Liga Madeirense dos Desportos Náuticos

O polo aquático na Madeira dos anos 20

SRE . Madeira
Educatio Madeira
8 min readJun 30, 2016

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texto Eduardo Simões (SRE)

Polo aquático na Estância Balnear do LIdo

A génese da Liga Madeirense de Desportos Náuticos

A 22 de agosto de 1922, Álvaro Reis Gomes consegue reunir — na sede do Club Sports da Madeira — Leonel Luiz, presidente da Comissão Instaladora da Delegação da Liga Portuguesa dos Clubes de Natação no Funchal e os representantes do Grupo Desportivo Nacional, Club Sport Marítimo, União Foot-ball Club e Clube Sports da Madeira, para apresentar o seu projeto de criação das bases de uma futura entidade associativa-federativa que viesse a gerir os destinos dos «desportos náuticos» na Madeira.

Este funchalense multifacetado defende a necessidade de se organizar uma «federação regional das forças náuticas da Madeira», criando-se, para o efeito, a Liga Madeirense de Desportos Náuticos.

Esta deveria abranger três secções: Natação, Remo e Vela. Leonel Luiz opõem-se a este modelo, entendendo que a federação deveria dedicar-se somente à Natação, porque considerava que na altura não haveria elementos suficientes para o desenvolvimento dos «outros ramos de sports náuticos».

A proposta de Álvaro Reis Gomes acaba por vingar, ao contrapor que a secção de Natação poderia iniciar imediatamente a sua atividade, aguardando-se que as outras modalidades tivessem melhor oportunidade. Desta forma, os delegados presentes aprovam o projeto de fundação da Liga.

Inicia-se a estruturação das seguintes modalidades desportivas: water-polo (polo aquático), corrida de quinhentos metros, corrida de duzentos metros bruços, corrida de cem metros, corrida de cinquenta metros, mergulho de resistência e mergulho de altura.

A 24 de agosto, são finalmente aprovados os estatutos da Liga Madeirense de Desportos Náuticos, informando-se os clubes da abertura de inscrições e sendo definidos os «uniformes» que deverão ser usados nas provas desportivas.

Folha de registo de inscrições no campeonato de polo aquático em 1922

A análise das atas das reuniões demonstra que o polo aquático era a modalidade a que a Liga dispensava maiores esforços em termos organizativos.

Tudo indica que, na Madeira, esta modalidade tinha expressão significativa. Em 1920, o polo aquático era um desporto popular e internacionalmente reconhecido, tendo as VII Olimpíadas de Amberes contado com a presença de doze nações.

O Campeonato da Madeira de Water-Polo

Em 1922, o calendário de jogos do primeiro Campeonato de Water-polo da Madeira incluía Clube Sport Marítimo, Grupo Desportivo Nacional, Club Sports da Madeira, Império Foot-ball Club e União Foot-ball Club.

A Madeira começa a organizar o seu campeonato regional 15 anos após a primeira apresentação do polo aquático em Portugal, sete anos após o início dos campeonatos regulares (em 1915, em Lisboa) e dois anos após a criação da Liga Portuguesa dos Clubes de Natação.

Das atas das reuniões da Liga, depreende-se que a rivalidade entre clubes no futebol tenha sido transposta para o polo aquático, considerando o avolumar de questões sobre a arbitragem. Em 18 de setembro de 1922, é aprovada, por unanimidade, a proposta de Álvaro Reis Gomes de criação de um Conselho Arbitral, sendo escolhidos elementos externos à Liga e aos corpos gerentes dos clubes. Na mesma ocasião, foi também criada a Comissão Técnica de Water-Polo, centrada em questões técnicas da arbitragem.

Os árbitros eram inscritos pelos clubes, cabendo à Liga a nomeação do árbitro para cada jogo.

O Campeonato de Water-polo da Madeira era bastante competitivo, como podemos constatar na ata n.º 15, de 13 de novembro de 1922, pois o Marítimo e o Império encontravam-se empatados no final da primeira época desportiva. Para se apurar o campeão da Madeira, foi marcado novo jogo e previsto um prolongamento de cinco minutos (em duas partes), caso terminasse empatado no fim dos quinze minutos regulamentares.

Decorrido o tempo regulamentar , o Império Foot-ball Club sagrou-se, por três bolas a uma, campeão de polo aquático da Madeira, de primeiras categorias.

Equipa do Império Foot-ball Club que venceu o primeiro Campeonato de Polo Aquático da Madeira em 1922

A organização das provas de polo aquático

Durante a curta existência da Liga Madeirense de Desportos Náuticos da Madeira (1922–1930), eram organizados o «Campeonato de Water-polo da Madeira» — dividido em primeiras, segundas, terceiras e quartas categorias — e o Torneio Taça de Honra “Presidente Teixeira Gomes”.

Os jogos de polo aquático realizavam-se na baia da Pontinha (Funchal), criando-se, para o efeito, um recinto vedado e cobrando-se entrada aos espetadores.

Para a prática dos jogos, eram utilizados retângulos com vinte e cinco a vinte e sete metros de comprimento e com dezoito metros de largura. Tanto os retângulos, como as balizas eram cedidos pelos clubes, mediante solicitação da Liga. Para além desses equipamentos, eram também necessárias canoas para o árbitro e os juízes de golo, bem como cabos de mar para prender o retângulo.

No início, a Liga estava dependente da boa vontade dos clubes para organizar as suas provas, uma vez que não possuía equipamentos desportivos. Mais tarde, contratou o fornecimento de equipamentos diretamente a clubes e a pessoas individuais, culminando, em 18 de julho de 1928, com a abertura de concurso entre os clubes.

A receita das entradas dos espetadores no derradeiro jogo do primeiro campeonato (1922), em que se defrontaram o Império Foot-ball Club e o Clube Sport Marítimo, foi de 53 escudos.

Na reunião da Direção em 25 de agosto de 1923, foi resolvido fixar em um escudo cada entrada no molhe da Pontinha, em dias de realização de provas. A 27 de agosto de 1927, a Liga atualizou o preço para dois escudos e cinquenta centavos.

O Livro de Caixa de 1922 e 1923 reúne dados sobre receitas e despesas da Liga Madeirense de Desportos Náuticos, em que se percebe uma estrutura cuidadosa com os pormenores organizativos das competições.

Os jogadores tinham entrada grátis nos dias em que participassem nas provas.

A Liga requisitava, ao Comissário de Polícia, alguns guardas para policiamento da Pontinha nas ocasiões em que se realizavam «sports», ao mesmo tempo que a zona envolvente era vedada. A ata n.º 40 faz referência à requisição de treze guardas.

À Escola de Artes e Ofícios era solicitado que indicasse seis alunos para venderem bilhetes na Pontinha, sendo que dez por cento das receitas reverteriam a favor desta instituição.

No dia 14 de agosto de 1923, abrem-se inscrições para o Campeonato da Madeira em Water-polo, de primeiras, segundas e terceiras categorias e de outras modalidades. As taxas de filiação, inscrições e protesto são aumentadas cem por cento.

A Estância Balnear do Lido também acolhia jogos de polo aquático, desde meados da década de 30, como é visível em momentos eternizados por fotografias de Perestrellos Photographos.

Jogo de polo aquático na Estância Balnear do Lido em 1935

Sobre os jogadores de polo aquático

O amadorismo é um tema frequente nas atas. Para a Liga Madeirense de Desportos Náuticos, não são considerados amadores os indivíduos que tenham sido «matriculados como marítimos» nas capitanias dos portos, que exerçam ou tenham exercido profissões no mar, ensinado ou praticado a natação ou qualquer exercício «natatório» ou ainda outros exercícios atléticos — tais como ciclismo, ténis, remo, corridas — como forma de auferir rendimentos. (ata n.º 14)

Na reunião de 25 de setembro de 1925, a Direção da Liga aceitou a proposta de um clube para o adiamento de torneio de polo aquático, em virtude do adiantamento da época e por alguns dos seus jogadores terem de treinar para o futebol.

Em ata, refere-se também que os atletas não oriundos da Madeira só poderiam jogar se residissem, comprovadamente, há pelo menos seis meses na Madeira.

A primeira referência ao controlo médico dos nadadores surge na reunião de 18 de julho de 1928 com a obrigatoriedade de «inspeção médica» aos indivíduos inscritos, sendo nomeado um médico oficial da Liga para o efeito. Contudo, a 18 do mês seguinte, recomenda-se apenas uma inspeção médica pelos clubes.

Declínio do polo aquático na Madeira e o fim da Liga

A 26 de agosto de 1923, Álvaro Reis Gomes delega no seu suplente da Direção, Abel Romão Gonçalves, o cargo de Presidente. Apesar de deixar a Presidência, continua a participar nas reuniões, assistindo à expansão e ao declínio do polo aquático na Madeira.

Da leitura de todas as atas da Liga Madeirense de Desportos Náuticos, verifica-se uma paulatina expansão do polo aquático desde 1922, com inscrições adicionais de clubes nas diversas categorias.

Jogo de polo aquático na baia do Funchal em 1928

A partir de 1928, regista-se um declínio, tendo a Liga decidido, em reunião de 1 de agosto, que «estando inscritos três clubes, far-se-á uma série em uma volta». Nessa ata, faz-se nota do progressivo desinteresse dos clubes pela modalidade. Na reunião de 29 de agosto de 1928, a Liga decide atribuir uma “Menção Honrosa” ao Clube Sport Marítimo por ter sido o único clube a inscrever-se no Torneio “Teixeira Gomes”.

A atividade da Liga Madeirense de Desportos Náuticos, enquanto associação desportiva com essa designação, cessa oficialmente a 22 de outubro de 1930, data de realização da sua última reunião.

Os trabalhos só serão retomados 11 anos mais tarde, aquando da realização de reunião a 2 de maio de 1941, sob a designação de Comissão para a reorganização da antiga Liga de Desportos Náuticos.

A 30 de junho de 1941, realiza-se a primeira reunião oficial da nova Associação de Natação do Funchal, eleita em reunião da Assembleia Geral de 27 do mesmo mês.

Fontes Primárias

Liga Madeirense de Desportos Náuticos (22 de agosto de 1922 a 26 de agosto de 1941). Livro de Atas N.º 1, N.º 2 e N.º 3, da Direção.
Liga Madeirense de Desportos Náuticos (1922 a 1924). Livro de Registo de Inscrições.
Liga Madeirense de Desportos Náuticos (6 de setembro de 1922 a 12 de abril de 1927). Livro de Caixa.

Fontes Secundárias

Agência de Promoção da Cultura Atlântica. “Aprender Madeira” — Dicionário Enciclopédico da Madeira. <http://aprenderamadeira.net/gomes-alvaro-reis> (consultado em 8 e 9 de junho de 2016).
Fernando Augusto da Silva (1998). Elucidário Madeirense — 1965–1966. 3.ª ed., 3 vols. Funchal: Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal.
Francisco Santos (1989). História Lúdico-Desportiva da Madeira. Secretaria Regional da Educação, Juventude e Emprego. Funchal.

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