Cercados pelo latifúndio: o exemplo de associativismo vindo de um pequeno assentamento do oeste paranaense

Odinei Padilha
É, gente
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5 min readOct 16, 2018

Nossa equipe acompanhou um dia de trabalho de um grupo de associados, que trabalham juntos na transformação de alimentos e garantem o sustento de suas famílias

Produção de alimentos para a agroindústria/Foto: Antonio Mendonça

Agricultura familiar nos últimos anos, segundo dados IBGE é responsável por 70% dos produtos que vão à mesa do brasileiro. Para o fortalecimento dessa atividade, políticas públicas foram criadas pelos governos estaduais e federais para subsidiar o plantio e a colheita.

Um das características que definem a agricultura familiar é a produção para a subsistência, e o restante é destinado para venda que por conseqüência garante a renda do grupo. Como os módulos rurais são em sua maioria de pequenas áreas extensivas, para que haja uma renda mais elevada e perene, o trabalho coletivo torna-se uma alternativa, para a alavancagem dos lucros. Nos últimos 20 anos uma nova modalidade de processamentos de alimentos conhecida como agroindústria vem crescendo. Esse modelo visa à transformação de matérias-primas provenientes das propriedades locais.

Um exemplo de organização agro-industrial familiar vem do município de Santa Tereza do Oeste. A pouco mais de sete anos no assentamento Olga Benário dez famílias se organizaram e formaram uma associação que lutou juntamente a movimentos sociais, entidades e agentes políticos para a aquisição do material necessário para a construção de uma estrutura que passou a abrigar os equipamentos necessários para a produção de doces e pães.

Produção de geleias/Foto: Antonio Mendonça

“A fabrica surgiu de uma necessidade, quando começamos produzir, não tínhamos um lugar próprio, era cada um em sua casa, depois reuníamos os pões e entregávamos para as entidades, porém notamos que não havia um padrão de e se quiséssemos continuar vendendo os produtos fomos orientados a realizar a criação de uma estrutura fixa. A partir daí unimos forca e demos inicio a obra e a compra do maquinário.”, diz a coordenadora da agroindústria, Isoleide Rodrigues.

Coordenadora da agroindústria, Isoleide Rodrigues. Foto: Antonio Mendonça

Após o termino da construção da infraestrutura, contratos com programas de fornecimento de alimentos para entidades como PENAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) foram firmados, o visto dos órgãos de regulamentação também forams adequado. Uma preocupação dos associados era a parte técnica de produção, Isoleide conta como os associados foram em busca de conhecimento: “Vários cursos a palestras foram realizados pela equipe, antes de colocáramos a mão na massa outra correria foi deixar tudo organizado na parte dos bombeiros e da vigilância sanitária, mas deu tudo certo”.

Foto: Antonio Mendonça

A produção de derivados de farinha e doces

Mensalmente são entregues uma produção 2.823 quilos de massa para 23 escolas estaduais, entre os municípios de Santa Tereza e Lindoeste. A produção é diária para suprir a demanda são necessárias duas equipes de trabalho, um dos trabalhadores e associados Jonas de Gomez de Queiroz explica esse processo: “O trabalho começa cedo, meu horário é comercial, mas a tarde entra outra equipe para dar a continuidade, e sim vamos. Quando os prazos das entregas estão perto, as vezes trabalhamos até os fim de semana”.

A renda ganha tem uma forma de distribuição interessante, após pagar todas dispensas, os associados repartem o lucro coletivamente.

“Compramos tudo o que precisa de matérias primas para fabricar, fazemos os pedidos e no fim do mês recebemos o pagamento, então separamos o dinheiro da água e da luz, depois repartimos em partes iguais entre os oito associados”, diz Jonas.

Jonas de Gomez de Queiroz, Trabalhador e associado na agroindústria/Foto: Antonio Mendonça

Aproveitar as frutas de época que se desperdiçavam nas propriedades foi um dos objetivos da associação partir para produção de doces. Com os contratos firmados os agricultores iniciaram a produção, na atualidade são feitos 800 quilos mensais. Jonas explica que aceitação do doce está sendo bem elevada.

“Aqui na fabrica aproveitamos tudo o que as famílias possuem, laranja, banana, abóbora, entre outros”.

Foto: Antonio Mendonça

A demanda tem aumentado cada ano isso também fez ir à procura de frutas nos sítios vizinhos do assentamento, levando associação comprar dos outros agricultores, distribuído renda também para as localidades próximas.

Agregar valor ao produto e combater êxodo rural

Combater o êxodo rural é uma das bandeiras da agricultura familiar, isso evita os grandes inchaços populacionais que vem aumentando a cada ano, e deixando inúmeras pessoas fora do mercado de trabalho nos grandes centros urbanos.

A agroindústria teve um papel fundamental entre os moradores do assentamento, por serem lotes de terras de quatro hectares, antes de existir essa atividade os agricultores se deslocavam para trabalhar em Cascavel, agora não precisam mais.

“Nossa eu me lembro, era sofrimento, tínhamos sair de madrugada para trabalhar num frigorífico de aves em Cascavel, eu estou muito feliz aqui, tenho minha renda, ganho mais e fico com pão, cuca e doce para minha alimentação da minha família”, conta Isoleide.

Esse modelo de agroindústria quem vem do assentamento Olga Benário é exemplo que deu certo, que pode servir de inspiração para outras regiões do Brasil. Mostrando que a união das pessoas e a cooperação em prol de um ideia para melhorar a vida é sempre válida. Boas atitudes como essa devem ser compartilhadas para que agricultura familiar seja fortalecida no país.

Aproveitar as frutas da época são umas das práticas mais aplicadas na agroindústria. Nesse período do ano a banana está sendo colhida, seu João Santana, que é integrante da associação nos conta esse processo.

“Os pedidos são entregues a cada 15 dias, mas a produção é diária, a banana e colhida entre os moradores aqui, depois compramos de outros vizinhos mais próximos”

Os agricultores relatam que a união, e a pequena indústria foram cruciais para que as pessoas fixassem na pequena propriedade e não se deslocassem para cidade em busca de emprego, ” antes eu tinha que ir trabalhar em cascavel, agora não preciso sair daqui, minha casa fica a cinco minutos, então isso é maravilhoso’’.

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