Cena 6: Casas colaborativas

Redes que se tornam comunidades

Alex Bretas
Educação Fora da Caixa
38 min readDec 3, 2015

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Um dos muitos encontros realizados na Laboriosa 89. Fonte: Projeto Draft.
Uma das muitas “aulas” ocorridas nas escolas ocupadas em novembro de 2015 em São Paulo. Fonte: Último Segundo.

Escolas públicas de São Paulo estão sendo ocupadas. Por alunos! Muitas, muitas delas (até dia 28 de novembro de 2015, quando começo a escrever este texto, já foram contabilizadas 191 escolas, e o número não para de crescer). A despeito da quase cômica ironia incutida nesse movimento — são eles, afinal, quem têm direito à escola — , a iniciativa dos estudantes do ensino médio estadual paulista é séria e consistente. Eles não estão de brincadeira, embora brinquem bastante no tempo em que permanecem acampados nas escolas (campeonatos de videogame convivem com aulas “doadas” por voluntários, além de momentos de limpeza coletiva e assembleias). A mobilização começou no dia 9 de novembro numa escola em Diadema, região metropolitana de São Paulo, em protesto contra os planos de reestruturação escolar apresentados pelo governo estadual. Dentre outros efeitos, o cumprimento da ação governamental levaria ao fechamento de diversas escolas e turnos escolares.

Estive em uma das ocupações, a da EE João Kopke. Ainda que o governo tenha seus argumentos a favor da reestruturação, acredito que talvez a principal questão incida menos sobre o resultado pretendido e mais sobre a forma de condução do processo. Não me entenda mal: não estou dizendo que o fechamento das escolas é algo “menor”, e sim que o caminho até se chegar à escolha pela reorganização tem sido muito pouco dialógico. A decisão veio de cima e não olhou para os lados, como é típico de organizações altamente hierárquicas. Contudo, olhar para os lados e acolher a boa vontade de quem quer se aproximar do movimento foi muito do que vi quando fui até a escola.

Não cheguei nem a entrar no prédio porque os estudantes estavam preocupados com a possível chegada da polícia a qualquer momento. O clima de medo e ansiedade convivia com um tom de leveza, o qual se refletiu nas significativas conversas que tive com os alunos numa tenda improvisada, armada do lado de um dos portões da escola. Sabe quando você é bem recebido? Foi exatamente assim que me senti. Alguns professores apoiavam os estudantes e um deles dormia numa barraca na rua, em frente à escola. Ainda assim, parecia haver um entendimento compartilhado de que o protagonismo, naquele momento, pertencia mesmo aos jovens que sustentavam a ocupação.

Você deve estar se perguntando: por que comecei falando das ocupações nas escolas se o assunto aqui são as casas colaborativas? Até o término desta cena isso ficará claro. Em primeiro lugar, preciso dizer que o movimento dos estudantes secundaristas me atingiu em cheio nos últimos dias: trata-se de um exemplo gritante do modo de fazer política que eu acredito. Menos planejamentos tecnocráticos grandes e mais pequenas ações em rede que, juntas, são grandiosas. Menos paralisia por não conseguir fazer grandes mudanças e mais coragem para propor mudanças singelas e emblemáticas. Menos decisões impostas e mais convites ao diálogo.

As ocupações das escolas em São Paulo traduzem as agitações de um mundo altamente interconectado, cuja compreensão também embasa movimentos como a Primavera Árabe e as manifestações de junho de 2013. A articulação dos estudantes paulistas começou no Whatsapp e encontrou nas mídias sociais (especialmente no Facebook) uma poderosa ferramenta de mobilização. A interação ágil e constante entre eles foi fator crucial para que as ocupações tenham alcançado o tamanho e o nível de organização que atingiram. Uma verdadeira comum-unidade foi formada em pouquíssimo tempo. Um propósito coletivo emergiu em resposta à truculência física e decisória.

Foi justamente em 2013, ano em que mais de um milhão de pessoas foram às ruas para protestar, que comecei a me interessar pelo tema das redes sociais — as quais, neste caso, não equivalem a Facebook ou Twitter, e sim aos vínculos e às possibilidades de interação que nos aproximam. O que convencionalmente chamamos de redes sociais são, na verdade, plataformas interativas digitais (mídias sociais) que podem facilitar nossas conexões, mas o poder de se conectar é do humano. Da natureza, aliás. Ainda assim, a influência dessas ferramentas tem contribuído decisivamente para ampliar nossa capacidade de criar laços uns com os outros — há quem acredite no contrário, mas tendo crescido já com acesso à internet, advogo por ela.

Em junho de 2013 eu estava trabalhando em um projeto de participação social no governo quando o fenômeno das manifestações eclodiu. Tentamos descer ao nível da plebe (era como me sentia, no reino dos patrícios) e conversar com as pessoas, mas não conseguimos. Éramos pesados, lentos e cheios de dedos demais. A horizontalidade e a pluralidade dos movimentos nas ruas nos davam inveja (e eu descobri a tempo que isso se dava porque as manifestações eram um fenômeno de rede). Se eu já tinha interesse em aprender sobre redes antes disso, após as manifestações minha curiosidade havia cruzado um novo patamar.

Eu passava várias horas lendo livros online, acessando fóruns e assistindo vídeos sobre o assunto, inclusive no horário de trabalho. Sentia-me cada vez mais distante daquilo que fazia, como se a necessidade de obediência que pairava sobre mim estivesse me sufocando. De certo modo, estudar o tema das redes sociais naquele momento funcionava como um casulo para mim: era o refúgio que eu precisava antes de me transformar. Tornei-me assíduo frequentador da Escola de Redes, uma comunidade de pessoas interessadas em aprender sobre a ciência das redes sociais, e lá entendi que rede pode ser considerado o contrário de hierarquia.

O copo foi enchendo, até que transbordou — troquei de trabalho e de cidade. Meu envolvimento direto com educação começou aí. Ao me mudar para São Paulo, comecei a frequentar alguns espaços que buscavam materializar os anseios de quem havia se cansado da hierarquia: dentre eles, a Laboriosa 89. Ao longo desse processo, fiquei sabendo da existência de outros locais que operavam sob uma lógica inspirada nas mesmas premissas de rede e abundância: a Catete 92 no Rio de Janeiro e a Casa Liberdade, em Porto Alegre. Ao pensar sobre as características comuns a essas iniciativas, fez sentido chamá-las de casas colaborativas. Desde então, tenho presenciado a abertura de outros espaços semelhantes em diferentes localidades.

Assim como no movimento das ocupações escolares, protagonismo e liberdade estão no cerne do surgimento das casas colaborativas. Ainda que não sejam ideias novas, a persistência dessas iniciativas em colocar em prática ideais profundamente desafiadores é uma prova de sua relevância.

O nome casa colaborativa é uma alusão a experiências de redes de colaboração que, em dado momento, encontram espaços físicos para se potencializarem. O mais importante não é a casa, e sim a rede. Da mesma forma, creio que as ocupações escolares são manifestações físicas de algo mais profundo, um organismo que se conecta e, com isso, vai encontrando sua força. Tanto as casas colaborativas quanto a ação dos estudantes secundaristas, no limite, propiciam intensas oportunidades de aprendizagem por meio da experiência e da convivência. Essa nova forma de aprender desafia nossos pressupostos mais arraigados e, justamente por isso, é capaz de nos refazer profundamente.

Se a reestruturação escolar é o inimigo comum dos alunos que ocupam as escolas, a hierarquia é o principal adversário de quem se articula por meio das casas colaborativas. Para descobrirmos a essência desse novo movimento que se afigura, vale entender melhor no que essas pessoas acreditam.

A essência das casas colaborativas

Antes de tudo, uma ressalva: sei que há diferenças importantes no que diz respeito às ocupações das escolas e às casas colaborativas. O que proponho aqui é aproximar ambos os movimentos na linha do que dizia Milton Santos: através de um olhar para o que une, ao invés de só ver o que separa.

Assim, é possível afirmar que tanto as casas como as ocupações trazem, em sua essência, a ideia da colaboração. Há diversas possibilidades de sentido associadas à palavra colaboração, mas optei por resgatar sua compreensão etimológica analisada de forma emparelhada à noção de cooperação. É o que se vê no trecho abaixo, extraído de um material elaborado pela equipe do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia:

Autores como Fiorentini (2004) destacam que uma produção coletiva pode se dar de forma cooperativa ou colaborativa. O autor distingue cooperação e colaboração a partir da etimologia das palavras em que “co” significa ação conjunta; operare, operar, executar, fazer funcionar; e laborare, trabalhar ou produzir em vista de um determinado fim. Ele afirma que na cooperação os membros de um grupo executam tarefas que não resultam de uma negociação conjunta do coletivo, podendo haver subserviência de uns em relação a outros, e relações desiguais e hierárquicas, enquanto que na colaboração todos trabalham conjuntamente e se apoiam mutuamente, tendendo, dessa forma, a um relacionamento não hierárquico. Assim como o referido autor, Kenski (2003, p. 112) destaca que nos processos colaborativos todos dependem de todos para a realização de atividades, e essa interdependência exige aprendizados complexos de interação permanente, respeito ao pensamento alheio, superação das diferenças e busca de resultados que possam beneficiar a todos.

Assim como o conceito de colaboração, a cooperação também admite múltiplos significados que variam a partir das influências de cada autor — ao se analisar as premissas dos jogos cooperativos, por exemplo, percebe-se nelas uma proximidade muito maior com as características atribuídas à colaboração na citação acima. São essas características que me interessam por conta de sua presença marcante em diversos movimentos que estão questionando as estruturas hierárquicas.

A hierarquia não é exatamente uma estrutura, e sim uma cultura que institui e eleva certos padrões de conduta em detrimento de outros. Mais especificamente, Augusto de Franco afirma que “a hierarquia introduz deformações no campo social capazes de induzir as pessoas a replicar certos comportamentos”. Em seu livro “Hierarquia: A Matrix Realmente Existente”, Augusto afirma que essas deformações baseiam-se nas seguintes crenças:

O ser humano é inerentemente (ou por natureza) competitivo;

As pessoas sempre fazem escolhas tentando maximizar a satisfação
de seus próprios interesses materiais (egoístas);

Sem líderes destacados não é possível mobilizar e organizar a ação
coletiva;

Nada pode funcionar sem um mínimo de hierarquia.

Dessa forma, numa configuração mais hierárquica do que em rede, as pessoas são “pastoreadas” pelos poucos que ocupam os níveis mais altos da pirâmide. Há verticalização e imposição ao invés de horizontalidade e livre interação. No livro, Augusto de Franco investiga as influências da hierarquia na família, na escola, na igreja, nas organizações sociais e políticas, no exército, na universidade e no trabalho, e sua conclusão é assustadora: o padrão hierárquico predomina em todos esses ambientes sem que muitos de nós tenhamos consciência disso. Portanto, ao tomar um padrão cultural como a própria realidade (no singular), torna-se impossível sair em busca de outras. Para muita gente, a hierarquia ainda é um lugar confortável (principalmente para quem está no topo); contudo, cada vez mais pessoas estão profundamente insatisfeitas com os seus efeitos. Há quem já esteja sobrevoando outras realidades. Para ajudar a explicar a emergência da “sociedade em rede”, Franco frequentemente utiliza os diagramas de Paul Baran, engenheiro polonês criado nos Estados Unidos responsável por desenvolver o conceito de redes de comunicação distribuídas:

Os pontos nas três imagens acima estão exatamente nos mesmos lugares, somente as formas de conexão entre eles é que mudam. A maior parte das organizações existentes atua com base no modelo descentralizado (diagrama B): se ele fosse apresentado por meio de uma pirâmide, seria possível perceber que se trata de um típico organograma organizacional, com os diferentes departamentos tendo que prestar contas às diretorias, e estas se reportando à presidência. Paul Baran descobriu que uma rede seria tão mais resiliente face a uma mudança — no caso, um ataque nuclear, dado o contexto militar de sua pesquisa — quanto maior o seu grau de distribuição (ou seja, quanto mais ela se assemelhasse ao diagrama C). Augusto de Franco propõe uma transposição dessa análise para o campo social, de modo a se resgatar o valor das redes sociais distribuídas em contraponto à predominância de configurações hierárquicas. No limite, tudo depende do padrão de interação: os três diagramas demonstram que podemos conectar as mesmas pessoas nos mesmos lugares de formas absolutamente diferentes. E a maneira como interagimos condiciona nossos comportamentos.

As pessoas, uma vez atuando a partir da crença de que redes distribuídas representam um arranjo mais humanizante, não se deixam ser controladas nem procuram controlar os outros. Elas desobedecem.

[A hierarquia] “É um programa de obediência. Seu objetivo é restringir os graus de liberdade e desestimular a cooperação. Sua consequência mais nefasta é matar a criatividade (ou, em um juízo mais rigoroso, dificultar que se forme aquilo que já foi chamado de alma humana).”

“Quando você resiste ao poder vertical, você estabelece uma sintonia com as grandes correntes de humanização do mundo. Quando você cede, sujeitando-se a alguém ou sujeitando outras pessoas a você (no fundo, dá no mesmo), contribui para desumanizar o mundo e a você mesmo.”

Mas, como seria viver em um mundo mais distribuído do que centralizado? A primeira consequência é que não seria apenas um mundo, seriam vários micromundos. Inúmeras comunidades interagindo entre si, aprendendo umas com as outras, sem que poucos detenham o poder de falar para muitos (o nome disso é broadcasting, e é exatamente o que a televisão faz, por exemplo). Algo próximo a um anarquismo que ao invés de negar o Estado, propõe modos de vida que colocam em xeque o que define o Estado como o conhecemos hoje — as relações hierárquicas e o poder de mandar.

Outro vislumbre interessante desse novo mundo tem a ver com a forma com que tomamos decisões. Numa realidade mais centralizada do que distribuída, predomina a lógica da escassez, que se sustenta a partir da crença de que “não tem para todo mundo” (observe que é a mesma premissa que embasa a própria hierarquia ou ainda, a meritocracia). Acreditar nisso, conscientemente ou não, influencia de forma crucial nossas escolhas. Reproduzo abaixo alguns parágrafos do texto “A lógica da abundância” de Augusto de Franco, em que o autor exemplifica de forma clara essa questão:

Os problemas que se estabelecem a partir de divergências de opinião são — em grande parte — introduzidos artificialmente pelo modo-de-regulação. Por exemplo, queremos escolher 5 pessoas para uma função qualquer, mas 10 pessoas estão postulando. Problema? Que nada! Basta escolher as 10. Quem disse que teriam que ser apenas 5? Essa determinação está, por acaso, nos “10 Mandamentos”? Isso só será um problema se nos tornarmos escravos dos estatutos e regimentos: sim, em algum lugar foi definido que teriam que ser 5 pessoas, mas e daí? Qual o problema de mudar essa definição?

Ah! Mas é muita gente, não cabe na sala, vai dificultar o processo de decisão… Todas essas são, é óbvio, desculpas esfarrapadas para produzir artificialmente escassez. Não cabe na sala? Arrumamos uma sala maior ou fazemos um rodízio de quem entra e quem fica fora de cada vez. Vai dificultar o processo de decisão? Criamos duas instâncias e redefinimos as responsabilidades pelas funções.

O fato é que somente em estruturas hierárquicas essas coisas são realmente problemas. Porque nessas estruturas o que está em jogo não é a funcionalidade do organismo coletivo e sim o poder de mandar nos outros, quer dizer, a capacidade de exigir obediência ou de comandar e controlar os semelhantes.

Quanto mais distribuída for uma rede, mais a regulação que nela se estabelece pode ser pluriárquica. Uma pessoa propõe uma coisa. Ótimo. Aderirão a essa proposta os que concordarem com ela. E os que não concordarem? Ora, bolas, os que não concordarem não devem aderir. E sempre podem propor outra coisa. Os que concordarem com essa outra coisa aderirão a ela. E assim por diante.

A crença de que não tem para todo mundo se manifesta, no exemplo acima, quando alguém diz: “tem que ser assim, precisamos escolher apenas cinco pessoas, não dá para ser diferente”. Oswaldo Oliveira — estudioso de redes e iniciador de diversos empreendimentos mais distribuídos do que centralizados — afirma que mecanismos como processos seletivos, promoções, definição de prioridades e eleições são mecanismos promotores de escassez. Artificialmente, nós mesmos criamos escassez onde não há. Isso porque fomos programados culturalmente para pensar e agir assim desde que nascemos.

O paradigma da escassez não se manifesta apenas em processos decisórios. Charles Eisenstein, escritor e ativista da colaboração, demonstra que — assim como a hierarquia — a escassez também se alastrou para diversos outros domínios:

“Da escassez de tempo surge o hábito de se apressar. Da escassez de dinheiro surge o hábito da ganância. Da escassez de atenção surge o hábito do exibicionismo. Da escassez de trabalho com significado surge o hábito da preguiça. Da escassez de aceitação incondicional surge o hábito da manipulação.”

Todos esses desdobramentos surgem do mesmo ciclo vicioso: não tem o suficiente, então precisamos nos destacar dos outros, e em nossas tentativas desesperadas de nos diferenciar dos outros, acabamos excluindo caminhos, possibilidades e pessoas, e então a profecia se autorrealiza: não haverá o suficiente para muitos, ao mesmo tempo em que poucos terão em excesso, o que também pode ser encarado como sinal de escassez).

O pulo do gato é entendermos que a origem disso tudo é uma crença, uma programação, e justamente por ser assim, ela pode ser mudada. Se somos condicionados a todo momento pelas formas com as quais nos organizamos (centralizada, descentralizada e distribuída), começa a fazer sentido operar mudanças no padrão de interação para que possamos, a partir disso, transformar crenças e comportamentos. Isso é exatamente o que as casas colaborativas propõem: uma vivência visceral num ambiente mais distribuído do que centralizado.

A modificação do padrão de organização visando relações não hierárquicas objetiva a “mudança de chave” em se tratando dos paradigmas da escassez e da abundância, em direção a este último. A crença básica é contrária à que embasa a lógica da escassez: tem o suficiente (e os caminhos possíveis são infinitos), então não ficamos com medo nem precisamos nos destacar dos outros para acumular. Logo, tendemos a colaborar para criar coisas juntos e nos abstemos da necessidade de controlar os outros (o que, no limite, serve para acumular). Com as pessoas colaborando e cocriando, mais coisas são produzidas, e assim os custos tendem a se reduzir. Dessa forma, o acesso às coisas torna-se mais inclusivo e equilibrado, e assim a profecia se autorrealiza: haverá o suficiente para todos. Embora esse raciocínio tenha sido construído a partir de um linguajar econômico, tente transpor essa mesma sequência lógica substituindo a palavra “coisas” por outras coisas: afeto, projetos, amizades, relações significativas, apoio mútuo etc.

Para os que acreditam na abundância, o “segredo” é não obstruir caminhos; ou, dito de outro jeito: interação distribuída. Só há razão para obstruir possibilidades se a crença predominante for a de que não tem o suficiente. Essa crença, segundo autores como Charles Eisenstein, foi introduzida pelo nosso sistema econômico — a natureza é, por definição, abundante.

Padrões libertários

Em minhas investigações sobre essas iniciativas, percebi que elas tendem a se comportar de formas até certo ponto semelhantes, compartilhando entre si os seguintes padrões:

  • Autogestão: não há qualquer mecanismo que centralize a gestão (coordenação, diretoria, gerentes ou chefes) nem instâncias decisórias previstas ex ante. As pessoas, agindo e interagindo umas com as outras em redes entremeadas de conversas, resolvem o que precisa ser resolvido. Não há ninguém no comando para quem se possa direcionar queixas e reclamações, a ideia é que cada um aja ou se articule para fazer o que precisa ser feito.
  • Liberdade autorregulada pela rede: as pessoas nas casas colaborativas realmente podem fazer o que quiser? Podem, mas serão observadas pela sua própria consciência (e eventualmente por outras pessoas) em tudo o que fizerem — e tudo que não fizerem. É mais ou menos como diz aquela frase “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”, atribuída ao filósofo inglês Herbert Spencer. Além de cuidar para não mitigar as liberdades e o bem-estar dos outros (exercendo uma ética do cuidado), nas casas colaborativas as diferenças entre as pessoas também devem ser resolvidas pelas (mesmas) pessoas. Se há uma divergência de opinião ou um conflito, quem está envolvido é que precisa fazer algo a respeito; não há qualquer instância superior que julgue essas questões. Obviamente, quando algo assim acontece é possível pedir ajuda a outras pessoas, como em qualquer outra situação que ocorra numa rede mais distribuída do que centralizada.
  • Livre acesso em torno de uma comunidade: qualquer um pode começar a frequentar o espaço e até mesmo fazer uma cópia da chave. Ainda assim, geralmente o que ocorre não é uma ocupação em massa como se poderia pensar, e sim uma apropriação progressiva do espaço pelas pessoas que ficam sabendo sobre a casa (por meio do boca-a-boca, ou seja, através da rede) e se interessam pela ideia. Como se ouve de uma das frequentadoras da Casa Liberdade num vídeo disponível no Youtube:

“De quem é a (Casa) Liberdade? “Ah, é de todo mundo!” Não é bem assim. A Liberdade é de uma comunidade. E quem é essa comunidade? As pessoas que frequentam e se envolvem com a Liberdade. E quem pode fazer parte dessa comunidade? Todo mundo que quiser!”

  • Agenda de atividades auto-organizada e disponível: as casas costumam disponibilizar na internet uma agenda que pode ser acessada e editada por qualquer um interessado em propor uma atividade no local. Se a data e o horário escolhidos estão vagos, a atividade irá acontecer, se não, cabe às pessoas envolvidas na questão (quem já agendou algo naquele mesmo dia e hora e quem quer agendar) resolvê-la.
  • Sem seleção ou curadoria de atividades: como não há gestão centralizada, ninguém tem o direito de decidir para o outro se determinada atividade é “boa” o suficiente para ocorrer na casa. Cursos, festas, conversas, reuniões de trabalho e em alguns casos até mesmo morar na casa são coisas que podem acontecer, desde que não prejudiquem o espaço nem o ocupem em definitivo (o que geraria escassez).
  • Financiamento coletivo via contribuições espontâneas: para que a casa se sustente e suas despesas sejam pagas, contribui quem pode e quer que o espaço continue existindo. Não há qualquer obrigatoriedade financeira, e quem contribui não tem nenhum direito extra sobre quem não o faz. As três casas que investiguei (das quais falaremos mais à frente) utilizam ou chegaram a utilizar plataformas de financiamento coletivo digitais para facilitar esse processo, seja para fins específicos ou de forma continuada.
  • Não há patrimônio e o objetivo não é lucrar: em geral não existe nenhuma pretensão de se estocar recursos para o futuro, uma vez que fazer isso seria produzir artificialmente escassez. Devido a isso, o propósito das casas colaborativas não é fazer dinheiro, mas tão somente ser um espaço que permita a manifestação da abundância por meio da livre interação entre as pessoas.
  • Discrição no que tange à publicidade: todas as casas que estudei têm em seus nomes algo relativo aos seus próprios endereços (a Laboriosa 89 ficava na rua Laboriosa, nº 89, a Catete 92 localizava-se na rua do Catete, nº 92, e a Casa Liberdade situava-se na rua Liberdade). Isso reflete uma opção dessas comunidades em não propagandear demais o que estão fazendo, sob o risco de começarem a criar logotipos e fazerem publicidade tal como se vê no “velho mundo”. Não há anúncios nem campanhas. A lógica de disseminação do movimento é muito mais peer-to-peer do que broadcasting.
  • Rede > casa: o espaço físico é um equipamento utilizado pela rede para potencializar as interações, mas a rede não pode ser confundida com a casa nem esta pode assumir uma importância maior do que as conexões entre as pessoas. Geralmente, a casa (ou qualquer outra manifestação tangível) surge quando um grupo da rede “transborda”, ou seja, quando um núcleo de pessoas estabelece como intenção desenvolver algo que beneficia outros nós da rede. Uma forma de perceber como a rede é de fato maior que a casa é observar a quantidade de pessoas nos grupos do Facebook dos três espaços tratados aqui: todos eles contam com milhares de membros, um número muito maior do que os espaços comportam.
  • Existem em ciclos: as três experiências aqui relatadas mostram que uma iniciativa pautada pela lógica de redes distribuídas tende a se dissolver com o tempo. As casas surgem, se desenvolvem, se reproduzem (quer dizer, se espalham para outras localidades) e morrem, podendo dar origem a novas ocupações num curto espaço de tempo ou não. Augusto de Franco diria que elas são como bolhas frágeis que conseguem inflar micromundos abundantes e distribuídos dentro de um mundo macro ainda muito pautado pela hierarquia. São, como ele afirmou, “small bangs”, isto é, pequenas bombas criativas capazes de recriar realidades.
  • São experiências glocais: as casas funcionam como manifestações físicas localizadas de uma rede que se conecta globalmente ou, como afirmou Augusto de Franco, “o local conectado é o mundo todo”. Quando algo que é local, pequeno e singelo passa a interagir em rede com outros locais, torna-se glocal. Essa conclusão se revela ao considerarmos o alto grau de conectividade das três casas colaborativas aqui tratadas — é como se elas fossem células com membranas muito permeáveis às interações externas. Além disso, elas são intimamente ligadas entre si por meio dos vínculos sociais que existem entre seus frequentadores, ainda que cada uma tenha emergido numa cidade diferente.

No limite, como disse Oswaldo Oliveira, o fenômeno das casas colaborativas é tão simples quanto “pessoas se conectando e se reconhecendo por paixões comuns, por afinidades e até por necessidades comuns, e tentando materializar coisas juntas”.

Além de compartilharem as crenças e práticas listadas acima — em maior ou menor grau, sem querer enquadrar todas as iniciativas numa espécie de “modelo” — , as casas colaborativas são inspiradas pelos paradigmas de redes distribuídas e da abundância, ambos intimamente relacionados entre si (a abundância está nas interações distribuídas, uma vez que não há exclusão de caminhos). Estamos falando de espaços cujos frequentadores buscam praticar a colaboração (entendida a partir de características como interdependência, aprendizagem pela interação, empatia e emergência de relações ganha-ganha) de forma radical, apostando que a partir do nascimento de novos micromundos colaborativos é possível sua disseminação em rede. Na medida em que alguém vai se envolvendo com uma casa colaborativa (desde simplesmente saber de sua existência até cocriar projetos com outras pessoas que habitam o espaço, passando por ajudar a limpar a casa e contribuir para sua sustentação), essa pessoa também vai sendo invadida pela confiança de que as coisas se constroem mesmo é a partir das relações.

Isso posto, se eu precisasse explicar em poucas linhas o que estou chamando de casas colaborativas, eu diria que elas são comunidades de pessoas que se articulam em torno de um espaço físico, as quais se juntam para experimentar modos de vida mais distribuídos e abundantes do que centralizados e escassos. A noção de comunidade é importante: existe algo que une todos que se relacionam com a casa — o carinho e o zelo de todos pelo espaço — , ainda que as formas de se demonstrar essa união sejam diferentes das que estamos acostumados. A premissa básica é confiar que cada um fará a sua parte para cuidar do local, sem precisarmos ficar vigiando. Se você não gostou da minha definição (nem eu gostei muito, na verdade), vale resgatar a bela visão acerca de uma casa colaborativa surgida a partir dos relatos de quem vivenciou a Catete 92:

As palavras acima conseguem chegar à essência das casas colaborativas porque elas mesmas foram criadas a partir das contribuições de várias pessoas. O próprio processo de lhes dar vida foi colaborativo.

A partir daqui, vou contar resumidamente as histórias das três casas colaborativas com as quais tive mais contato — a Casa Liberdade, em Porto Alegre, a Laboriosa 89 em São Paulo e a Catete 92 no Rio de Janeiro. Quero deixar claro que nos meus relatos faltou muita coisa: alguém poderia facilmente escrever um livro só com os “causos” de cada um desses lugares. Meu objetivo aqui não é descrever detalhadamente o que acontece ou já aconteceu nas casas, e sim investigar e refletir sobre a essência desse movimento fazendo a conexão com as questões da livre aprendizagem.

Antes disso, vamos conhecer mais sobre como tudo isso começou.

Casa Liberdade

A Casa Liberdade foi a primeira casa colaborativa (entendendo o termo a partir das características mencionadas anteriormente) surgida no Brasil. Em 2012, a sede do escritório da Engage — empresa incubadora de projetos de tecnologia para engajamento — localizava-se na rua Liberdade, entre os bairros Rio Branco e Mont’Serrat, em Porto Alegre. Percebendo que o local onde se instalaram permitia muito mais do que somente aquilo que estavam fazendo, as pessoas que trabalhavam na Engage começaram a convidar para frequentar a casa quem estivesse interessado em fazer suas coisas por lá.

Os “viventes” — como eram chamados os que passaram a habitar a casa — seriam responsáveis por transformar por completo a paisagem do lugar. Uma das formas com que isso aconteceu foi por meio do Estaleiro Liberdade. Inicialmente batizado apenas de “Estaleiro”, o projeto nasceu de uma proposta de Felipe Cabral direcionada aos frequentadores da casa: não trabalhar nas tardes de sexta-feira e dedicar integralmente esse tempo à aprendizagem coletiva. Após alguns meses, a ideia evoluiu para uma “escola de empreendedorismo através do autoconhecimento, só que pirata”, ou seja, um programa de aprendizagem mais estruturado voltado para tirar ideias do papel. A presença do Estaleiro Liberdade na casa a abasteceu, e o fato de o programa rodar no ecossistema criativo da casa também o influenciou positivamente.

Em 2013, Oswaldo Oliveira esteve em Porto Alegre e conheceu a Casa Liberdade. Encantado com a proposta, ele ajudou a levar a inspiração gaúcha para São Paulo, o que contribuiu para a criação da Madalena 80 (espaço que precedeu a Laboriosa 89). Ao mesmo tempo em que lançava sementes em outros terrenos, a comunidade formada em torno da casa também começou a enfrentar algumas dificuldades. No final de 2013 e início de 2014, a Engage decidiu não ser mais a responsável pela locação do imóvel. Isso, somado à saída de outros grupos da casa, contribuiu para deflagrar uma crise que culminou no redesenho do funcionamento do espaço no início de 2015. O novo formato previa mais estrutura e valores fixos de contribuição financeira, a partir do diagnóstico dos frequentadores da casa em relação à necessidade de balancear caos e ordem nos processos.

Ainda assim, a questão financeira agravou-se e acabou levando à decisão de rescindir o aluguel e entregar a casa. Num último esforço coerente, a comunidade organizou uma campanha de financiamento coletivo para honrar os compromissos assumidos e quitar as despesas envolvidas na entrega do imóvel. A campanha foi viabilizada pelo Catarse (um dos empreendimentos surgidos por meio da Engage) e contou com 72 recompensas oferecidas por pessoas da comunidade, um feito bastante singular em se tratando de crowdfunding. No dia 7 de setembro de 2015 a arrecadação foi concluída com sucesso através das contribuições de 256 apoiadores. Em dezembro do mesmo ano, a rede da Casa Liberdade totalizava mais de 3.500 pessoas conectadas por meio de um grupo no Facebook.

O triunfo de uma campanha tão plural e colaborativa reflete o propósito que desde o início animou a Casa Liberdade: unir pessoas e fomentar redes.

Encontro realizado na Casa Liberdade. Fonte: Recorrente.

Laboriosa 89

Como dito anteriormente, a história da Laboriosa 89 se cruza com a da Casa Liberdade por meio da Madalena 80, um espaço colaborativo iniciado por Oswaldo Oliveira e muito influenciado pela experiência do sul. Oswaldo se vê como alguém que “desobstrui fluxos” em prol da manifestação da abundância na vida das pessoas, o que na prática significa enxergar o potencial que as redes têm de expandir nossos campos de possibilidades. Após se aprofundar no estudo das dinâmicas de rede e se articular com várias outras pessoas interessadas no tema, Oswaldo Oliveira iniciou a Madalena 80 num espaço de 30 metros quadrados no bairro da Vila Madalena, em São Paulo.

O espaço, que já se estabeleceu espelhando as características das casas colaborativas, começou a ficar limitado na medida em que mais pessoas chegavam e se apropriavam dele. Assim, a comunidade tomou a decisão de encontrar um novo local que pudesse abrigar a interatividade crescente da rede. Foi então que o coach Fabio Novo, proprietário de uma casa maior e bem próxima à Madalena 80 ofereceu o imóvel para ser “o próximo passo” da evolução da comunidade. O endereço da casa era rua Laboriosa, 89 e seu tamanho era dez vezes superior ao espaço inicialmente encontrado por Oswaldo. Grande também foi a sua vontade de ver a nova iniciativa dando certo: ao negociar com Fabio Novo os termos de aluguel da casa, ele garantiu o primeiro ano de contrato, acreditando que a rede se desenvolveria e então seria capaz de honrar integralmente os compromissos do imóvel. Em janeiro de 2014 a Laboriosa 89 — também conhecida por Lab 89 — estava de pé.

Um momento feliz na Laboriosa 89. Fonte: Projeto Draft.

Assim como a Casa Liberdade, a Lab 89 foi fundamental para o desenvolvimento de centenas de projetos inovadores. Um deles, o Unlock, acabou sendo utilizado pela própria comunidade para ajudar a sustentar o espaço. O Unlock é uma plataforma de financiamento coletivo recorrente que possibilita que projetos encontrem apoiadores mensais, os quais contribuem espontaneamente com os valores que julgarem adequados. A estratégia de financiamento da casa já era colaborativa, e o que o Unlock possibilitou foi uma maior facilidade para se efetivarem as doações. O fluxo financeiro foi concentrado num único meio e se tornou mais constante, além da necessidade de ratear os custos ter se tornado mais visível à comunidade. Com a campanha recorrente, a própria casa ganhou mais notoriedade.

A principal ideia disseminada pelo financiamento coletivo resumia-se a “1.000 pessoas x R$ 20 = Laboriosa 89” ou simplesmente “1000 x 20”. Com os custos totais da casa girando em torno de 20.000 reais por mês, se 1.000 pessoas apoiassem com 20 reais por mês o experimento poderia continuar. Contando com uma rede composta por mais de 10.000 pessoas conectadas num grupo no Facebook, o slogan soava promissor. Embora a ideia transparecesse um valor de contribuição sugerido, a decisão sobre quanto apoiar sempre permaneceu nas mãos de cada indivíduo que se relacionava com a casa. O mecanismo em que se baseavam essas decisões operava a partir da seguinte premissa: “o valor é percebido, o custo é calculado e o preço é decidido”. Ou seja: além da percepção de valor subjetiva, uma outra variável importante é a consciência sobre os custos, que se torna possível por meio de uma gestão financeira transparente.

Mesmo com o Unlock e os esforços de muitos, sustentar financeiramente a casa era um desafio constante. A situação piorou a partir de janeiro de 2015 quando, um ano após o início da ocupação da casa, Oswaldo Oliveira desligou-se do projeto e o contrato de locação foi rescindido. Nos meses seguintes a casa manteve-se ocupada, mas a rede não dava sinais de que conseguiria honrar a nova proposta apresentada pelo proprietário. Assim, no dia 30 de julho de 2015, Fabio Novo anunciou o encerramento do ciclo da rede na Lab 89 — o qual, assim como ocorreu na Casa Liberdade, não significava o fim da rede, e sim o término de sua ocupação física num endereço específico.

Tive a oportunidade de frequentar a Laboriosa 89 enquanto ela estava ativa e devo à casa muitas descobertas importantes. Ofereci encontros e participei de outros, conheci pessoas e colecionei experiências marcantes. Contudo, nunca contribuí de forma sustentada (mensalmente) para que a iniciativa permanecesse de pé. Esta talvez seja a grande dificuldade — e o grande aprendizado — das casas colaborativas: precisamos lidar com algumas de nossas crenças mais arraigadas e sombrias. No caso, não fui capaz de confrontar a tempo minha crença de que “os outros vão tomar conta, não preciso me preocupar com isso”.

Catete 92

O Rio de Janeiro também foi berço de um experimento de interação distribuída. A Catete 92 surgiu das inquietações de muita gente, incluindo Felipe Duarte, Bernardo Magina, Gustavo Joppert e Guilherme Maueler. Todos eles estavam na reunião que deu origem à ideia que quase se transformou no nome do espaço. “Será que a gente precisa de uma marca pra criar uma comunidade e trabalhar junto?”, era a pergunta que eles se faziam.

Durante a conversa, depois de muitas ideias e novos questionamentos, Lucas Djadja começou a registrar graficamente num papel os insights da reunião. Algumas horas depois, todos esperavam ansiosos para ver os cronogramas que Lucas havia desenhado. Ao olharem para a folha, tudo que leram foi um “Foda-se” em letras gigantes. O manifesto da nova casa já estava escrito: não adianta ficar conversando se não houver ação concreta. “Foda-se, ninguém vai acreditar se nada for feito. Foda-se, vamos fazer do jeito que dá”. Tempos depois, o jargão quase chegou a nomear a casa, mas como não houve consenso e a vontade era de se aproximar do que estava sendo feito na Lab 89 e na Casa Liberdade, o nome escolhido bebeu da mesma fonte: o endereço Rua do Catete, nº 92.

Inspirados por uma necessidade urgente de agir , os precursores da Catete 92 começaram sem nenhuma pretensão além da própria convivência no espaço. Há quem considere como marco inicial da casa o primeiro evento ocorrido por lá: um encontro sobre o projeto pirataria.co — um sistema de trabalho em rede para empresas —, que estava em fase de lançamento. Isso ocorreu em abril de 2014, aproximadamente três meses depois da ocupação da Lab 89.

Pouco a pouco, dentre frequentadores diários e esporádicos, a casa foi tomando corpo. No início não havia cadeiras; após um post no grupo do Facebook da comunidade, que hoje conta com mais de 7.000 membros, 15 cadeiras apareceram de um dia para o outro no espaço. Chamados para pensar as vocações dos diferentes ambientes da casa também foram feitos, e várias pessoas o atenderam. Um ateliê, uma sala para conversas particulares, um espaço para descansos e terapias e uma estação de trabalho são exemplos do que brotou.

Um dia na Catete 92. Fonte: Agile City.

Assim como a Laboriosa 89, a comunidade da Catete 92 também se articulou para criar um mecanismo de financiamento coletivo mensal. A ideia de fixar um valor de contribuição para pessoas que utilizassem com maior recorrência o espaço foi aventada, mas logo foi descartada em prol de um modelo totalmente aberto. Enquanto nos primeiros meses da casa fechar as contas foi um desafio, depois o fluxo de doações aumentou (na medida em que mais atividades aconteciam) e foi sendo capaz de honrar todos os compromissos financeiros.

Tendo sido iniciada numa vila residencial, desde o início a Catete 92 enfrentou problemas relacionados à sua vizinhança. Alguns vizinhos ficavam incomodados por morarem ao lado de uma casa totalmente acessível a qualquer um. Em julho de 2015, a comunidade soube de uma notificação extrajudicial motivada por queixas do síndico da vila. A fim de se evitar o risco de colocar os responsáveis legais da casa numa situação delicada, a decisão de encerrar as atividades no espaço foi tomada. Em paralelo, no entanto, conversas foram iniciadas no sentido de fazer a transição da comunidade para outro local. Vários eventos presenciais foram realizados com o intuito de agregar todos que quisessem sonhar junto o futuro do experimento, e uma festa foi organizada para celebrar o fim do ciclo.

O movimento de busca por outro espaço foi chamado de Transborda 92. Conforme se vê em alguns materiais que documentaram essa transição, a intenção da comunidade foi transformar o momento de crise em uma oportunidade de fazer da Catete 92 algo ainda melhor. Assim como no encerramento da Casa Liberdade, pessoas ofereceram seu tempo e seus talentos para arrecadar recursos a fim de saldar as dívidas da casa. No dia 9 de outubro de 2015 um post no grupo do Facebook anunciou que a Catete 92 havia “transbordado” para um outro local: o Corcovado Rio Hostel, no bairro Cosme Velho. Dentre as diversas possibilidades de espaço levantadas, a comunidade escolheu se mudar para oito ambientes, antes ociosos, cedidos pelo hostel. A nova casa absorveu o nome da iniciativa que a descobriu: Transborda 92.

É o início de um novo pulso da rede, que carrega na bagagem as histórias de um lugar que abrigou mais de 1.000 encontros dos mais variados tipos. Seu futuro à comunidade pertence.

Vídeo do Joriam apresentando a Transborda 92. Fonte: Youtube.

Espaços para conviver e aprender

Desde que comecei a ter vontade de investigar as casas colaborativas, minha intenção era compreendê-las como espaços de aprendizagem. Não são todas as atividades que ocorrem no interior das casas que objetivam direta e explicitamente esse fim, mas no limite cada encontro, cada decisão, cada rotina de trabalho e até mesmo cada festa nesses espaços tem o poder de nos fazer parar e refletir. O ar que se respira é diferente: ninguém vai te mandar fazer absolutamente nada. A plena liberdade, se por um lado é encantadora, por outro pode soar também assustadora. Ela vem junto com a convivência, e conviver é negociar acordos a todo momento (com o outro e consigo mesmo), gerenciar e abrir mão de expectativas, é curtir a presença do outro, não curtir a presença do outro (e lidar com isso), é aprender a escutar antes de falar, dentre inúmeros outros gozos e desafios.

Quando a convivência é experimentada no contexto de uma casa colaborativa, ela tende a se tornar muito mais desafiadora. Não fomos preparados para isso. Achamos estranho podermos tudo, ainda que acreditemos ter encontrado o bálsamo de liberdade que sempre sonhamos.

O fértil encontro entre liberdade e convivência foi o ponto de partida para que eu começasse a me perguntar: “Quais aprendizagens ocorrem nas casas colaborativas?” Em primeiro lugar, retomando o que afirmei no início, esses espaços conseguem nos transmitir a potente mensagem de que outro mundo mais livre e abundante é possível aqui e agora. Esperar pelo governo, por um salvador ou simplesmente aguardar um outro alguém tomar a iniciativa de iniciar as mudanças que queremos ver são comportamentos tipicamente hierárquicos. É o desespero do “não tem o suficiente” entrando em ação, e é o hábito de seguir sempre pelos mesmos caminhos — sem ver os infinitos outros — operando no nosso inconsciente.

Penso que as casas colaborativas têm vários outros aprendizados para compartilhar. Depois de várias conversas com pessoas que as frequentaram e olhando para as minhas próprias vivências, percebi que esses espaços são capazes de nos fazer:

Aprender a ter iniciativa e a dar o exemplo (e desaprender a esperar pelas soluções prontas): cada pessoa numa casa colaborativa tem olhos para enxergar o que precisa ser feito, além de pernas e braços para agir sem necessariamente ter que aguardar uma decisão de um superior ou de uma reunião coletiva. Ações conjuntas maiores também podem ocorrer, mas às vezes a energia dispendida para organizá-las — e tomar as muitas decisões que sempre aparecem quando muita gente se reúne — poderia ser melhor aproveitada simplesmente fazendo o que precisa ser feito. Augusto Gutierrez, um dos pioneiros da Catete 92, me disse: “um dia eu decidi ir à casa para limpar o banheiro e arrumar a bagunça sem esperar ninguém fazer isso”. Em seguida, ele completou: “é sair fazendo e gritar Jerônimo para todo mundo vir junto”. A “cultura do Jerônimo” — agir ao mesmo tempo em que se convoca para agir — faz parte do dia-a-dia das casas colaborativas, e ela tem o poder de gerar potentes movimentos como mutirões, por exemplo.

Aprender a engajar e a fazer junto (e desaprender a impor e a fazer sempre sozinho): como ninguém tem o poder de mandar em ninguém nas casas, aprender a arte do engajamento é um item de primeira necessidade. Se você é frequentador assíduo de um espaço que te acolhe, é natural começar a querer melhorá-lo. Diferentes pessoas têm diferentes necessidades e se importam com diferentes coisas, logo, como mostrar para alguém que algo é importante? Como despertar a colaboração dos outros em um ambiente livre? Ouvi numa de minhas conversas: “odeio ver a casa suja e bagunçada. Um dia, fotografei toda a bagunça e mostrei para as pessoas. Isso ajudou a mobilizá-las e agora está todo mundo mais engajado”. Engajar também tem a ver com se importar com as causas e necessidades das outras pessoas, especialmente quando elas objetivam algo coletivo.

O ambiente das casas colaborativas é propício para a troca de experiências constante. “As vezes eu resolvo meu dia indo passeando pelo espaço, e até voltar para minha mesa alguém me dá a ideia que preciso”. Consultorias ocorrem informalmente e potenciais feedbacks e ajudas estão a poucos metros de distância. As possibilidades de fazer coisas junto são imensas e podem evoluir desde pequenas contribuições no trabalho do outro até a cocriação de novos projetos e empreendimentos.

Aprender a dialogar (e desaprender a debater ou a se calar): conversar escutando o outro, buscando compreender realmente de que lugar ele está falando — mesmo que você não concorde com a opinião dele — é essencial para a convivência saudável em qualquer ambiente. Não é fácil. “O pau quebra nas casas colaborativas”, foi o que me disse um dos pioneiros de uma delas. É importante que as pessoas se sintam confortáveis em falar como estão se sentindo e possam fazer pedidos claros aos outros frequentadores quando precisarem. Infelizmente, as relações hierárquicas nos ensinaram ou a debater, isto é, querer “vencer” e desqualificar o outro numa interação, ou a ficarmos calados, evitando nos expor por medo ou indiferença.

Aprender a confiar (e desaprender a controlar e a centralizar): muitas coisas ocorrem simultaneamente nas casas colaborativas: muitas conversas, ideias, projetos e pedidos, muitas pessoas com suas intenções, angústias e caminhos a percorrer. A casa impulsiona a manifestação da abundância da rede. Nada está sob controle. Querer direcionar para onde toda essa energia vai é um vício que adquirimos nos ambientes centralizadores que vivemos. Uma palavra resume a postura que aprendemos a cultivar quando nos vemos imersos em todo esse aparente caos: confiança. Pouco a pouco, vamos conseguindo aumentar nossa confiança na iniciativa das pessoas, na inteligência das interações, no poder da rede e em nós mesmos.

Talvez o maior símbolo de confiança que se verifica nas casas colaborativas seja a livre entrada de qualquer pessoa. Não apenas o acesso é livre, como qualquer um pode fazer uma cópia da chave quando quiser. Em alguns espaços existe o “ritual da chave”, que consiste em sempre entregar uma chave para as pessoas que vão à casa pela primeira vez (além de explicar a elas como funciona a casa).

Aprender a mudar e a desapegar (e desaprender a insistir no erro): podemos ser levados facilmente a pensar que o encerramento da Laboriosa 89 e da Casa Liberdade correspondem a fracassos. Uma outra forma de encará-los passa por honrar os aprendizados construídos durante os ciclos nas casas. Passa também por entender que as despedidas servem sempre a novos começos. Em mundos mais centralizados do que distribuídos, a mudança é orquestrada por poucos, e por isso é lenta e penosa. Nas casas colaborativas, todos são agentes potenciais de mudança a qualquer momento, e por isso mudar torna-se algo positivo. Crises tornam-se oportunidades de transformação e aprendizagem. A vivência nas casas é um convite constante ao desapego, ao “deixar ir” e ao “deixar vir”.

Aprender a equilibrar poder (e desaprender a concentrar poder): mesmo que nas casas colaborativas a possibilidade de agir e mudar esteja nas mãos de qualquer pessoa, isso não equivale automaticamente a dizer que todos se sentem realmente capazes de fazê-lo. Além disso, mesmo em um ambiente horizontal alguns continuam tendo mais recursos que outros (maior visibilidade, mais contatos, mais dinheiro, maior capacidade de articular argumentos e se fazer ouvir, dentre outros). As dinâmicas de poder informais continuam ocorrendo. É importante haver consciência disso a fim de que os espaços se tornem verdadeiramente inclusivos. Uma vez detectada uma situação em que alguém se sente desempoderado, faz parte do cultivo da horizontalidade apoiar essa pessoa, ajudando-a a se firmar e agir por meio do compartilhamento de recursos e de uma escuta acolhedora. Isso é equilibrar poder, algo necessário mesmo em ambientes de interação distribuída.

Equilibrar poder é especialmente importante para os iniciadores das casas, para evitar que sejam vistos como superiores pelos outros frequentadores (mais um vício hierárquico). Se alguém sempre faz muito, isso pode ser encarado por alguns como um estímulo a mais para agir, ao passo que para outros pode contribuir para mantê-los na sua zona de conforto. Dar a chance para que outras pessoas se descubram protagonistas também é importante.

Aprender a aprender de forma livre (e desaprender a esperar pelo ensinamento): uma casa colaborativa é um manancial de oportunidades de aprendizagem. Entretanto, para aproveitá-las é necessário desenvolver certas competências e desconstruir alguns de nossos hábitos mais enraizados. Tomemos como exemplo a “síndrome do segundo andar” que acometia a antiga casa da Catete 92: geralmente quem começava a frequentar o espaço nunca subia no segundo piso. Não havia nenhum obstáculo real, mas a sensação das pessoas era de que aquele era um lugar proibido, fechado, para poucos. É possível encarar a síndrome do segundo andar como uma metáfora das possibilidades de aprendizagem de uma casa colaborativa — para se valer delas, precisamos trabalhar em nós a coragem de “subir as escadas”. Subir as escadas significa puxar conversa com os outros, compartilhar o que você está fazendo, ir a encontros na casa, se dispor a conhecer pessoas, escutar perspectivas contrárias às suas e, principalmente, construir conhecimento de forma relacional (ao invés de aguardar ser ensinado por alguém).

O ambiente de uma casa colaborativa pode se tornar quase qualquer coisa, inclusive um rico espaço de descobertas, mas isso só se faz se as pessoas realmente quiserem e souberem como aprender livremente. A própria vivência na casa é um abridor de horizontes nesse sentido. A lógica do “vamos falar de tal coisa em tal horário em tal lugar” dá o tom das possibilidades de aprendizagem via interação existentes nesses espaços: é como se o ambiente funcionasse como um grande Open Space o tempo todo.

Além de momentos de aprendizado em grupo, as casas colaborativas oferecem também oportunidades de troca no formato de aconselhamentos e mentorias informais. Isso ocorre organicamente, na medida em que as pessoas reconhecem umas às outras como capazes de lhes fornecer ajuda em algum tópico específico. Grandes admirações surgem no âmbito das casas: é comum se sentir profundamente inspirado pelo que o outro faz. Fazer parte desse ambiente de pessoas inspiradoras é um potente gatilho de aprendizagem.

Aprender a cuidar do outro e do coletivo (e desaprender a olhar somente para si): uma casa colaborativa só se sustenta se a disposição para o cuidado realmente pulsar dentro das (e entre as) pessoas. O cuidado genuíno é o contraponto necessário à liberdade radical. Um frequentador de uma das casas me disse: “é tudo tão aberto que aqui você se defronta com a sua falta de consciência e com o terror da escolha. Você se vê.” Se em mundos muito centralizados existe um véu cobrindo boa parte das escolhas que alguém poderia fazer, em ambientes de interação livres ele é retirado. Nos vemos e nos conhecemos um pouco mais a cada escolha que fazemos. E cuidar do outro e do coletivo é sempre uma escolha, por mais que às vezes tenhamos vontade de ignorá-la.

Um exemplo inusitado de cuidado no que se refere às casas colaborativas é o “catfunding” que os frequentadores da Transborda 92 organizaram para o gato adotado pela comunidade, o Zé. Trata-se de um financiamento coletivo cujo nome é uma brincadeira com as palavras cat (gato em inglês) e crowdfunding. A ideia surgiu em meio à necessidade de tratar a saúde o bichinho depois de maus bocados sofridos por ele nas ruas, após ter se perdido. A mobilização em torno do bem-estar do mascote é simbólica no sentido de atestar o quanto as casas colaborativas podem nos ensinar a cuidar.

Pressupondo o consenso

Mário Kaphan, fundador da Vagas.com. Fonte: Runrun.it.

“Na VAGAS.com eu faço o que eu quero e todos têm tudo a ver com isso”.

Quem me disse essa frase pela primeira vez foi Mário Kaphan, fundador da VAGAS.com, uma empresa brasileira que adotou uma cultura radicalmente horizontal. A VAGAS.com atua no segmento de soluções tecnológicas de gestão de pessoas e é uma organização sem chefes, sem metas, sem decisões tomadas a portas fechadas, ou seja, sem hierarquia.

A forma como as decisões da empresa são tomadas, refletida na citação acima, relaciona-se intimamente com o modo de funcionamento das casas colaborativas. Vejamos em maiores detalhes como os colaboradores da VAGAS.com balizam sua atuação:

“A gestão é baseada no consenso. Todos precisam discutir. Conceito diferente de democracia. Nada é decidido por meio do voto. Quando a situação pede um número menor de participantes em sua resolução, o pressuposto do consenso permite que até uma única pessoa tome a ação necessária […]”

“As pessoas têm a responsabilidade de abrir controvérsias quando perceberem oportunidades de melhoria. No entanto, o desapego deve ser exercitado, no sentido que se busca o prazer até no fato da “derrota” em uma discussão. O resultado a ser buscado é sempre a melhor opção para a comunidade”

Quando um funcionário precisa decidir algo importante, ele recorre à ajuda de quantos colegas julgar necessário.

O pressuposto do consenso praticado na VAGAS.com me fez finalmente entender a complexa dinâmica decisória que se passa nas casas colaborativas. As decisões são sim consensuais, mas alguém que precisa agir com urgência ou tomar uma decisão cujo impacto é pequeno pode fazê-lo sozinho (ou pedir algumas poucas opiniões de seus colegas mais próximos). No entanto, “todos têm tudo a ver com isso”, isto é, há um forte senso de corresponsabilidade em cada escolha feita. Ao decidir algo mais crítico, cada um tem a liberdade de envolver mais pessoas e abrir discussões, as quais são abertas para todos que quiserem participar. Essas conversas podem durar quanto tempo for necessário para que as decisões sejam tomadas de forma consensual.

Escolhi trazer o exemplo da VAGAS.com porque ele ilustra como uma comunidade pode lidar com suas decisões de maneira a cultivar valores como autonomia, liberdade e iniciativa. Quando uma rede de pessoas “transborda” e abre uma casa colaborativa, é preciso que ao menos uma parte da rede se transforme em comunidade (sob pena de a iniciativa perder força rapidamente). Ao fundar um espaço físico comum, uma cola começa a conectar as pessoas envolvidas de forma muito mais intensa do que uma rede é capaz de fazer. Vínculos são fortalecidos, afetos são trocados, histórias são compartilhadas, e muito disso se dá nos contornos da casa. Nós criamos laços com o espaço, e o espaço faz com que cultivemos laços ainda mais profundos entre nós.

O contexto do caso da VAGAS.com é outro, mas talvez ele possa nos mostrar um caminho de como balancear iniciativa individual e discussões coletivas quando estamos lidando com uma comunidade. A história das casas colaborativas até o momento aponta para a sua existência em ciclos curtos, mas acredito que, na medida em que aprendermos mais sobre como atuar em comunidade, é possível que elas se tornem mais duradouras. No limite, olhar para os lados e cuidar do todo são as molas que impulsionam as casas colaborativas a se tornarem lugares entusiasmantes e poderosos. Para tanto, pressupor o consenso e abrir conversas coletivas são duas polaridades essenciais, e a navegação entre elas se faz com o senso de responsabilidade de cada um.

Não sei exatamente como as decisões estão sendo tomadas pelos estudantes que ocupam as escolas em São Paulo. Mesmo que os mecanismos decisórios utilizados por eles sejam um pouco diferentes do que se vê nas casas colaborativas, o que une esses dois movimentos é a cultura da horizontalidade. É a vontade do diálogo e a disseminação em rede. É o não se aquietar perante uma realidade na qual não nos encaixamos. Acabo de saber que uma escola foi ocupada em Roma. As pautas? Mais liberdade e protagonismo.

Numa das reuniões que culminou na abertura da Transborda 92, uma das participantes disse: “agora que já vivi tudo isso, não tem mais como voltar atrás”. Para quem já experimentou viver numa casa livre, as marcas são profundas. Fico imaginando o que os jovens que estão lutando pelas suas escolas estão aprendendo, como eles estão se transformando… Talvez tenha a ver com o que escrevi aqui. Assim como eles, quem se aventura numa casa colaborativa, no fim das contas, só está buscando aprender. De um outro jeito.

Referências

Augusto de Franco. A lógica da abundância. Escola de Redes. Disponível em: http://escoladeredes.net/profiles/blogs/a-logica-da-abundancia.

Augusto de Franco. Desobedeça: uma inspiração para o netweaving. Escola de Redes. Disponível em: http://escoladeredes.net/profiles/blog/show?id=2384710%3ABlogPost%3A55773&commentId=2384710%3AComment%3A55806&xg_source=activity.

Augusto de Franco. Hierarquia: A Matrix Realmente Existente. Escola de Redes. Disponível em: http://escoladeredes.net/group/hierarquia-a-matrix-realmente-existente/page/hierarquia-a-matrix-realmente-existente.

Catete 92: o experimento vive! (a casa, nem tanto…). Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sW_AzQz9FPo&list=PLZFRIu0mA7JOyRQ0mXAPUUTY2Q6EgPBwt&index=1.

Charles Eisenstein. Um mundo de abundância. Traduzido por Camila Haddad. Blog do Cinese. Disponível em: http://blog.cinese.me/post/100719702347/um-mundo-de-abund%C3%A2ncia.

Como é uma empresa sem chefes? O modelo de gestão horizontal. VAGAS.com. Disponível em: http://www.vagas.com.br/forumvagas/edicao-hsm-2014/como-e-uma-empresa-sem-chefes-o-modelo-de-gestao-horizontal/.

E agora, Catete92? Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zug_wnF8JMY.

Empreender em Rede: Oswaldo Oliveira at TEDxFloripa. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YZVBuDs2mi0

Glocal. Glossário contextual. Escola de Redes. Disponível em: http://net-hcw.ning.com/group/glossario-contextual/forum/topics/glocal.

Inspirados por movimento em São Paulo, alunos ocupam escola na Itália. Democratize. Medium. Disponível em: https://medium.com/democratize-m%C3%ADdia/inspirados-por-movimento-em-s%C3%A3o-paulo-alunos-ocupam-escola-na-it%C3%A1lia-110d1f7ada5c#.yjm16ympe.

Katya Braghini, Paula Maria de Assis, Marianna Braghini Deus Deu, Andrezza Silva Cameski. A revolta dos adolescentes vista por dentro. Outras Palavras. Disponível em: http://outraspalavras.net/brasil/a-revolta-dos-adolescentes-vista-por-dentro/.

Melina França. Catete 92. Noo. Disponível em: http://noo.com.br/catete92/.

Oficina de Moodle online — Projeto Formação de professores para a docência online. Universidade Federal da Bahia. Disponível em: http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=18148&chapterid=12009.

POA VIVE #5 — Casa Liberdade. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pvh4jOVJJpE.

Transborda92. Pasta compartilhada no Google Drive. Disponível em: https://drive.google.com/folderview?id=0B_9BlRpcgnzsflR6Z05yeExhSmU3QkUwTW9pc3lUWUU0QTk0RkxJdjVsZXN6bktjUEhGcnM&usp=sharing.

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Este texto faz parte da série de casos inspiradores do livro da Educação Fora da Caixa. Veja as outras quatro cenas que já publicamos: Cinese | AIESEC |UnCollege Brasil | Caminho do Sertão | CIEJA Campo Limpo

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Alex Bretas
Alex Bretas

Written by Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.

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