Pedro, Vitória, Margarida e o Desporto Adaptado

Desporto Escolar estruturado na Escola Bartolomeu Perestrelo

SRE . Madeira
Educatio Madeira
7 min readMay 31, 2016

--

Núcleo de Atividade Motora Adaptada

Três estudantes — Pedro, Vitória e Margarida — da Escola Básica dos 1.º, 2.º e 3.º Ciclos com Pré-escolar Bartolomeu Perestrelo, do Funchal, participaram na Festa do Desporto Escolar da Região Autónoma da Madeira (RAM), que congregou 7000 participantes em quatro dias. Enquadrados pelo Núcleo de Atividade Motora Adaptada (NAMA) desta escola, são exemplos diários de motivação e esforço, qualidades que também evidenciam na sua prática desportiva.

Dinamizado pela professora Cristina Ferreira, o NAMA trabalha semanalmente com cinco estudantes e dá apoio a muitos outros com necessidades especiais, em articulação com as professoras do Ensino Especial e os restantes colegas do Desporto Escolar. Note-se que, na RAM, o desporto escolar proporciona atividade motora adaptada a 700 pessoas, anualmente.

Um trio animado

Pedro é um aluno bem-disposto com resultados escolares razoáveis.

O seu gosto pelo desporto é por demais evidente: «À quinta-feira, jogo boccia. Acho esta atividade muito importante, porque me ajuda a desenvolver a parte mental. Já entrei em competição no desporto escolar e também já fui ao campeonato regional de boccia.».

«Trabalho para melhorar os meus resultados e sonho, um dia, ir à Seleção para sermos campeões do mundo!»

Para além da presença no NAMA, afirma: «gosto muito de ver futebol e, especialmente, gosto de ir assistir aos treinos do meu irmão». Sublinha, ainda, o apoio da sua família, a todos os níveis, mas de modo especial no desporto.

Após a cerimónia de abertura da Festa do Desporto Escolar, o aluno asseverava: «foi uma sensação que me deixou muito emocionado, senti uma alegria imensa, gostei muito».

No circuito de habilidades motoras, realizado nos Jardins do Lido (Funchal), Pedro acrescentava que «participar nesta atividade e jogar boccia foi muito bom». Perante a perspetiva lúdica, conclui que «não é uma competição e não exige ter de ganhar; por isso, vou-me divertindo».

Vitória tem bons resultados e gosta muito de Português.

Sobre o Núcleo de Atividade Motora Adaptada refere que, à quinta-feira, é dia de fazer «fisioterapia e exercícios onde trabalho o meu equilíbrio».

«Gosto de teatro e gostava de um dia poder ser uma atriz.»

A aluna frisa, sobre este seu interesse, que «Uma vez, numa brincadeira, fiz um guião para uma peça de teatro. Se tivesse de voltar a fazer mais um guião, fazia-o sobre futebol.».

Nos Jardins do Lido, os jogos da corda, da roda, do lençol e do arco estão nas suas preferências. Sobre este último, acrescenta: «Ganhei, mas ganhar ou perder é desporto. O mais importante é divertirmo-nos.».

Margarida está no sétimo ano e tem conseguido bons resultados.

No núcleo de atividades motoras adaptadas, gosta muito de jogar bowling, boccia e voleibol. Acrescenta: «Fora deste espaço e sempre que posso, também gosto de jogar futebol com a minha mãe.».

«Os meus pais apoiam-me no desporto.»

Sobre o circuito gímnico e as habilidades de motricidade fina, a aluna fala da sua participação «nos lançamentos da bola e no jogo do boccia». «Foi muito bom termos estado todos juntos, aqui ao ar livre», conclui.

O NAMA visto de dentro

A professora Cristina Pereira menciona o trabalho individualizado feito no NAMA — em que se incluem casos de paralisia cerebral, hipotonicidade, síndrome de Asperger e síndrome de Tourette — e não esquece o apoio direto da docente Sara Michelle na modalidade desportiva de boccia.

Refere que «do ponto de vista desportivo, estes estudantes, como quaisquer miúdos, têm as suas reações próprias».

«Uns sabem ganhar, outros não sabem perder.»

A docente sublinha o papel do ensino em passar a ideia de que perder ou ganhar são etapas que fazem parte da vida. Acrescenta que é necessário ultrapassar todos os obstáculos e proporcionar, aos estudantes, condições para que possam progredir, evoluir e experimentar coisas diferentes.

Em relação à participação de mais alunos no NAMA, defende que «Quanto mais cedo descobrirmos as síndromes, as deficiências ou as incapacidades deles, melhor podemos trabalhar e mais rapidamente ver a sua evolução. O meu desejo era que todos estivessem aqui comigo.».

«A estas pessoas, o desporto adaptado permite o atingir de um objetivo, reforçando ou melhorando a sua auto-estima.»

O trabalho conjunto dos professores do desporto escolar evidencia-se, por exemplo, na organização do Dia da Deficiência, em que todos os alunos da Escola Bartolomeu Perestrelo — com o apoio da Direção de Serviços do Desporto Escolar (DSDE) — experimentam jogos de boccia, goalball e voleibol sentado.

A terminar, Cristina Pereira confessa: «Dá-me uma satisfação enorme trabalhar com estes miúdos e sinto que eles também se sentem bem comigo.».

Sara Michelle, Hélder Santos, Cristina Pereira, Vitória Antunes, Pedro Velosa e Margarida Câmara

Desporto Escolar coordenado e articulado

Em entrevista, o coordenador Hélder Santos explica a abrangência do desporto escolar na Escola Bartolomeu Perestrelo.

Educatio (ED) — Como coordena o desporto escolar, com diferentes níveis de ensino e com desporto adaptado?

Hélder Santos (HS) — No nosso caso, ter estes níveis todos é uma mais-valia em termos de captação, mas a exigência também aumenta. A coordenação só é possível porque há delegação de responsabilidades e há uma dinâmica de outros anos (não é de agora), que mantém esta máquina a funcionar, o que facilita imenso o trabalho.

A atividade motora adaptada é recente. Como nós temos muitas solicitações de alunos com necessidades educativas especiais e com alguma deficiência, o núcleo proporcionou-lhes a integração no próprio desporto escolar.

Funcionamos como uma unidade, com segmentos, mas que funcionam todos juntos. Nós somos uma equipa de professores com 20 núcleos a funcionar, pelo que nos desdobramos por vários.

Temos um quadro de trezentos e cinquenta alunos. Alguns têm uma prática muito regular, de três vezes por semana, mas os alunos têm uma carga horária grande. Porém, quando estão integrados e gostam, há uma relação de grande proximidade com o próprio professor, pelo que perduram na atividade durante quatro, cinco anos.

Agora, integramos o primeiro ciclo, com dois professores da escola que estão dentro da nossa dinâmica, o que torna tudo mais fácil. As coisas acabam por correr bastante bem.

Tem sido muito agradável, nos últimos anos, o crescendo que temos tido.

ED — Como é visto o desporto escolar pela comunidade educativa?

HS — Os órgãos de gestão têm feito, ao longo dos anos, um esforço enorme para que seja mantido este volume de atividades e se possa criar sempre mais um núcleo, porque nós temos muitos alunos.

As pessoas estão atentas e há outras entidades que estão atentas. Quando temos resultados e quando conseguimos canalizar alunos do desporto escolar para o desporto federado, com qualidade, os pais notam.

Temos atletas que são internacionais, atletas que chegaram às seleções, atletas que são campeões nacionais em algumas modalidades, como no badminton ou no andebol.

Para os pais que um dia pensam em pôr os filhos numa escola, em que se dá importância à atividade física — e a nossa escola tem dois ou três projetos que valorizam a atividade física do dia a dia (não a esporádica) — obviamente que o desporto escolar tem um papel fundamental. Aliás, é aceite como tal pela globalidade das pessoas, apesar de a semana do desporto escolar não ser tão consensual, em especial para os docentes.

O desporto escolar tem de ser visto mais pela criação de hábitos saudáveis e de vida ativa; é o que falta a estes jovens.

ED — A nível desportivo como é que ainda se olha para a diferença?

HS — Eu penso que foi a primeira porta que se abriu para que esse jovens sejam aceites com uma integração plena na sociedade.

Decorreram os campeonatos de natação adaptada e foi uma das primeiras vezes em que se aproveitaram aquelas piscinas olímpicas. É espetacular, pois a nível de utilização não estava a ter grande impacto.

Para finalizar, nós — professores — deveremos tomar a iniciativa de fazer autoformação nesta área, mas esta também deverá ser disponibilizada.

O Desporto Escolar na Região Autónoma da Madeira está enquadrado na Direção Regional de Educação, da Secretaria Regional de Educação.

--

--

SRE . Madeira
Educatio Madeira

Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia . Governo Regional da Madeira