Te-Arte

Camila Yallouz
Sementes de Educação
3 min readJan 27, 2018

Entramos pelo corredor cercado de verde que revelou um quintal realmente mágico. Um espaço meio jardim, meio quintal, meio rua de casa, repleto de cantinhos acolhedores, lúdicos e multiculturais onde crianças e adultos circulavam livremente, harmoniosamente, fluindo conforme a música… 🌾

Chegamos no Te-Arte passando por algumas crianças em cavalos de balanço, uma garotinha de alguns meses que ensaiava descer uma escada do lado do tanque de areia, duas meninas dando “umbigadas” e cantando… Renata nos disse que Therezita nos esperava no salão.

Cabelos brancos e andador, Therezita logo mostrou que não era nada frágil. Falasse baixinho, todas as crianças ouviam atentas suas palavras com respeito e atenção. Nos perguntou <na lata> o que queríamos ali. Contamos um pouco da história, dos caminhos percorridos, e logo nossas falas se misturavam e ouvíamos sobre o que acontecia ali. “É isso que vocês estão vendo!” Sem mistérios, sem metodologias, sem lenga-lenga, sem querer agradar ninguém. Ali as crianças, que tem de oito meses a sete anos <e ficam todas juntas>, são livres para brincar, para estar, para serem crianças, fazem música, história, arte, envolvidas pela natureza e afinadas espontaneamente por uma harmonia comum.

Mas o que parecia não ter mistério algum, era puro mistério, puro saber e sensibilidade… Em poucos minutos Therezita revelou conhecer cada uma que passava, e sabia tratá-las conforme suas personalidades e necessidades, mostrando a experiência de quem sabe ver e tocar a alma de cada criança.

Diferente dos outros projetos que visitamos, nosso convite ali não era para observar (na verdade essa não era nem uma opção), mas para estar. Estar, brincar, experimentar e sentir tudo o que há de simples e complexo em se fazer presente com as crianças. ☘

Engessados e sistematizados que são os adultos que habitam em nós, me deparei com a minha falta de fluxo e de afinação àquela música que tanto me encantava. Caminhei por uma roda de crianças que pintavam o rosto e logo vi um leão de uns quatro anos sair correndo pelo verde, passei por uma menina pequena comendo o farelo de polvilho de uma grande bacia e experimentando todos os seus cinco dedos naquele pó branco, um garotinho esfregava uma casa do seu tamanho com uma escova de dentes velha mergulhada em uma poçinha de água.

Encontrei então um grupo grande de crianças que ouviam uma história e me sentei ali no meio na tentativa de virar uma delas. Eliane distribuiu algumas bexigas minúsculas (que pareciam impossíveis de encher por muitos deles e também para mim). De repente, fomos absorvidos por aquele objetivo comum; trocávamos tentativas, frustrações, salivas e incentivos no meio das cores das bexigas e das crianças que pareciam me conhecer desde sempre. Estávamos conectados, estávamos presentes com as crianças que nos habitam e conosco mesmos. 🌻

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