O problema vem de dentro

-O que é “estudar certo” e por que provas não prestam para mais nada-

Lucas Santos
Educação e ensino
5 min readApr 5, 2014

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Mais uma vez parei de escrever meu livro pra escrever sobre outra coisa ligeiramente mais importante. (Leia-se: absurdamente mais importante)

Você sabe o que é estudar? Diz aí o seu conceito de estudar.

Muito provavelmente você disse algo como “ah, eu leio o que preciso durante a tarde ou noite toda e decoro o que vai cair na prova”, certo?

Pois aí que está. Tem duas coisas muito erradas aí. Vamos começar pela seguinte:

“eu leio o que preciso durante a tarde ou noite toda”.

Isso não é estudar. Isso é decorar.

O brasileiro tem o péssimo hábito de achar que estudar significa passar horas e mais horas no ciclo ler-reler-ler-reler-ler-reler-ler-reler… Até cansar e desmaiar de sono sobre o livro. Sabe o que acontece quando você simplesmente decora algo ao invés de absorver o conteúdo? Você utiliza uma vez e esquece. Simples assim.

Diga-me algo sobre a matéria que você mais precisou estudar nos seus tempos de escola. Muito provavelmente você só se lembra de como as provas eram difíceis, de como o professor era opressor e só, eu creio. Lembra algo da matéria em si? Muito provavelmente não.

Você pode até ter tirado boas notas nessa matéria, mas já se esqueceu de tudo. O seu cérebro apagou todas as informações que você decorou especialmente para aquela prova. Um esforço em vão. Nós estudamos para esquecer.

Agora, como é que estudamos certo, afinal?

Três palavras: Observação, Absorção e Contextualização.

Você não deve só ler o texto ou olhar para a imagem. Observe. Dentro de um texto existem palavras-chave, e elas não estão lá apenas de enfeite. Elas estão lá para que você as perceba e note que, se elas estão ali, aquela é uma parte crucial do texto. É ali que você deve focar sua atenção. Essa é a Observação.

Em seguida, separe mentalmente essas partes-chave. Leia-as atentamente. Pode parecer que você está decorando, mas não. Você está absorvendo esse conteúdo. Ao focar sua atenção em uma parte em especial, seu cérebro vai entender que, apesar de o texto todo ser importante, não é tudo nele que precisa ficar na sua memória. Aquela parte, sim, foi considerada importante o suficiente para isso, e o cérebro a manterá guardada, mesmo depois que ela for usada. Você não decorou, você absorveu. Você tornou aquele trecho específico uma parte da sua psique, uma parte do seu corpo, uma parte da sua alma e de seu intelecto. Tal como uma esponja, você recolheu, filtrou o que é necessário, dispensou o inútil e incorporou o essencial. Isso é a Absorção.

Mas não basta apenas observar e absorver. Você precisa usar isso, antes de qualquer coisa. E como você vai fazer isso? Simples, você contextualiza. Pega essa situação que você precisa e tenta descobrir um jeito de utilizá-la na vida. Não precisa ser uma situação tão real assim, mas ao menos uma em que você consiga se encaixar. Pense em como você usaria isso que acabou de observar e absorver. Pode ser uma situação totalmente idiota, já tá valendo. Isso vai te ajudar a introduzir o conteúdo na sua vida, relevando ainda mais a importância dele no futuro. É assim que se faz a Contextualização.

Ótimo? Ótimo.

Agora vamos para a outra coisa errada, a prova.

Já está bem claro em toda a história da humanidade (dessa vez não só os brasileiros) que prova não é o melhor tipo de avaliação. Muitíssimo pelo contrário, é um dos piores. A prova impõe uma pressão que o aluno não precisava ter. Muitas vezes eu ouço pais e até professores falando que “adolescente não faz nada da vida mesmo, tem mais é que estudar”.

Você já foi um adolescente e sabe que não é fácil. O adolescente convive com a pressão dos pais, dos amigos, da sociedade e de si mesmo. Ele com certeza não precisa da pressão de uma prova que vale parte do seu ano letivo.

Existem outros métodos de avaliação, e um dos meus prediletos é a avaliação pelo desempenho. Esse tipo de avaliação acontece ao decorrer do período letivo, todos os dias, e é baseado no ciclo de Preparação, Apresentação e Produção.

Digamos que você, professor ou futuro professor, vá dar uma aula sobre as contribuições da cultura Greco-romana para a sociedade moderna. Por onde você começaria? Preparar sua aula é tudo. Não se prenda ao livro, ele ajuda, mas limita. Por mais que os professores mais tradicionais condenem, o Google é seu grande aliado. Pesquise o conteúdo que será passado. É o primeiro passo. Depois, pergunte-se como você passará esse conteúdo.

Você pode simplesmente entrar na sala e escrever “AS CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA GRECO-ROMANA PARA A SOCIEDADE MODERNA” na lousa?

NÃO.

Ao pesquisar sobre este conteúdo você descobrirá grandes contribuições e poderá usá-las na aula. Segue um exemplo abaixo.

Professora: Pessoal, vocês sabem o título da pessoa que comanda o país, né?

Os alunos dirão “presidente”, claro. (espero)

Professora: Ótimo! E como é que o presidente vira presidente?

Os alunos falarão sobre as eleições, e é aí que você revida com a seguinte pergunta:

Professora: E de onde é que surgiu essa ideia de votar em uma pessoa para governar o país?

Pronto. Você pegou o interesse da turma. Da origem da democracia para todas as contribuições, tudo depende de você. Cada professor tem seu jeito. Depois disso, como avaliar os alunos? Tem vários jeitos. Projetos, debates em sala, jogos de perguntas e resposta. É muito fácil avaliar um aluno, ainda mais com uma prova. Mas é difícil avaliar o potencial REAL do seu aluno com essa mesma prova. As capacidades criativas de um jovem durante um projeto ou um debate são incríveis, e seu brilho não pode ser ofuscado por uma prova que o fará decorar ao invés de absorver a matéria, colocará pressão sobre seus ombros e, muito provavelmente, se não for absurdamente disciplinado, acabará tendo um resultado abaixo de suas expectativas, se não falhar.

Batemos dia após dia sobre a mesma tecla, a de que o governo não ajuda na educação. Admito, ele realmente não ajuda. Mas assim como o governo não nos financia corretamente, nós professores também não revolucionamos nossos métodos e não mostramos resultados, pois fomos alienados a agir como aquele professor opressor que todos nós tivemos em nossa infância. É muito fácil criticar o jovem que tem dificuldades em uma matéria quando você já passou por aquilo e sabe que nunca mais vai ocorrer com você. É muito fácil falar mal. Difícil é quebrar o molde. Difícil é mostrar que há sim outro meio de explorar aquele potencial infinito que jaz nas mentes desses jovens que apenas são desinteressados por que sabem que não há ninguém na escola que vai entendê-los ou ajudá-los. Eles não veem o professor como uma figura aconselhadora e exemplo de imaginação e esforço, mas sim como aquele adulto que não vai mover uma palha para tentar dar uma aula interessante. Uma pessoa que faz aquilo apenas pelo dinheiro.

Tenho fé na próxima geração de professores. Que eles sejam o oposto da geração que os “educou”. Revolucionem não só a escola, mas a aula em si. É de dentro da sala de aula que nasce a melhoria para a instituição em si.

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Lucas Santos
Educação e ensino

Sintaxes meticulosas. A serendipidade de estar vivo. A ruptura de paradigmas socio-educativos. Um monte de palavras difíceis pra eu parecer inteligente.