Aquário (Kit Fora da Caixa)

Alex Bretas
Educação Fora da Caixa
5 min readJun 3, 2015

Toda semana, três ferramentas novas. Apoie o Kit Educação Fora da Caixa e nos ajude a continuar com esse projeto. Clique aqui para apoiar.

Fonthe: Festival Path 2015.

Diálogo focado e muito conhecimento compartilhado

O Aquário é uma forma de se realizar diálogos em grupo que busca tornar mais efetivos os papéis de fala e de escuta dos participantes. Uma conversa significativa é proposta em dois (ou mais) círculos concêntricos, de modo que somente o círculo de dentro pode falar, e os demais exercem o poder da escuta. O nome Aquário remete ao círculo de dentro, de forma a representar metaforicamente o movimento que os participantes precisam fazer para “mergulhar” na conversa.

Por quê?

O idealizador das conversações em Aquário é desconhecido; há quem acredite que foi o Peter Senge. O problema que o Aquário busca resolver refere-se à dificuldade que alguns grupos têm de conversarem: numa reunião comum, pode ser que algumas pessoas tendam a monopolizar a conversa. Além disso, outros participantes que poderiam trazer contribuições preciosas acabam optando por não falar por medo de serem interrompidas ou simplesmente porque seu ritmo está mais lento que o do grupo.

Neste sentido, o Aquário favorece a valorização de quem fala e de quem escuta porque inclui um movimento físico para habilitar as contribuições. É preciso se levantar para falar, e o fato de haver um número limitado de cadeiras no centro indica que a conversa também tem um centro, isto é, um foco claro. O fato de haver uma grande quantidade de pessoas escutando ativamente do lado de fora também reforça a qualidade do diálogo (tente estruturar uma fala sem que haja alguém te escutando e veja o resultado).

Os círculos de fora também cumprem a função de minimizar o risco de alguém monopolizar a conversa. Caso isso aconteça, a pessoa estará em evidência e a probabilidade de que ela “se toque” é maior. Por outro lado, quem costuma ser muito calado também tende a se perceber mais no Aquário, uma vez que a cadeira vazia “está sempre lá” para possibilitar as contribuições de todos. Assim, pode-se dizer que o Aquário favorece o desenvolvimento da fala com intenção e da escuta com atenção, por estimular a autopercepção dos participantes.

Outra razão para se experimentar o Aquário é o melhor aproveitamento do tempo. A frequência de interrupções inoportunas e perdas de foco é bastante reduzida em comparação a uma reunião tradicional.

Como?

Fonte: Wikipedia.

Para se realizar um Aquário tudo o que se precisa é de cadeiras num número equivalente ao número de participantes e de alguém que possa explicar e facilitar o processo. Um outro papel importante é o de registro ou colheita, e uma forma simples e efetiva de se fazer isso é utilizando um cavalete flipchart. Uma pessoa, então, responsabiliza-se por criar um registro visual que vai sendo atualizado simultaneamente à conversa, disponível para todos.

Para iniciar um Aquário, o facilitador pode dar as boas-vindas aos participantes já sentado no círculo de dentro (isso ajuda as pessoas a compreenderem que aquele é o local da conversa). Ele, então, pode falar brevemente sobre o tema do encontro, explicar como ocorrerá a interação e convidar as pessoas a adentrarem o Aquário compartilhando uma pergunta-chave ou contando uma história.

Os pontos principais que o facilitador precisa explicar em relação ao funcionamento do Aquário são os seguintes:

  • O círculo de dentro é onde o diálogo acontecerá.
  • Os círculos de fora exercem uma função igualmente importante, a da escuta. Todos que estiverem escutando são componentes fundamentais da conversa.
  • O elemento de conexão entre o círculo de dentro e os de fora é a cadeira vazia, que poderá ser ocupada a qualquer momento, por qualquer pessoa.
  • A regra de ouro é: uma cadeira deve permanecer sempre vazia. Isso porque a possibilidade de todos participarem a qualquer tempo é crucial para aproveitar ao máximo o conhecimento do grupo.
  • Não é preciso se preocupar com as movimentações de pessoas de um círculo para o outro. Isso costuma ocorrer de forma bastante orgânica, sem a necessidade de intervenções.
  • Caso haja alguma pessoa responsável pelo registro (visível para todos), é interessante apresentá-la e explicar a importância de sua função.

Ao término da introdução do facilitador, pode ser que demore um pouco para que os participantes tomem coragem para entrar, e não há porque se preocupar com isso. Momentos de silêncio são importantes para o grupo e podem acontecer também durante o diálogo.

O Aquário começa quando os primeiros participantes entram no círculo de dentro e iniciam a conversa. Não é comum, mas em situações específicas quem está facilitando pode entrar na conversa e abastecê-la com novas perguntas e conexões. Quando chegar o momento de finalizar o diálogo, o facilitador novamente adentra no círculo de dentro e encerra o Aquário.

As aplicações do Aquário são diversas, mas é notável a sua utilização por educadores. Trata-se de uma ótima maneira de engajar alunos em uma conversa produtiva. Outra forma é aproveitá-lo em eventos, de forma que palestrantes e participantes tenham um canal direto e mais intimista para interagir — muito melhor que perguntas ao final da palestra. No caso, uma variação que pode ser útil é orientar os palestrantes a permanecerem no círculo de dentro durante toda a conversa (caso se queira manter um clima igualitário, pode ser interessante que os expositores participem da mesma forma que as demais pessoas).

Além de eventos e salas de aula, o Aquário pode ser interessante em quaisquer outros contextos que requeiram uma reunião em grupos a partir de 15 pessoas. A possibilidade de conformar mais de um círculo de fora (as outras cadeiras vão sendo posicionadas atrás do primeiro círculo) permite que Aquários sejam feitos com até 120 pessoas tranquilamente, desde que estejam a estrutura e os equipamentos adequados (especialmente microfones) estejam disponíveis.

Empresas, governos e projetos sociais têm utilizado o Aquário para potencializar a escuta e o compartilhamento de conhecimento tácito de grupos. Vale a pena experimentar ;-)

Para saber mais:

Este texto faz parte da série especial do Kit Educação Fora da Caixa, que aborda diversas ferramentas educacionais inovadoras. Navegue no blog para ver tudo o que já publicamos.

Toda semana, três ferramentas novas. Apoie o Kit Educação Fora da Caixa e nos ajude a continuar com esse projeto. Clique aqui para apoiar.

--

--

Alex Bretas
Educação Fora da Caixa

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.