantiu o primeiro ouro na maratona aquática. Uma campanha para ser sempre lembrada: cerca de 40% — 9 de 21 — das medalhas brasileiras foram conquistadas por mulheres, superando o recorde de Pequim — 2008 (6 de 16).

Com todas as adversidades, as mulheres têm grande contribuição na história olímpica. No judô, modalidade onde o Brasil mais saiu vitorioso, duas das quatro medalhas de ouro são femininas. Em Tóquio, a judoca Mayra Aguiar conseguiu o inédito feito de estar presente em três pódios consecutivos. No vôlei, a única medalha obtida foi a prata da equipe liderada por Fernanda Garay. No geral, as mulheres são responsáveis por 12 dos 24 pódios, somando as categorias de praia e quadra.

O pioneirismo e a superação são marcas da história feminina nos Jogos. O registro da primeira mulher brasileira participante ocorreu em 1932, duas edições após a estreia olímpica do Time Brasil. A nadadora Maria Lenk foi a única mulher em uma delegação de 45 homens. Não à toa a primeira medalha masculina veio 76 anos antes da feminina.

Em Atlanta 1996, foi a vez de Jackie Silva e Sandra Pires eternizarem seus nomes na história brasileira. A dupla subiu no lugar mais alto do pódio na estreia do vôlei de praia como modalidade olímpica. A vitória tardia evidencia a desproporcionalidade de participação entre brasileiros e brasileiras.

As mulheres levaram 104 anos para ser 40,7% do número total de atletas a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos. Este percentual tem aumentado, atingindo 49% em Tóquio 2020. A situação das mulheres nos Jogos Olímpicos evoluiu de uma total exclusão em Atenas 1896 (veja o vídeo abaixo) até a garantia de equidade de gênero em Paris 2024, anunciada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

A professora de Educação Física e pesquisadora, Silvana Goellner, fala sobre o universo feminino nas Olimpíadas. / Vídeo: UFRGS TV/Youtube

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