Microaula (Kit Fora da Caixa)
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Aula não precisa ser só aula chata
Microaulas são apresentações de curta duração sobre um tema que desperta interesse tanto de quem apresenta quanto de quem assiste. É um formato que difere em dois aspectos principais das aulas tradicionais: não são obrigatórias, e por isso se abastecem da curiosidade de quem delas participa; e são muito mais enxutas, o que possibilita reservar mais tempo para interações posteriores.
Por quê?
Com frequência me perguntam: “aula é útil de alguma coisa?” No mundo da educação alternativa, várias frentes argumentam que a aula é um dispositivo heterodidata, isto é, surge daquilo que os outros acham que é importante que eu conheça. Assim, a conexão com o papel mais tradicional e enfadonho do professor — aquele que professa algo numa lógica um-para-muitos — torna-se explícita.
Contudo, talvez não precisemos jogar fora o bebê com a água do banho. Quando frequentar uma aula não é algo obrigatório, é possível começar a enxergá-la como um método alterdidata, isto é, o conhecimento que se faz com e a partir do outro, por meio de relações horizontais. Quando dizemos que alguém “nos deu uma aula”, isso costuma ser um indício de que apreciamos muito o conhecimento que essa pessoa compartilhou conosco. Aula, nesse sentido, tem seu valor.
Em tempos de rápida expansão do acesso à internet, tudo está ficando cada vez menor e mais enxuto. Quando o assunto é educação, o TED é sempre lembrado como o formato que disseminou a ideia de palestras curtas — até 18 minutos — que podem ser assistidas online por qualquer pessoa. Ainda assim, o TED tem uma forte curadoria (restrição) de conteúdo. E se nós mesmos pudéssemos criar e assistir microaulas sobre os assuntos que mais nos encantam?
Como?
Experimentar uma microaula é possível por duas vias: pedir e oferecer. Pense em alguma pessoa que você conhece que poderia “te dar uma aula” sobre um tema com o qual você é bastante curioso. Proponha a ela, então, uma microaula: um encontro em que ela compartilhará aprendizados e conhecimentos com você a respeito do assunto em questão. Peça a ela que prepare uma fala de não mais que 10 minutos, e reserve após um tempo de qualidade para que vocês conversem sobre o que ela trouxe.
Pedir uma microaula a alguém é simples. Tente deixar explícito o quanto você reconhece a experiência e os saberes que aquela pessoa carrega. No momento em que ela estiver apresentando, tente não interrompê-la: a ideia é que em seguida vocês tenham bastante tempo para explorarem juntos as questões que surgirem durante a microaula.
Existe outro jeito: oferecer conhecimento. A Escola de Rua, por exemplo, é uma iniciativa que enxerga nos espaços públicos uma oportunidade de interação e partilha de saberes. O Ossobuco, em Brasília, é outro caso que aproveita o formato de apresentações rápidas para fazer circular ideias inovadoras e inusitadas.
Para ofertar uma microaula, você pode tanto direcioná-la a uma pessoa específica como um presente — e usar esta oportunidade para obter feedback — ou anunciá-la em espaços físicos e/ou virtuais. Experimente publicar na sua página no Facebook, por exemplo:
“Estou preparando uma microaula sobre inovação na educação. Quero compartilhar alguns aprendizados e queria começar uma conversa sobre o tema. Quem se interessar, me encontre no dia X no café da Dona Fulana”.
O Cinese também é um ótimo lugar (virtual) para se anunciar uma microaula. Ao oferecer o que sabemos num formato condensado, somos estimulados a redesenhar nossas narrativas de modo a nos fazer entender em pouco tempo. Isso pode ser um exercício bem interessante para encontrarmos nossos aprendizados mais essenciais, e até mesmo novos insights.
Compartilhar conhecimento é uma ótima forma de aprimorá-lo. Reconhecer no outro a plena capacidade de enriquecer nosso repertório também. As microaulas podem ser um bom caminho para fortalecermos nossa musculatura alterdidata.
Para saber mais:
Este texto faz parte da série especial do Kit Educação Fora da Caixa, que aborda diversos métodos educacionais inovadores. Navegue no blog para ver todas as ferramentas que já publicamos.
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