Cartas (Kit Fora da Caixa)

Alex Bretas
Educação Fora da Caixa
4 min readMay 1, 2015

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Fonte: Happiness: only real when shared.

A carta é o símbolo da escrita íntima, profunda e dialógica

Escrever uma carta exige sair do modo multi-tarefa. É uma forma de interação com o outro ou consigo mesmo que habilita um grande poder de reflexão. Ainda que o e-mail tenha tomado o lugar da carta, a escrita manual permanece porque, por ser lenta, permite-nos divagar.

Por quê?

É curioso notar como algumas modas voltam. Persistem, na verdade. Em tempos de Spotify, o vinil; na era do carro autodirigido, o prazer de se andar a pé; e no auge das mídias sociais, as cartas. Vinil, caminhadas e cartas guardam entre si a semelhança do prazer demorado, a alegria da presença. Este ar de degustação, espero, continuará persistindo em nós: de fato, hoje precisamos mais dele do que nunca.

As cartas existem há muito tempo e se dedicam a diferentes funções. Cientistas correspondiam-se com seus pares para contar sobre os avanços e desafios de suas pesquisas, namorados viam nas cartas um jeito de encurtar a distância entre si, e amigos se escreviam para aliviar (ou cultivar) a saudade. Hoje, carta virou e-mail: e não é interessante perceber como o e-mail tem se mantido firme e forte frente à ameaça das redes e mensagens instantâneas?

O correio eletrônico permanece porque deriva da mesma lógica da carta: é privativo, discreto, convida à reflexão por meio das palavras e gera grande expectativa de resposta. Seja pelo meio físico ou digital, corresponder-se profundamente com alguém ainda significa bastante. Pelo menos pra mim.

Como?

Fonte: The Digital Cew.

Escrever algo direcionado a alguém é como colocar um óculos novo nos nossos pensamentos. E o destinatário não precisa estar nem vivo, basta que haja uma intenção real em dialogar. No livro que estou escrevendo, tenho utilizado as cartas como uma forma de me conectar num nível mais íntimo a quem fez diferença no meu caminho.

Pense em algumas pessoas com as quais você aprendeu coisas muito importantes. O que você escreveria para elas? Lembre-se de alguém que tenha se chateado com você por algum motivo: como seria a carta que pudesse ajudar a reatar este vínculo? Identifique algumas pessoas que você ainda não conhece pessoalmente, mas que admira muito. Quais as perguntas que você sempre quis fazer a elas? Dê um jeito de encontrar o endereço e voilà: agora é só aguardar a resposta.

Às vezes a resposta não vem. Ainda que isso possa ser frustrante, é importante aceitar o tempo e as reações de cada pessoa e entender que o próprio processo de escrever uma carta é, por si só, recompensador. Pode ser que as respostas apareçam na medida em que você escreve e dialoga consigo mesmo — e com suas lembranças e pensamentos a respeito do seu destinatário.

Outra forma de se utilizar as cartas é escrever para si. O que você escreveria para si mesmo? Que perguntas você sente que precisa se fazer? O que você teria a dizer para si daqui a 5 anos? É possível escrever em meio físico e guardar a carta (mais divertido é enterrá-la), ou ainda enviar um e-mail para a sua própria caixa de entrada e deixá-lo salvo.

Existem diversas outras formas de aproveitar o poder das cartas. O projeto “Happiness: only real when shared”, por exemplo, as envia para estranhos. Elas podem ser convites abertos à exploração conjunta, à reflexão ou à simples degustação da presença. Mas, sempre com intensidade.

Para saber mais:

Este texto faz parte da série especial do Kit Educação Fora da Caixa, que aborda diversos métodos educacionais inovadores. Navegue no blog para ver todas as ferramentas que já publicamos.

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Alex Bretas
Educação Fora da Caixa

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.