Visões de Dentro — Narrativas da Experiência de Isolamento

Laís Alves
Editorial J Famecos
3 min readJul 2, 2021

Esses três ensaios fotográficos trazem as realidades alteradas pela pandemia: a pausa na infância como conhecemos, a invasão do local de trabalho para dentro do espaço de conforto, e a passagem do tempo visto por uma janela. Distintas visões sobre o isolamento, mas reais e identificáveis por inúmeras pessoas. A proposta é mostrar que mesmo desconectados, persiste uma relação das situações em que as pessoas se encontram atualmente.

Capítulo I: Infância em pausa

A infância durante a pandemia apresentou duas faces. Uma está mais próxima da família e outra é estar à espera. À espera de um momento em que será possível voltar a ver os amigos. À espera da volta à vida normal.

Este ensaio traz imagens dessas duas faces, no cotidiano de crianças de um condomínio da Zona Norte de Porto Alegre. A pandemia mudou a forma de brincar na companhia de seus amigos. As máscaras já fazem parte de seu dia a dia, e a adaptação foi como a usar óculos: com o passar do tempo se tornou somente algo a mais em suas vidas. Algumas crianças ficam sozinhas nas praças e quadras de esporte passeando em áreas que eram parte do seu cotidiano antes do distanciamento, enquanto esperam a hora de voltar à brincar livremente. Outras substituem esse tempo com familiares: andando de bicicleta com algum dos pais para aproveitar o ar livre.

“Os dias mais recuados de sua infância, o dia em que dissera: “Serei livre”, o dia em que dissera: “Serei grande”, apareciam-lhe, ainda agora, com seu futuro particular, como um pequenino céu pessoal e bem redondo em cima deles, e esse futuro era ele, ele tal e qual era agora, cansado e amadurecido.

Tinham direitos sobre ele e através de todo aquele tempo decorrido mantinham suas exigências, e ele tinha amiúde remorsos abafantes, porque o seu presente negligente e cético era o velho futuro dos dias passados.

Era a ele que eles tinham esperado vinte anos, era dele, desse homem cansado, que uma criança dura exigira a realização de suas esperanças; dependia dele que os juramentos infantis permanecessem infantis para sempre, ou se tornassem os primeiros sinais de um destino.

Seu passado sofria sem cessar os retoques do presente; cada dia vivido destruía um pouco mais os velhos sonhos de grandeza, e cada novo dia tinha um novo futuro; de espera em espera, de futuro em futuro, a vida dele deslizava docemente… em direção a quê?”

A idade da razão, Jean-Paul Sartre, 1945

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