Os Maiores de 23 e o Ensino Superior

Uma história possível

SRE . Madeira
Educatio Madeira
5 min readSep 30, 2016

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Enquanto jovem estudante, sempre foi um dos meus objetivos atingir o ensino superior. Mais tarde, senti que os estudos superiores poderiam ter-me ajudado profissionalmente e, mais recentemente, quando me vi desempregado, a presença física desse canudo poderia efetivamente ter feito a diferença. Na verdade, quando pensava que podia ter tirado um curso, subia ao peito aquela sensação de arrependimento que me deixava desconfortável… e todos a reconhecemos.

Podia explicar as razões que, ao longo de 12 anos, me empurraram para longe da licenciatura, mas seriam sempre desculpas, nada mais do que isso.

E este texto quer-se sobretudo positivo, a ver se empurro alguém de volta para a sala de aulas.

Acabaram-se as desculpas

Em setembro de 2014, iniciei um estágio na empresa onde agora trabalho, por via do programa de estágios do Instituto de Emprego da Madeira para desempregados até aos 31 anos. Após esse estágio e devido ao meu desempenho, a empresa contratou-me por um ano e meio para trabalhar no acompanhamento aos clientes. Senti-me, então, na obrigação de concretizar a minha ambição de estudo, convicto de que, agora mais do que nunca, necessitava de mais “bagagem” para devolver, com maior profissionalismo, a confiança depositada em mim.

Pesquisei e dei uma olhadela na página do Gabinete do Ensino Superior, o que me despertou para a possibilidade de uma candidatura pelos maiores de 23 anos. Falei à empresa sobre esta hipótese, sem que pretendesse diminuir o meu empenho laboral. A recetividade demonstrada deu-me alento a que, logo em junho de 2015, me informasse sobre as possibilidades de ingresso na Universidade da Madeira (UMa).

Em outubro de 2015, regressei a uma sala de aulas, 12 anos depois e já com os meus atuais 32 anos. Num anfiteatro com mais de 100 alunos, fui a uma aula de Introdução à Macroeconomia.

Inscrevi-me como aluno externo com o objetivo de “pôr os pés na terra”, de sentir o que era, realmente, voltar às aulas e conjugá-las com as restantes responsabilidades: laborais, familiares e sociais. Pelo caminho, se completasse uma ou duas cadeiras do curso que pretendia, tanto melhor; ficava com TPC (trabalho para casa) adiantado. Experimentei uma cadeira que, para meu espanto e receio, incluía cálculos, fórmulas e equações matemáticas.

Quando o professor aconselhou a turma a comprar uma calculadora científica, uma espécie de desespero apoderou-se de mim; mas transformei-o em desafio.

Apliquei-me nos estudos, tentei assistir ao máximo de aulas, procurei apoio nas redes sociais. No dia do primeiro teste, estava com uma ansiedade que nunca senti enquanto estudante. Tive um 10 suado. O suficiente para ficar contente e não me deixar descansar. O segundo teste correu-me pior, mas tive 12! Havia pensado que, na melhor das hipóteses, iria a exame.

Passei a cadeira, finalmente crente nas minhas capacidades.

Lições pessoais e transmissíveis

De peito cheio, inscrevi-me noutra cadeira no segundo semestre, a de Introdução ao Direito. Li o plano de estudos e pensei para comigo: isto vai ser fácil. O que aconteceu depois foi outra lição de vida.

Relaxei no estudo, parti do princípio que as minhas leituras e experiência de vida chegavam.

Tive 9 na primeira frequência, quando esperava um 13 ou 14. Foi um misto de desilusão e raiva. Como pude enganar-me! Fiz as pazes comigo mesmo ao chegar aos 14 na avaliação seguinte, mas com aquele amargo de boca de poder ter conseguido uma média mais alta.

Era o momento de ir mais além. Decidi tentar entrar na Universidade da Madeira.

Aprendi a lição. Não facilitei na preparação para a Prova de Conhecimentos e Competências, nos Maiores de 23 anos.

A avaliação final foi de 14. Depois de me candidatar, entrei no Curso de Economia.

Comecei as aulas como licenciando neste mês de setembro, satisfeito por ter concretizado o plano delineado há pouco mais de um ano e com uma ideia mais ou menos clara do que aí vem: a disciplina, o trabalho, a dedicação e as opções que terei de fazer em favor da concretização de um sonho.

Não será fácil, nem quero que seja, porque já saboreei a desilusão do facilitismo e o sucesso do esforço.

Trabalhar e estudar é agora o desafio. Vou solicitar o Estatuto de Trabalhador-Estudante. Cá vos espero, meus caros maiores de 23…

Como é que fiz?

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