Instituto Pedra da Mata: Plantando sonhos

Patricia Magri
É, gente
Published in
4 min readOct 15, 2018

Casal de engenheiros agrícolas constrói instituto dedicado a preservação de espécies, como as sementes crioulas

Eliana Maria Lopes Günther Kruger (fonte: Instituto Pedra da Mata)

O Instituto Pedra da Mata é um exemplo de sustentabilidade e preservação natural. Um casal de engenheiros agrícolas, apaixonados pela agricultura orgânica e pelas energias alternativas fundaram o instituto com o objetivo de melhorar e incentivar o cultivo e a preservação das espécies.

Durante 20 anos, Günther Kruger e Eliana Maria Lopes estão praticando agricultura tradicional na Bolívia e no Brasil. Durante esse tempo, diversas vivências levaram o casal a testemunhar o poder transformador da natureza, da vida mais simples e das relações comunitárias, unindo os saberes aprendidos dos povos de tantos lugares.

O Instituto se fixou em uma pequena propriedade rural de Santa Tereza do Oeste, no Paraná. O local segue os preceitos da agroecologia e valorização da sabedoria popular. Em um espaço de dois alqueires e meio de terra, eles mantêm um sítio-escola onde são promovidos cursos, recebendo grupos de pessoas com afinidade com os objetivos do Instituto. No local são cultivadas mais de 150 espécies vegetais diferentes entre frutíferas, legumes, verduras, cereais, entre outros.

O casal conseguiu comprar esse pedaço de terra, com simplicidade e amor, aos poucos conquistam os objetivos do Instituto. “Resolvemos unir experiencias da vida toda, vivencias em outros lugares e então fazer um lugar que tem como principal objetivo acolher as pessoas pra que possamos refletir um pouco sobre maneiras diferentes de viver, conviver com as pessoas, de construir moradias, de produzir alimentos de uma maneira saudável e de uma maneira que a gente possa repartir o que está sobrando”, diz Eliana.

Um dos principais objetivos do casal é a preservação das sementes crioulas. Eliana conta que foi a partir dessa prática que o Instituto começou. “As sementes crioulas têm uma história emocionante para nós, somos sentimentais. Eu passei muitos anos procurando sementes de milho crioulo aqui na região e eu não encontrava, porque não existe mais. Quando um vizinho conseguiu um punhadinho para nós, dado com muita boa vontade, nós fomos plantar e colocamos a data do plantio como a data de inauguração do instituto, dia seis de outubro”

Eliana mostrando a produção de milho crioulo (fonte: Patricia Magri)

O amor pelas Sementes Crioulas deu vida ao sonho do casal de construir um sitio-escola e espalhar ensinamentos. “No nosso espaço não tinha nada ainda, nós fomos plantando eu olhei para o Gunther e falei: você percebe o que nós estamos fazendo aqui? Nós estamos plantando o nosso sonho, e chorávamos regando as sementes com nossas lágrimas”, conta Eliana, emocionada.

Após a colheita o casal fez um teste para provar que as sementes não sofreram mutações genéticas e que realmente são sementes crioulas, puras. “Quando esse milho cresceu, todos maravilhosos, coloridos com a palha roxa, nós fomos fazer o teste de transgenia, porque a ideia da semente crioula é não ter nada de manipulação genética, é uma semente ancestral e tem uma resistência a bactérias, pragas e doenças muito grande, diferentes das sementes domesticadas que já foram manipuladas geneticamente. Quando fizemos o teste e o resultado foi de que as sementes eram puras, nós ficamos muito felizes. Quando nós colhemos, produzimos o nosso fubá de milho crioulo e levamos para vender, é como apresentar um filho querido para as pessoas, é algo muito valioso”, revela Eliana.

As sementes crioulas passam por uma fase difícil, grandes produtores são contra essa prática e existem projetos de leis que pretendem acabar com as sementes. Gunther conta que: “Para quem não está no meio, é um pouco difícil encontrar, existe um preconceito, é uma perseguição porque essa produção é contra grandes empresas”. Eliana completa dizendo que: “Eles não querem que a soberania alimentar possa ser realizada por pequenos produtores, como nós. Uma coisa muito interessante quando falamos de sementes crioulas, que não estão manipuladas geneticamente, o pessoal que é ligado a agricultura convencional fala que produz menos, isso é mito. Ela pode não ter uma mega produtividade de alguns híbridos, mas em questão nutricional a diferença é grande”

Fonte: Instituto Pedra da Mata
Fonte: Instituto Pedra da Mata

Falando em questão nutricional, o casal conta que faz testes com os animais e o resultado é surpreendente. “Colocamos sementes crioulas e sementes convencionais na beira do mato para ver qual semente os bichinhos vão comer, é muito interessante ver que os animais comem as sementes crioulas e quase não tocam nas sementes transgênicas. Esse é um aviso da natureza, quer dizer algo muito valioso, por que não tocam nas transgênicas?”, conta Eliana.

Essa prática feita pelo casal é muito importante para a preservação da nossa cultura. Além da preservação de espécies, o Instituto Pedra da Mata apresenta diversas formas de ajudar o meio ambiente e se tornar mais sustentável, com linhas de ação ligadas à agroecologia, agrofloresta, permacultura e bioconstrução. Além de oferecer cursos e receber visitantes com muito carinho e atenção.

--

--