Solidariedade: os diferentes fazendo a diferença

Odinei Padilha
É, gente
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3 min readNov 12, 2018

Em uma região de impasse, o medo do despejo e a esperança de ser assentado nas terras ocupadas

Foto: Claudelei Lima

Por Claudelei Lima

A cozinha comunitária do acampamento Dom Tomaz Baldoíno, organizada pelas famílias do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), em Quedas do Iguaçu, foi constituída desde o primeiro dia da ocupação das terras, por grupos de mulheres voluntárias, que se reuniram, com objetivo de fazer sopa nutritiva, gratuita para as crianças e famílias mais carentes.

Foto: Claudelei Lima

No início as sopas eram servidas para mais de quatrocentas crianças, ao longo de mais de três anos de ocupação. Com a saída de famílias para outros acampamentos e distribuição de pequenos pedaços de terras para produção de subsistência, esse número diminuiu consideravelmente. Atualmente noventa famílias ainda fazem uso da sopa comunitária. A sopa é feita com produtos produzidos pelos acampados, doações de parceiros e amigos que apoiam o acampamento. A cozinha também se sustenta com a criação de uma padaria que fornece pães, bolachas, bolos e salgados para um mercado comunitário do acampamento e o retorno financeiro e para a manutenção da cozinha.

‘Além de cumprir a função de fazer sopa para as crianças, idosos e famílias mais carentes, ela também atende a visitantes, estudantes e delegações internacionais, que vem conhecer a organização do acampamento, tudo a custo zero “comenta Marcos Luiz Carneiro ,34 anos, coordenador da cozinha comunitária.

Foto: Claudelei Lima

Ele também comenta que para muitas famílias recebam a sopa e a principal refeição do dia.

“É gratificante saber que esses números estão diminuindo em função de que elas vão se auto sustentando através de plantio de alimentos na terra”.

Dona Maria Conceição, mãe de três filhos, Ludmila,12, Lindomar,8, e Luiz,6, comenta que a sopa é importante na criação dos filhos pois é nutritiva.

Foto: Claudelei Lima

“Eu passei por necessidades de alimentação e eu ia até a cozinha buscar esses alimentos para meus filhos, foi muito para mim”, declara a mãe.

Para Rudmar Moeses,29, que é uma das lideranças do acampamento comenta que desde a criação do MST, as cozinhas dos acampamentos cumprem um papel importante na resistência das famílias na luta pela terra em busca de uma vida melhor.

Foto: Claudelei Lima

A cozinha comunitária do acampamento recentemente ganhou o nome de Marielle Vive, em homenagem a vereadora assassinada neste ano, no Rio de Janeiro.

O acampamento Dom Tomaz Baldoíno é mais um dos vários acampamentos que são espalhados pelo país. Apesar da diminuição das ocupações nos últimos anos a realidade dos acampados em todas as regiões ainda é bastante preocupante, visto que as áreas de ocupação são acampamentos provisórios que muitas vezes não oferecem condições dignas de moradia a homens, mulheres e crianças que ficam nesses locais na esperança de serem assentados em uma terra legalizada. O gráfico abaixo mostra uma queda importante no numero de ocupações, mas mesmo em queda ainda é preocupante a situação dessas famílias que muitas vezes ficam desamparadas.

Brasil — Relação dos Movimentos Socioterritoriais, Número de Ocupações e Número de Famílias — 2000–2011. Fonte: DATALUTA: Banco de Dados de Luta pela Terra, 2012. www.fct.unesp.br/nera

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