As leguminosas, a arte e a UNESCO

Sementes nutritivas para um futuro sustentável

SRE . Madeira
Educatio Madeira
6 min readApr 29, 2016

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O espaço EntreArte, instalado na entrada da Secretaria Regional de Educação, recebeu a mostra GerminARTE, no contexto do Ano Internacional das Leguminosas — 2016, definido pela UNESCO com o tema Sementes nutritivas para um futuro sustentável.

Os alunos e os professores das escolas do 1.º ciclo do ensino básico, da Região Autónoma da Madeira, aceitaram o desafio de, em moldes de cartão prensado, conceber projetos artísticos relacionados com a alimentação saudável.

Aqui ficam as imagens da exposição, o comentário de uma visitante belga e uma curta entrevista a Bruno Sousa, da Ordem dos Nutricionistas, sobre as vantagens das leguminosas.

Emilia Gavrila, oriunda de Bruxelas (Bélgica), visitou a exposição e partilhou a sua experiência.

«Estou espantada ao ver esta exposição nas paredes da Secretaria Regional de Educação, ao ver estes feijões a dar-lhes vida, com a referência ao tema do Ano Internacional da Alimentação Saudável. É incrível. Portugal tem imensos azulejos, mas isto é muito mais vívido. Segundo percebi, cada feijão é uma criação de uma escola da Madeira, o que é extraordinário.

Há cerca de dez anos, uma das minhas filhas fundou, com alguns amigos, a associação Le début des haricots (O começo dos feijões).

Desde então, criaram jardins comunitários em Bruxelas e nas escolas, principalmente nas escolas para crianças pobres.

Com estes pequenos jardins, mostram às crianças que o feijão cresce na terra, emerge e dá alimento. Deste modo, percebem que o feijão não vem de uma caixa ou de uma lata do supermercado. As crianças ficam maravilhadas. E não foi apenas feijão, também foram salsa e outras coisas, mas os feijões crescem muito rápido. Lembro-me de perguntar à minha filha: “Cada criança da turma tem o seu feijão?”. Ela respondeu-me: “Não, porque alguns feijões crescem e outros não. Por isso, para não dececionar as crianças, estas agora têm feijões comunitários e vêm o crescimento de alimentos saudáveis.

Estou muito contente por ter tido esta oportunidade. É um feliz acaso percorrer o Funchal e encontrar esta exposição.»

Bruno Sousa, da Ordem dos Nutricionistas

Bruno Sousa, do Conselho Geral da Ordem dos Nutricionistas, aceitou falar sobre a temática das leguminosas.

Educatio (ED) — Em 2016, celebra-se o Ano Internacional das Leguminosas. O que são, afinal, as leguminosas?

Bruno Sousa (BS) — As leguminosas são aqueles alimentos que, vulgarmente, as pessoas conhecem melhor por grãos, como seja o exemplo do feijão, do grão-de-bico, das favas, das ervilhas, das lentilhas. Este tipo de alimentos está ao dispor de todos nós, aqui na Região. Sabemos que existe algum cultivo, mas ainda não na quantidade ideal, porque o consumo também está abaixo daquilo que é indicado.

As leguminosas caraterizam-se por ter, do ponto de vista nutricional, uma riqueza ao nível das fibras, com efeito saciante, o que ajuda a diminuir a absorção dos açúcares e das gorduras, uma grande vantagem para a saúde.
Este tipo de alimentos carateriza-se, também, por ter uma boa quantidade de hidratos de carbono, mas de absorção lenta, com efeito no nosso organismo ao longo do tempo. Esses não são hidratos de carbono de absorção rápida, mais nocivos para a nossa saúde.

Por outro lado, além disto, carateriza-se por ser uma boa fonte proteica. É claro que não tem o mesmo valor biológico de outras fontes proteicas, como sejam os exemplos da carne ou do peixe. A par de tudo isto, é uma boa fonte de vitaminas e minerais, das quais eu destacaria as vitaminas do complexo B, bem como o ferro e o magnésio — que sabemos que são bons constituintes e que devemos incluir na nossa alimentação diária.

ED — Porque é que as leguminosas passaram a ser um grupo específico na roda dos alimentos?

BS — A roda antiga tinha só cinco grupos e as leguminosas encontravam-se dentro do grupo dos cereais. Segundo o conceito inerente à própria roda dos alimentos, bastaria consumir alguns alimentos desse grupo. Ora, por exemplo, poderíamos estar a consumir — dentro desse grupo — batata, arroz, etc. e poderíamos passar muitos dias sem consumir leguminosas.

Havendo um grupo próprio das leguminosas, isto dá-nos indicação de que as devemos consumir todos os dias, o que é extremamente importante.

Uma das mensagens é a de que devemos consumir, diariamente, de todos os grupos da roda dos alimentos. Claro que devemos comer os maiores em maior quantidade e os menores em menor quantidade.

ED — Tem sugestões sobre como integrar as leguminosas na alimentação diária?

BS — A quantidade que devemos consumir de leguminosas não é muito grande. Aliás, o grupo representa apenas 4% da roda dos alimentos, portanto, é pouca quantidade, mas que devemos sempre incluir na nossa alimentação.
Podemos incluir nas sopas e aqui, particularmente para as crianças, as leguminosas poderão ser raladas — a sopa é uma excelente forma. Podemos também inclui-las nas saladas, assim como juntá-las com o arroz ou as massas, o que acaba por ter uma maior riqueza do ponto de vista nutricional.

Por exemplo, o arroz de feijão é — do ponto de vista nutricional — muito rico; isto é, na combinação, em termos proteicos, das leguminosas com o arroz, estes alimentos acabam por se complementar.

Para além disto, do ponto de vista gastronómico, existem várias iguarias que podemos fazer e que podemos incluir na nossa alimentação. Será sempre uma mais-valia se pudermos fazer sempre esta combinação com outros alimentos do grupo dos cereais e derivados.

ED — Que apreciação faz, como nutricionista, da intervenção artística sobre as leguminosas em exposição no espaço EntreArte?

BS — Acho que todas estas intervenções e todas estas dinâmicas são sempre bem-vindas, em especial para as crianças. Celebra-se, em 2016, o Ano Internacional das Leguminosas, no sentido de todos nós sensibilizarmos a população para a importância do consumo destes alimentos. A educação começa, sem dúvida, pelas crianças. Quando nós falamos de educação alimentar, as crianças são um elemento essencial.

O trabalho realizado nas escolas é fundamental na forma como educamos as nossas crianças para que tenham uma alimentação equilibrada.

Sendo desenvolvidas várias ações, aqui juntando a parte alimentar com a parte artística, melhor ainda. Nós sabemos que, para conseguirmos passar a mensagem às nossas crianças, temos de usar as estratégias que lhes sejam mais apelativas. Este tipo de estratégia utilizada acaba por trazer sempre mais resultados para aquilo que nós queremos, que é sensibilizar as crianças, fazer com que mudem os hábitos alimentares.

E porque não tentarmos também incutir alguns hábitos nas famílias? Através das crianças, conseguimos chegar às famílias. Esta exposição acaba por sensibilizar não só as crianças. Estou certo de que esta mensagem também irá chegar aos adultos, não só aos pais, mas a todos os adultos que tiveram a oportunidade de ver esta mostra de arte na Secretaria Regional de Educação.

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